Termina hoje o Fórum Econômico Mundial de Davos 2020, centro das atenções do capital e do poder durante toda a semana. Na pequena estação de esqui suíça, autoridades políticas e empresários se reúnem todo ano para dar o tom das discussões que devem nortear os negócios nos próximos 12 meses. O fórum foi criado em 1971 pelo alemão Klaus Schwab, economista que tentava intensificar o diálogo entre empresários americanos e europeus.
Hoje, com a presença de autoridades políticas do mundo inteiro, o objetivo do encontro é discutir os problemas que afligem o planeta e, obviamente, buscar soluções para eles. Este ano, em Davos, as discussões giram, justamente, em torno de como salvar o planeta, a mesma Terra explorada e maltratada à exaustão pelo abuso da atividade econômica predatória, a mesma que trouxe poder e dinheiro aos participantes do fórum.
“As pessoas estão se revoltando, porque acreditam que foram traídas pelas ‘elites’ econômicas, e nossos esforços para manter o aquecimento global em um limite de 1,5°C estão perigosamente lentos”, disse Schwab.
Nunca antes a relação entre degradação ambiental e atividade econômica esteve tão clara. Se, por um lado, o crescimento econômico traz emprego e renda, por outro, deixa marcas que podem elevar o risco para o meio ambiente. Enquanto isso, em outra vertente, a busca de fontes de energia e práticas industriais sustentáveis fomenta um mercado bilionário com horizonte praticamente infinito.
A edição deste ano talvez seja a edição mais importante até agora do fórum. Isso porque o mundo — e não só o Brasil — está crescendo menos. O que poderia ser visto como alívio para o meio ambiente acende um alerta generalizado. Segundo conclusão do relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado no início da semana, o desemprego tende a crescer globalmente. Em 2020, segundo a instituição, o mundo deve ganhar mais 2,5 milhões de desempregados, já que a força de trabalho cresce, mas o mercado não acompanha o ritmo.
O Brasil, representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, teve importantes encontros com investidores, dos quais teria ouvido que a confiança em relação ao país melhorou. Por outro lado, o país, que abriga 60% da Amazônia em seu território, passou o encontro à margem do principal assunto do ano e ganhou destaque pela equivocada frase de Guedes: “Pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”. Ao contrário, é preciso preservar para dividir.
O mundo acaba de entrar em uma década de incerteza financeira, social e econômica sem precedentes. Há pouco espaço para uma mudança de direção, e a sustentabilidade não é mais uma opção. Trata-se, de fato, da única saída para impedir o avanço do desastre e criar oportunidades de crescimento. A pobreza não é o maior inimigo do meio ambiente. Mas está entre os maiores obstáculos para o trabalho, a justiça, a evolução tecnológica, os negócios, a saúde e a geopolítica, outros temas que dominaram a agenda de Davos este ano. Seu combate, no entanto, passa obrigatoriamente pela preservação ambiental.