Cidades

Comunidade se despede de padre Orestes



“Para mim, foi a oportunidade de ter conhecido um santo na terra.” Com essas palavras, a assistente social Isadora Louzeiro, 32 anos, relembra carinhosamente do padre Ghibaudo Orestes, que foi sepultado ontem no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. O líder religioso morreu na segunda-feira, depois de ter passado 10 dias internado em um hospital da Asa Norte. Ele tinha 101 anos e doou 72 deles à igreja católica. A maior parte do seu trabalho foi feita em Brasília.

O religioso era o responsável pela Paróquia Nossa Senhora Consolata, na 913 Norte. Além da atuação local, teve destaque no trabalho que realizava com jovens. Ele foi um dos criadores, e ainda colaborava, com o movimento Segue-me, um projeto para a juventude que é feito em parceria com 40 paróquias do Distrito Federal, e cresceu para outras regiões do país.

“As missas dele eram muito cantadas. No final ele sempre desejava ‘amigos, que todos tenham uma semana ma-ra-vi-lho-sa, com essa pausa. Era uma pessoa muito especial. Muito amoroso, atencioso e dava muitos conselhos”, afirma Roberto Tenório, 72, um dos membros da igreja que acompanhou o trabalho realizado pelo padre Orestes ao longo dos 33 anos em que esteve no local. “Ele tinha um trabalho muito forte com jovens. Todos o chamavam de ‘padreco’, e ele atendia muito bem. Ele aconselhava muitos pais em relação aos filhos e manteve a consciência até o fim”, completa o analista de sistemas aposentado.

O velório do líder católico foi realizado na própria paróquia, no início da manhã de ontem. A celebração foi conduzida pelo arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha. “Ele nos ensinou a importância de estar juntos e caminhar em unidade, a rezar e a viver fraternalmente, sendo um exemplo de pessoa que valorizou a Igreja”, compartilha o cardeal sobre as lições deixadas por Orestes. “Ele era um testemunho de alegria de quem é convidado a ir à casa do Senhor.”

Alegria e comunhão também foram características ressaltadas pela frequentadora da paróquia Janaína Rocha, 43. A funcionária pública conta ter crescido na igreja, tendo recebido os ensinamentos do pároco desde os 13 anos. “Eu brinco que eu sou da escola padre Orestes. Toda minha alegria eu aprendi a ter com ele. Entusiasmo pela vida e a fé foram legados deixados. Ele cumpriu a missão e deixou o bastão para nós agora”, afirma.
“Em seus sermões, ele sempre dizia que é necessário ter amor, justiça, paz e perdão. Também falava que a gente pratica a religião para ser feliz, e se isso não faz feliz, não deve ser praticado”, aponta Janaína, que também participa do grupo Segue-me. 

Trajetória

Janaína ainda destaca que o sotaque estrangeiro do padre ficava carregado em algumas das orientações dadas por ele. Ghibaudo Orestes era um italiano naturalizado brasileiro, que trocou de país em 1951 pelo projeto missionário.

O padre nasceu em 1918 na província de Cuneo, na região de Piemonte, na Itália. Viveu a infância e a juventude no país, e recebeu a ordenação sacerdotal em maio de 1947. Quatro anos depois, veio para o Brasil como missionário da Consolata. Primeiro, atuou em Boa Vista (RR), onde se naturalizou brasileiro e participou da implantação de uma escola na cidade. Em 1954, foi transferido para a cidade de Três de Maio (RS). Na região, dividiu a atuação como padre com a prestação de serviços educacionais.

Orestes chegou a Brasília em 1986 para atuar no Colégio Paulo VI, que pertence ao Instituto Missões Consolata. Na capital federal, assumiu a Paróquia Nossa Senhora da Consolata e foi coordenador pedagógico do Colégio JK. Teve o trabalho marcado pela atuação com jovens, sendo um dos fundadores do movimento Segue-me. No próximo dia 31, completaria 102 anos.

*Estagiária sob supervisão de 
  Fernando Jordão