Cidades

Internado, menino de 11 anos faz sucesso com vídeo dançando em hospital

Após questionamentos diários da família sobre o estado de saúde dele, Jhonata Davi decidiu fazer o registro para mostrar que está bem. Sem nenhum dos rins funcionando, o menino está em tratamento no Hospital da Criança de Brasília (HCB) há dois anos

Um paciente do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB) chamou a atenção nas redes sociais nesta semana ao escolher um modo diferente de mostrar que está se recuperando. Jhonata Davi Ribeiro, 11 anos, está internado na unidade de saúde há duas semanas, devido a um quadro de insuficiência renal crônica, e faz acompanhamento há dois anos.

No domingo (19/1), enquanto a mãe, Valéria Kelly Ribeiro, descansava, o menino gravou um vídeo com um celular, dançando no banheiro do quarto em que está internado. Nas imagens, ele aparece com curativos e acessos vasculares no braço, além de um cateter no abdômen. O registro, postado por ela no Facebook, alcançou 3,4 mil visualizações e teve, até agora, 140 compartilhamentos.

Ao Correio, Jhonata contou que a ideia surgiu depois de receber mensagens diárias de parentes com perguntas sobre o estado de saúde dele. “Estava tomando banho e ouvindo música e pensei nisso. Meus amigos elogiaram e meu tio disse que vou ficar famoso”, comentou. “Gostei do resultado.”



A preocupação com o quadro de Jhonata tem justificativa. Desde que nasceu, nenhum dos rins dele funciona e, aos 9 anos, as sessões de diálise peritonial com 10 horas de duração passaram a fazer parte da rotina. Desde o diagnóstico da insuficiência renal crônica, o menino passou por quatro cirurgias e precisou ficar internado em coma induzido, após um derrame hemorrágico.

Tratamento há dois anos

Jhonata nasceu prematuro e, quando apresentou os primeiros sintomas graves, aos 7 anos, estava com o coração inchado, a pressão alta, além de água no pulmão e inchaço pelo corpo. Depois de ser internado no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib), foi transferido para o Hospital de Base, onde passou por uma cirurgia de emergência para colocação do cateter. 

O governo forneceu a máquina da diálise e envia, mensalmente, os medicamentos necessários para o tratamento. As sessões ocorriam em casa até a mais recente internação de Jhonata no HCB, em decorrência de uma infecção bacteriana. Caso o tratamento de 20 dias com antibióticos não funcione, Jhonata precisará passar por mais uma operação, para troca do cateter atual.

As sessões de diálise acontecem à noite, enquanto o menino dorme. Ao longo do dia, desconectado da máquina, Jhonata tem uma rotina como a de outras crianças e espera deixar a unidade de saúde o quanto antes. Enquanto isso, o menino, que pretende ser jogador de futebol quando crescer, dança e corre pelos corredores do hospital. “A primeira coisa que vou fazer (quando sair) é soltar pipa com meu tio e minhas primas. Depois, vou curtir meu aniversário de 12 anos, no dia 30”, detalhou.

Quadro genético

Nos comentários do Facebook, internautas parabenizam Jhonata pela alegria e pela “lição de vida”: “Muitos não estão no hospital e com saúde e só reclamam da vida...”, disse um dos usuários. “Não reclamem da vida, tem gente que está em uma situação pior que a de vocês e não reclama. Só vivem a vida como é para ser vivida”, afirmou um segundo.

Valéria Kelly contou que o filho havia publicado o vídeo no grupo da família, mas ela decidiu compartilhar o material nas redes sociais. “Esse é meu guerreiro”, escreveu no Facebook. “Logo, logo, estará transplantado e com rim novo. Aí, vamos fazer um show”, completou.

Moradora do P Sul, Valéria Kelly acompanha o dia a dia do filho no hospital. Assim que Jhonata recebeu alta e foi liberado para fazer a diálise em casa, ela descobriu que o marido, Wilbert da Silva, também tinha a doença. 

O quadro, segundo médicos, é genético e, na segunda-feira (20/1), a terceira filha do casal, de 8 anos, deu entrada no HCB com suspeita da mesma enfermidade. A menina, que ainda passa por exames para diagnóstico, divide o quarto com o irmão.

Rifa para passagem aérea

A mãe confessa que o vídeo do filho deu mais otimismo a ela. “(O vídeo) me passou mais fé. Foi um aprendizado para mim. Não é fácil ter três (pacientes) renais em casa. Quando ele teve o AVC (acidente vascular cerebral), (os médicos) acharam que ele não ia sobreviver. E, quando voltou do coma, pensaram que ele ficaria cego. Ele teve de reaprender a comer, mas, hoje, está sem qualquer sequela”, relatou Valéria Kelly.

Assim que Jhonata terminar o tratamento, ele viajará para Porto Alegre (RS), para receber um novo rim. Valéria Kelly deu entrada em um pedido para Tratamento Fora do Domicílio (TFD), disponibilizado pela Secretaria de Saúde, mas tem medo de o filho ser chamado de última hora. Para arcar com os gastos de R$ 2,8 mil, previstos para a passagem, ela está rifando um celular Samsung Galaxy A20. 

“Nenhum dos dois rins dele funciona. É crônico mesmo. Já tive época de desespero, não vou mentir. Mas estou fazendo uma campanha pela internet, com a hashtag Todos Pelo Jhonata. E sempre coloco (a imagem de) um girassol ao lado, para lembrar de ser como essa flor: de costas para o escuro e virada para a luz”, acrescentou Valéria Kelly.

Quem tiver interesse em comprar a rifa, no valor de R$ 10, pode entrar em contato com a família pelo telefone: 61 98129-8713 (Valéria Kelly).