Na avaliação da turismóloga Manuela Picanço, o crescimento do turismo se dá pela localização privilegiada e também pela capacidade de atender a vários segmentos. “Brasília é uma cidade que tem espaços para eventos, desde corporativos até musicais, como shows. A rede hoteleira é bem completa, então, conseguimos atender desde o turismo de eventos, até o cívico, o de lazer, o religioso, o arquitetônico e o político, além de outros. Aqui ainda temos uma malha aérea que facilita o deslocamento e não encarece as passagens”, afirma.
Somente em janeiro, conforme a Inframerica, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Brasília, mais de 1,5 milhão de pessoas devem passar pelo terminal. Para atender à demanda do mês, as companhias aéreas incluíram 554 voos extras.
Em 2019, a média de ocupação do setor hoteleiro foi de 58,7%. A receita com as diárias de hotel movimentou mais de R$ 272 milhões. Para este ano, a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) é de que a ocupação média da rede hoteleira seja 8% maior, comparado com os dois anos anteriores.
Ainda segundo a Inframerica, cerca de 42% dos voos que passam pelo terminal correspondem a conexões com outros estados. Foi em uma dessas paradas que a contadora Sanatyelle Alves, 30 anos, conheceu a capital. “Eu estava indo para outra cidade e passei umas horas em conexão aqui. Aproveitei para passear”, lembra. Agora, a moradora de Teresina (PI) voltou à cidade para visitar uma amiga. “Desta vez, fiz um passeio na Esplanada, na Torre de TV e no Pontão do Lago Sul, que é um dos meus lugares favoritos.”
A amiga é a moradora de Santa Maria e professora de inglês Samia Pinheiro, 36. Para ela, acompanhar as visitas em um tour pela cidade é uma diversão que não enjoa. Porém, Samia acredita que um ônibus para fazer o circuito turístico desde o aeroporto ou da Rodoviária do Plano Piloto facilitaria a vida do turista que só tem algumas horas na capital.
“Acho que aqui o turista fica meio perdido quando desce no aeroporto. Por ser a capital do país, acho que era necessário mais investimento em infraestrutura. Quando o pessoal vem a Brasília, se não tiver um amigo, fica difícil circular pela cidade sem carro. Acho que falta um ônibus de turismo, como aqueles hop on hop off que você pode descer e subir em qualquer ponto turístico. Isso seria bem bacana aqui em Brasília, já que nós temos esse turismo de horas”, pontua.
De acordo com a secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, a pasta tem investido em medidas para manter o turista por mais tempo na capital. “As principais atrações podem ser visitadas de janeiro a janeiro, e nosso clima também permite explorar diferentes tipos de lazer”, afirma. “Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o turismo na cidade, buscando parcerias para tornar a celebração das seis décadas da cidade ainda mais especial”, acrescenta, referindo-se ao aniversário de Brasília, em 21 de abril.
A chefe da pasta ainda ressalta que, em 2019, a secretaria conseguiu reativar os Centros de Atendimento ao Turista (CATs) dos Setores Hoteleiros Sul e Norte, da Rodoviária Interestadual e da Torre Digital, que estavam fechados, além de revitalizar o CAT da Casa de Chá, localizado na Praça dos Três Poderes, “um dos pontos mais visitados da cidade”, diz
Segurança
Para o estudante e morador do Itapoã Samuel Nascimento, 15 anos, o que falta para atrair mais turistas a capital é segurança. Ele e a família costumavam frequentar a Torre de TV aos fins de semana quando criança, mas as programações ficaram mais escassas com o passar do tempo. “A gente vinha, ficava no gramado soltando pipa. Acho que programas de dia são até tranquilos, mas acredito que as pessoas temem vir por receio de serem assaltadas”, opina.Na semana passada, um casal de turistas estrangeiros teve passaportes, celulares, dinheiro e cartões roubados durante um assalto no Setor Hoteleiro Sul. A moça, uma peruana de 24 anos, e o rapaz, um mexicano de 22 anos, foram abordados por quatro homens quando passavam próximo a um bar na Quadra 2. O casal foi agredido e recebeu coronhadas com uma arma de fogo. O caso é investigado pela 5ª Delegacia de Polícia (Área central).
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar do DF possui um Batalhão Turístico em operação que atua no policiamento dos pontos mais visitados da capital. O objetivo é prevenir e reprimir ilícitos contra visitantes. Os policiais também estão capacitados para prestar orientações a turistas e cooperar com demais apoios, proporcionando maior segurança aos que visitam a capital federal.
Ainda segundo a pasta, as regiões administrativas também contam com efetivo diário de viaturas e motocicletas, que podem ser acionadas pelo turista, a qualquer momento. O efetivo é intensificado em períodos festivos e de férias.
Bike e ônibus são opções
Uma alternativa para o turista que tem um tempinho a mais no fim de semana é o Camelo Bike Tour. O funcionário público Graco Melo e sua esposa, Fabiana Rech, perceberam a falta de opções para conhecer a capital de forma rápida e prazerosa. O casal adaptou a ideia de turismo na bike, conhecido em outros países, e trouxe para Brasília, pela primeira vez, no Dia Mundial Sem Carro, em 22 de setembro de 2014.
Brasília havia acabado de revitalizar as ciclovias para receber a Copa Mundo, momento em que o casal percebeu que o negócio cresceria. “Como trabalho na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação, sabia dos investimentos que seriam feitos nas ciclovias do DF. Hoje, temos 543 km, entre ciclofaixas e ciclovias. É a cidade que mais tem infraestrutura neste sentido em todo Brasil”, diz Melo.
A Camelo Bike Tour conta atualmente com oito guias turísticos, além de outros três funcionários, e oferece ao público quatro circuitos, sendo três com três horas de duração e um, mais completo, com cinco horas de pedalada. Os ingressos vão de R$ 225 a R$ 350. A proposta da empresa, agora, é adaptar o passeio para receber também cadeirantes. “Temos hoje uma frota de 20 bicicletas. Estamos comprando mais agora. Fazemos passeios com grupos a partir de duas pessoas, e estamos adaptando um motor para oferecer o passeio também para pessoas com deficiência física”, conta Melo.
Para quem não é adepto da união de esporte e turismo, outra opção é o tradicional passeio pela capital em um ônibus. A empresa City Tour Brasília oferece o serviço em três horários, com saídas do Brasília Shopping, na Asa Norte. O circuito tem duração de três horas. Os ingressos custam R$ 50 por pessoa, e o mínimo para que o ônibus faça o trajeto no Eixo Monumental, passando pela Catedral, Ponte JK e Palácio da Alvorada, é de cinco pessoas.
Gerente do ônibus panorâmico, Marlene Gonçalves afirma que os turistas que procuram o ônibus são sempre pessoas que vêm a Brasília com outros objetivos e têm algumas horas livres para conhecer os monumentos. “As saídas são mais com turistas que vêm a negócios, alguém que vem fazer um concurso, ou resolver problema de visto nas embaixadas. Por isso, não vemos a hora de terminar a revitalização da Torre de TV, porque ela e a Catedral são os pontos mais procurados em Brasília.”