O Detran atribui o crescimento das autuações à intensificação da fiscalização no DF. De acordo com o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do departamento, Francisco Saraiva, a integração entre órgãos de fiscalização, como o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e a Polícia Militar, também impactou no aumento de autuações. “Passamos a fazer operações estratégicas, que exigem maior planejamento. Descobrimos roteiros por onde esses condutores costumam passar, como em eventos que envolvem bebida alcoólica, e montamos blitze”, informa.
Saraiva também considera que, apesar do aumento das infrações, o motorista brasiliense está mais “educado”. “Se analisarmos o número de notificações em relação ao universo de motoristas ou da frota do Distrito Federal, é perceptível que esse número está baixo”, ressalta. Segundo o diretor, a fiscalização será intensificada no restante do ano, principalmente no carnaval. “Teremos blitze inteligentes, com locais e horários. Serão várias operações simultâneas em áreas em que haverá blocos carnavalescos”, frisa.
Durante a operação Carnaval de 2019, o Detran montou pontos de fiscalização estratégicos para coibir motoristas a conduzirem veículos após ingerir bebidas alcoólicas. A ação ocorreu de 2 a 5 de março, período em que a folia foi comemorada no ano passado, e o órgão autuou 266 motoristas na Lei Seca, cerca de 66 condutores por dia.
Acidentes fatais
Além das autuações na Lei Seca, o número de pessoas mortas no trânsito do Distrito Federal cresceu em 2019. Dados preliminares do Detran mostram que ocorreram 279 óbitos no ano passado. Em 2018, o número registrado foi de 277, um aumento de 1% na comparação entre os dois períodos. Além disso, os dados de dezembro estão sendo calculados pelo órgão, e, até o fim de janeiro, a quantidade pode subir.Desde 2017, a capital passou a registrar aumento no número de casos de óbitos no trânsito. Naquele ano, 254 pessoas morreram nas vias brasilienses. Em comparação com 2018, a quantidade de registros cresceu quase 10%. Do total de vítimas de 2017, 44% (121) apresentaram resultado positivo para álcool ou drogas. Entre janeiro e novembro de 2018, 42% (110) das pessoas que perderam a vida em acidentes haviam ingerido entorpecentes. Os dados de 2019 ainda não foram consolidados pelo Detran.
O especialista em mobilidade de sistema e transporte da Estácio Brasília, Artur Carlos de Morais, destaca que a educação é a peça-chave para que o trânsito se mantenha seguro. De acordo com ele, o aumento de autuações está atrelado à intensificação da fiscalização, e a quantidade de mortes se mantém sem grande crescimento justamente por causa desse trabalho. “Com aumento de fiscalização, teremos impacto nas autuações e, consequentemente, redução de pessoas sofrendo e causando acidentes.”
O estudioso alerta que as campanhas educativas no DF precisam acontecer de forma interrupta e não apenas em épocas com alguma data comemorativa. “Os problemas no trânsito acontecem o ano inteiro, por isso, a educação é tão importante”, afirma. Sobre a Lei Seca, Artur comenta que ela atende à necessidade dos órgãos de trânsito brasileiros. “Hoje, a pessoa pode responder criminalmente ou administrativamente. Todas as regras estão muito bem especificadas para a população. Para reduzir as estatísticas de morte, o ideal é investir em fiscalização e campanhas”, reforça.
O que diz a lei
» O Código de Trânsito Brasileiro prevê que dirigir sob influência de álcool é considerado infração gravíssima. Quem for pego com níveis acima de 0,3 mg/litro pode ser preso, ter o veículo retido e a Carteira Nacional de Habilitação suspensa por um ano. A multa para os motoristas que cometerem a infração é de R$ 2.934,70. Em caso de reincidência em até 12 meses, a multa é dobrada e alcança o valor de R$ 5.869,40. Em 2019, a Lei nº 11.705, conhecida como Lei Seca, completou 11 anos.Autuados por alcoolemia
2018 - 21.7272019 - 22.379
Variação – 3%
Mortes no trânsito
2018 – 277
2019 - 279
Variação - 1%
Conscientes a tempo
O alerta dos perigos da alcoolemia chega de diferentes formas. Alguns precisam passar por problemas para depois encerrar a prática. Há seis meses, a estudante Mariana Costa, 22 anos, foi autuada durante uma blitz de madrugada. A jovem estava em um bar da Asa Norte. Ao sair de lá, foi parada em um ponto de fiscalização. “Me neguei a fazer o teste do bafômetro, mas precisei pagar a multa, que é de um valor muito alto”, relatou. Após o episódio, ela diz ter parado de misturar álcool e volante.Na quinta-feira, Mariana estava acompanhada do amigo Gabriel Viana, 22, em um bar da Asa Sul. Agora, ela garante procurar estabelecimentos próximos ao trabalho para facilitar a ida a pé. “A gente sabe que não pode beber e dirigir, mas, às vezes, insistimos. Não pode mesmo. Eu poderia ter me machucado ou machucado alguém. Agora, o carro fica em casa”, reforça.
Para o engenheiro Michel Martins, 33, sair sem carro quando se consome bebida alcoólica gera sensação de tranquilidade. Morador do Guará, ele costuma ir a bares no Plano Piloto, principalmente na Asa Sul, aos fins de semana. No deslocamento, ele opta por transportes por aplicativo, e o automóvel fica na garagem. “Já me arrisquei dirigindo depois de beber, porém, percebi que isso não compensa e parei. Para sair, geralmente, gasto entre R$ 10 e R$ 15 chamando carros particulares.”
Michel acrescenta que, mesmo que a pessoa não tenha bebido tanto, não é possível ter segurança na hora de pegar no volante. “O problema maior não é ser pego na fiscalização, são os acidentes. Mesmo que você não tenha culpa, vai estar errado e sentir que poderia ter evitado”, afirma. De acordo com ele, outro benefício de sair sem carro é não se arriscar em estacionamentos durante a noite.
Colaboraram Ana Clara Avendaño e Marcos Braz (estagiários sob supervisão de Marina Mercante)