“A Rita era uma das pessoas que eu queria me tornar.” Assim, Davi Silas, 35 anos, descreveu a personalidade da irmã, assassinada na terça-feira. O enterro de Rute Paulina da Silva, 41, ocorreu ontem no Cemitério do Gama, onde cerca de 100 pessoas compareceram para prestar as últimas homenagens à dona de casa. Segundo a polícia, o companheiro da vítima, de 40 anos, a matou com facadas no pescoço e no abdômen, em Samambaia.
O velório começou ao meio-dia, com a presença de fiéis da igreja de Rute, colegas de infância e conhecidos da família. Cânticos religiosos tomaram a capela, puxados pelo pastor Tiago Lira, da Assembleia de Deus Manancial da Vida. Ele conhecia Rute havia oito anos: “É um momento difícil, não esperávamos perdê-la dessa forma, mas precisamos manter a esperança em Deus. Sou muito agradecido pela irmã Rute, que nunca se deixou abater pelas dificuldades. Era guerreira, sonhadora, sempre acreditava”.
João Silva, 39, outro irmão de Rute, lamentou o destino dos filhos da dona de casa. “As crianças precisam ser ajudadas. Tem um garoto de 8 anos que viu a mãe ser assassinada e outro de 7 meses que ainda estava amamentando”, disse. Às 15h, começou a cerimônia, que, entre leituras da Bíblia, eram preenchidas com relatos de amigos, sempre destacando a generosidade e o carisma da dona de casa.
Doria Freitas, a ativista do Conselho de Mulheres Cristãs do Brasil, afirmou que o governo precisa intervir para acabar com os feminicídios na capital federal. Além disso, pediu para os presentes mais calma e humanidade com as pessoas de família. “Casos como esses provam que o feminicídio não acontece apenas com quem vai para a farra. A senhora que prestamos homenagem hoje era uma mulher de igreja e vejam o que aconteceu”, ressaltou. O cortejo para o túmulo aconteceu em silêncio. Abalados, alguns familiares não conseguiram acompanhar o corpo.
O crime
Rute é uma das três mulheres assassinadas em Samambaia na terça-feira. Depois de matá-la a facadas, na casa da família, o agressor fugiu. Mesmo ferida, a mulher correu para a rua, gritando por socorro. Vizinhos tentaram ajudá-la, acionaram o Corpo de Bombeiros, mas ela não resistiu. Na madrugada do dia seguinte, o acusado se entregou à 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). O crime ocorreu na Quadra 321 de Samambaia Sul; por isso, a apuração do feminicídio começou na 32ª DP (Samambaia Sul).
* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart
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Total de feminicídios registrados no Distrito Federal em 2019