Depois de se reunirem na Praça do Índio, os manifestantes iniciaram uma passeata e ocuparam as três faixas da W3 Sul. A Polícia Militar do Distrito Federal, que observa a manifestação, conseguiu liberar a passagem de alguns ônibus, pelo menos em alguns momentos.
A manifestação seguiu até a Rodoviária do Plano Piloto, onde o ato se encerrou sem registros de ocorrência.
Moradora do Riacho Fundo 2, Letícia dos Santos, 21 anos, estudante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), em São Sebastião, conta que chega a pegar cinco ônibus por dia, e por isso considera o aumento injusto.
"No serviço que é oferecido pra gente, os ônibus não passam nos horários certos. Nas férias, não há transporte suficiente. Em menos de três anos, já tivemos outros reajustes. Eu, inclusive, tive que sair de um emprego porque teria que pagar mais do meu bolso pela passagem. O vale-transporte não era suficiente. Com esses 50 centavos a mais, todo meu orçamento é alterado", disse.
Ana Christian, 22 anos, estudante de história da Universidade de Brasília (UnB), também protestava. "A tarifa do DF é muito alta e o transporte não tem qualidade alguma. Preciso pegar quatro transportes porque não tem ônibus direto para a universidade. Tem um ou outro. Então, não atende. Eles falam em renovar frota. É importante, mas precisa aumentar. E isso não acontece", disse a moradora do Recanto das Emas.
Louise Oliveira, 23, está desempregada e se pergunta como fará para buscar emprego, diante do aumento da passagem. “Não tem como uma pessoa desempregada pagar a tarifa do DF. Até para procurar emprego, fica difícil. E o aumento não condiz com o serviço oferecido. Os ônibus não funcionam nos horários que deveriam. O metrô, aos domingos, fecha às 19h. Então, pra que aumentou? Só pra encher, de fato, o bolso do patrão? Porque pra gente, que é da periferia, isso só serve para segregar”, disse.
Segundo a jovem, a medida afasta os moradores das periferias do DF da região central de Brasília e contribui para diminuir as oportunidades para pessoas que moram mais afastadas do Plano Piloto. “O preço da tarifa também é uma forma de segregar as periferias para elas não chegarem até o centro. É como se tratassem as pessoas que moram lá só como mão-de-obra, mas que tirando o acesso delas ao centro da cidade. É como se esse lugar não nos pertencesse”, protestou.
Nas redes sociais, o assunto ficou entre os mais comentados. Com a hashtag #550éumassalto, os internautas mostraram a indiganação com o aumento das passagens. Confira alguns tuítes.
GDF diz que aumento é necessário
O protesto ocorre um dia depois de a tarifa ser aumentada em 10%. O reajuste foi feito em todas as modalidades. Viagens de metrô e de ônibus de integração, que custavam R$ 5, passaram para R$ 5,50. Os ônibus de R$ 3,50 agora custam R$ 3,85, e as passagens de R$ 2,50 foram para R$ 2,75.
O Governo do Distrito Federal (GDF) defende que o reajuste é necessário para diminuir o deficit no setor. Segundo o secretário de Transporte e Mobilidade, Valter Casimiro, a dívida do GDF com empresas de ônibus chega a R$ 247 milhões. O GDF afirma ainda que segurou o aumento realmente necessário (16,19%) para evitar maior impacto à população.
Nesta terça-feira, um pouco antes da manifestação, o governador Ibaneis Rocha voltou a defender a necessidade do aumento e a dizer que ele foi abaixo do necessário.
"No ano passado, nós quase não conseguimos fechar as contas do transporte no fim do ano. Tivemos que fazer modificações, tirando de outros lugares para pagar as empresas, caso contrário elas não teriam como pagar o 13º", afirmou Ibaneis, durante a cerimônia para início das obras do Túnel Rodoviário de Taguatinga, na Praça do Relógio.