Correio Braziliense
postado em 14/01/2020 10:30
Um protesto contra o aumento da tarifa de ônibus está marcado para esta terça-feira (14/1) na Praça do Índio (703/704 Sul) a partir das 18h. A mobilização é organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL). Até a última atualização desta reportagem, no evento do ato criado no Facebook, havia mais de 905 pessoas confirmadas, além de 1,9 mil interessadas em participar da ação.O Governo do Distrito Federal (GDF) defende o aumento no valor da tarifa e aponta que o reajuste é necessário para diminuir o deficit em relação ao transporte. Segundo o secretário de Transporte e Mobilidade, Valter Casimiro, a dívida do GDF com empresas de ônibus chega a R$ 247 milhões, e o próprio GDF segurou parte do aumento que realmente seria necessário (16,19%) para evitar maior impacto à população.
Em 2019, a Secretaria de Mobilidade pagou R$ 700 milhões às empresas. O valor contempla a tarifa técnica (parte das passagens complementadas pelo governo) e gratuidade — oferecida a estudantes e pessoas com deficiência. Com os novos preços, a expectativa é de que os cofres públicos tenham economia de R$ 161 milhões por ano. A pasta também pretende implementar melhorias no sistema de transporte público, como a substituição de frota e a compra de ônibus.
Passagem cara, serviço ruim
Descumprimento de horários, superlotação, insegurança, má qualidade de estrutura e até falta de troco. As dificuldades com o transporte público do Distrito Federal são muitas, e as reclamações dos usuários do serviço aumentaram após as passagens ficarem mais caras. A mudança é considerada desproporcional à qualidade do serviço recebido pela população. O Correio esteve na Rodoviária do Plano Piloto para acompanhar o primeiro dia das novas tarifas, e opiniões contrárias foram unânimes: a estrutura oferecida não condiz com o preço.
A mudança tem impacto maior para os que trabalham por conta própria e arcam com todo o valor das passagens. Caso do assessor administrativo Walas Diniz, 45 anos, que utiliza o metrô diariamente para sair de Ceilândia em direção ao Plano Piloto. “Eu acho que o novo preço é incompatível com o transporte. Você tem um aumento, mas não tem benfeitoria para o usuário. Sair de R$ 5 para R$ 5,50 sem melhor qualidade não é justificado”, opina o administrador.
A dona de casa Ivanilde Braga, 50, reclama da falta de compatibilidade do aumento das tarifas com o valor do salário mínimo. “A passagem aumenta, mas o salário, não. E a qualidade do transporte não condiz. Eu até consigo pegar ônibus vazios, mas têm pessoas que reclamam de lotação e é normal o ônibus quebrar no meio do caminho”, diz a moradora do Recanto das Emas.
O gerente de recursos humanos Jhony Eloi, 30, entende a necessidade de o aumento ir de acordo com outros reajustes de serviços, mas afirma que a realidade do transporte dificulta a compreensão em se pagar mais. “Não dá para concordar. O repasse não condiz com a realidade do serviço. Os problemas de horários atrasados e lotação são constantes.”
Além das dificuldades de acesso, falta conforto para quem está dentro dos coletivos ou no metrô. A assistente de projeto Naianna Ramalho, 22, relata que os usuários de ônibus de Sobradinho lidam constantemente com a superlotação. “Os ônibus que saem de Planaltina chegam a Sobradinho lotados. Tem gente que até se senta no chão. E, por não ter ar-condicionado, nessa época mais quente, tem quem passe mal pelo calor dentro do ônibus. A gente já chega exausta ao destino”, critica.
Naianna, que estuda administração em uma faculdade na Asa Sul, chega a utilizar cinco ônibus por dia. Na volta para casa, também há lotação e problemas com insegurança: “É um risco para as mulheres. Às vezes, fico esperando o ônibus até as 23h, e não tem alternativa, além de aguardar na parada. Ir para a rodoviária nesse horário não dá. Eu vou sentada por pegar o ônibus no início da rota. Mas, se pensar em quem trabalha o dia inteiro, vai para a faculdade e ainda volta em pé para casa, é muito cansativo”.
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