Local onde são tomadas as principais decisões do país, onde as leis são elaboradas, cenário de diversas discussões e palco de grande parte das manifestações da sociedade civil. Falar sobre o palácio do Congresso Nacional, sem dúvida, é falar sobre a história do Brasil. Projeto de Oscar Niemeyer e um dos principais pontos turísticos de Brasília, a Casa legislativa é tema da quarta reportagem da série Brasília sexagenária.
O Congresso Nacional teve a primeira sessão no mesmo dia da inauguração da nova capital brasileira, em 21 de abril de 1960. A estrutura abriga o Poder Legislativo, composto pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados. Para o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Barreto, o Congresso Nacional é mais um exemplo da sintonia entre Oscar Niemeyer e Lucio Costa. O arquiteto explica que o urbanista Lucio Costa projetou Brasília em terra plana e, para isso, precisou movimentar o solo cinco vezes, do alto do morro da Praça do Cruzeiro (perto do Memorial JK) até a parte mais baixa atrás da Praça dos Três Poderes.
“A gente percebe isso na muralha do Setor Bancário Sul e na descida na lateral do Congresso, por exemplo. A arquitetura do Oscar Niemeyer casou totalmente com esse plano. Parece algo simples e natural, mas foi impressionante a habilidade do Oscar de fazer com que a Esplanada ficasse bem plana e, quando chegasse ao Congresso, mudasse o nível do solo, fazendo com que a Praça dos Três Poderes se tornasse um grande espetáculo”, analisa.
Frederico Barreto explica que o prédio havia sido desenhado no projeto de Lucio Costa, porém, em um modelo bem mais simples. “No relatório do Plano Piloto, o Lucio Costa fez um desenho onde o Congresso era uma grande placa quadrada que tinha sobre ela uma cúpula e, atrás dessa placa, havia um grande edifício vertical. O Oscar deu o acabamento. Ele espelhou e, ao lado do prédio original, fez um edifício com duas cúpulas, porque é um Congresso bicameral”, destacou o arquiteto.
A servidora pública aposentada Maria Elisa Stracquadanio, 67 anos, teve o prazer de trabalhar no Congresso. Foram 29 anos de rotina diária entre as paredes projetadas por Oscar Niemeyer. A carioca veio para Brasília em 1960, com 13 anos, e ingressou no Senado Federal em 1972. “Foi uma coisa maravilhosa trabalhar naquele lugar. Eu chorei muito quando me aposentei. É um trabalho desgastante, mas muito gratificante”, afirma.
Maria Elisa ressalta que dentro do Congresso teve a oportunidade de acompanhar capítulos marcantes da história do país, como a Assembleia Constituinte, o protesto dos caras-pintadas e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Sobre o ambiente de trabalho, para ela, não podia ter posto melhor. “É como trabalhar dentro de uma obra de arte. Você faz uma maratona também, porque é tudo muito grande, tudo muito longe. Você anda muito para ir de um lugar para o outro”, comenta.
Desafio
O prédio foi construído em sistema misto, com lajes em concreto armado e estrutura metálica. As peças de metal usadas nas torres vieram dos Estados Unidos, uma novidade para os trabalhadores brasileiros, segundo o doutor em arquitetura e urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB) Elcio Gomes.
“Entre os palácios (da cidade), era o maior em área construída e foi o último a iniciar as obras. Além disso, era o que tinha os maiores desafios em termos de construção, porque a estrutura de concreto armado era muito complexa, as cúpulas tinham volumes de difícil execução e a grande plataforma tem estruturas típicas de grandes viadutos”, detalha o especialista.
Elcio afirma que alguns engenheiros chegaram a questionar o sucesso da obra, como o italiano Pier Luigi Nervi, mas o engenheiro pernambucano Joaquim Cardoso respondeu com cálculos primorosos.
As cúpulas trazem referências à tradição acadêmica da construção de parlamentos, como representação do poder. Mas detalhes brasilienses, como a inversão de uma delas, fazem do Congresso Nacional ainda mais único. O que nem todos os moradores da capital sabem é que existem outras diferenças entre as duas cúpulas, além da posição em que foram projetadas. “Poucas pessoas reparam que as torres não estão no centro da plataforma, elas estão mais próximas da cúpula do Senado. Esse deslocamento dá uma impressão de equilíbrio, porque há também uma diferença de tamanho entre elas, devido à própria diferença no número de parlamentares entre as duas Casas. É o chamado equilíbrio assimétrico”, conta Elcio.