Correio Braziliense
postado em 05/01/2020 04:06
Muitos brasilienses defendem que a capital, mesmo com pouca idade, tem comidas típicas e que um prato, parte dessa identidade, é vendido na rodoviária. O pastel da Viçosa é tradição desde o fim da década de 1960. O sabor é conhecido por muitos candangos, mas poucos sabem que o estabelecimento surgiu por causa de um imprevisto, como lembra a proprietária, Patrícia Rosa. “A Viçosa foi fundada pelo meu pai, por acaso. Ele estava em lua de mel e pegaria um ônibus com a minha mãe, mas eles acabaram perdendo o coletivo. Para passar o tempo, os dois comeram um pastel vendido na rodoviária. Meu pai disse para o vendedor que sabia como melhorar aquela comida”, relata. Na visita seguinte do casal de mineiros a Brasília, surgiu a oportunidade de compra do pequeno comércio, hoje referência na cidade.
A pastelaria consolidou-se logo nos primeiros anos da inauguração da rodoviária. “Era uma época da capital muito nova, então não havia tantos processos burocráticos, os negócios abriam com rapidez”, conta Patrícia. Para ela, o sucesso do estabelecimento é explicado por um conjunto de fatores. “Com o tempo, percebemos que a localização era excelente, porque este é o lugar onde a vida acontece. O fluxo de pessoas é grande, os nossos funcionários são respeitosos com os clientes e o produto que vendemos tem qualidade de uma forma acessível.” Mas Patrícia também lembra que há muito a melhorar. “Nem sempre damos conta de oferecer um serviço impecável por conta dos problemas que conhecemos da rodoviária. A segurança e a limpeza, por exemplo, precisam ser mais bem trabalhadas. É uma luta em conjunto com a administração e o governo. Não é simples, porque esse ponto é como se fosse uma cidade dentro do Plano Piloto”, define.
Mesmo com as barreiras para manter um estabelecimento acessível e de qualidade entre as famosas plataformas, a Viçosa tornou-se um símbolo de Brasília. “Nós colecionamos histórias curiosas de pessoas que associam a pastelaria a algo que faz parte da identidade da capital. Um turista dos Estados Unidos veio conhecer os pontos típicos do DF e gravou um vídeo com a gente. Recentemente, um português visitou nosso comércio porque disse ter lido em uma revista sobre a gente”, compartilha Patrícia. A dona do estabelecimento lembra ainda que é comum receber clientes que participaram da construção da capital e têm prazer em passar alguns minutos só admirando a fachada famosa loja. “Tudo isso é muito legal. Mostra que estamos fazendo história com a rodoviária e Brasília.”
Registros históricos
Outro empreendimento que cresceu com a obra sexagenária é a pequena banca Foto União. Criado para registrar retratos 3x4 dos trabalhadores que passavam pelo local, o comércio aproveitou a onda de novos serviços e necessidades de emissão de documentos para se fixar no espaço. “Nós chegamos à rodoviária em 1981. De lá para cá, muita coisa mudou. Os equipamentos mudaram, passamos a trabalhar com cópias e impressões, mas sempre com as dificuldades daqui. É um lugar com banheiros ruins, escadas perigosas, elevador sem funcionar e energia elétrica sendo um problema constante”, relata Joana D’arc, 68 anos, dona da banca.
Ela lembra episódios ruins causados pela falta de manutenção do local de trabalho. “Eu já escorreguei, caí da escada e machuquei a perna. Até hoje, tenho a cicatriz. É uma situação complicada, principalmente para idosos”, lamenta. Do outro lado da balança, estão as conquistas proporcionadas por um ponto tão tradicional. “Apesar das reclamações, tenho um carinho por esse lugar, porque é dele que tiro o sustento da família. Criei cinco filhos com a renda daqui, que agora estão casados, e estamos ajudando os netos. O movimento é muito bom. Quem conhece Brasília conhece a rodoviária, e todos que passam por aqui sabem que nossa banca existe”, diz Joana.
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