As pequenas mãos de João Victor Ribeiro, 11 anos, escrevem histórias que estão perto de se tornarem enormes. Aluno do Centro Educacional 416 de Santa Maria, ele é um dos 30 estudantes do sexto ano selecionados para participar de uma ação da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). A proposta é recriar a obra clássica de Miguel de Cervantes. Crianças de 23 países vão reescrever a aventura de Dom Quixote, incorporando ao enredo a realidade de cada região. No Distrito Federal, a iniciativa é uma parceria da Secretaria de Educação com a Universidade de Alcalá (UAH) — situada na cidade espanhola de Alcalá de Henares, onde nasceu o escritor.
O projeto busca incentivar a leitura e fortalecer sonhos, como o de João, que quer ser médico e diz se inspirar na busca do cavaleiro medieval. “O Dom Quixote era completamente doido, tinha muitas ilusões. Mas ele mostrou que é importante ir atrás dos sonhos”, diz o garoto. Ele está terminando o livro de Cervantes e pretende ler cada vez mais. “Sem a leitura, a gente não é nada. Estou aprendendo muito e fico motivado a escrever também”, conta.
Ana Laura Rodrigues, 12, também começou a tomar gosto pela leitura e pela escrita. “Estou terminando o livro e achando muito legal, sempre dá vontade de ler mais. Vi que Dom Quixote era muito aventureiro, tinha seus devaneios, mas isso até o ajudava. Era divertido viver no mundo dele.” A garota não conta por nada o final da história que está produzindo com os colegas, mas dá dicas. “Vai ficar muito interessante, porque o cavaleiro vai passar por vários pontos de Brasília. A gente nunca imaginou que poderia escrever um livro na escola, então está sendo ótimo”, adianta.
Rafael Callou, chefe da Representação da OEI no Brasil, explica que esta é a primeira vez que a proposta abrange outros países além da Espanha. “Nesta edição, a quinta, a ideia é que cada um dos países que compõem a região ibero-americana tragam um pouco da sua realidade, tendo como base as aventuras do Dom Quixote. Ao final, vamos publicar o livro com um capítulo de cada um dos 23 países que ajudou a produzir a obra”, detalha. A escolha do CED 416, escola que representa o Brasil, aconteceu durante pesquisas da OEI sobre professores que tivessem prática na literatura infantil, para que pudessem ajudar na condução do projeto. Para as próximas edições, a ideia é expandir a outras instituições e estados brasileiros.
Passeios e pesquisas
“O destino vai guiando as nossas coisas melhor do que pudéramos desejar.” A frase é do livro que está sendo estudado pelos alunos e diz muito sobre o processo de produção da obra dos pequenos escritores. Além da oportunidade de conhecer os escritos de Cervantes, as crianças fizeram passeios e pesquisas que acrescentaram ao projeto, como conta Rosângela Idelfonso, vice-diretora da escola. “Percebemos a importância dessa iniciativa, em que estamos representando não só o DF, como o Brasil, e nos sentimos muito motivados e valorizados. Então conseguimos 30 cópias de Dom Quixote com outras instituições, para que todos os alunos pudessem ler, e realizamos dois passeios, um ao ateliê do artista Gil Marcelino, que tem uma coleção de peças na temática da obra, e outro aos principais pontos turísticos de Brasília, para que os pequenos pudessem conhecer melhor a capital e inserir isso no livro deles”, explica Rosângela.
O livro completo, com escritos de todos os 23 países, deve ser finalizado no primeiro bimestre de 2020. Até lá, Rosângela garante que o DF terá seu destaque. “Na história que os alunos estão escrevendo, Dom Quixote vai vir aqui em Brasília atrás de um tesouro, mas existe uma senha e mais detalhes interessantes. A escola está fervilhando por causa do projeto, e os frutos já estão sendo incríveis”, celebra.
Gil Marcelino também comemorou a visita dos garotos ao seu pequeno grande museu. “Minha intenção é que essa visita tenha mostrado que a leitura é tudo e nela a pessoa pode ser o que quiser. Com a arte e a literatura, o mundo de qualquer um se expande. E eu pergunto: quem não é sonhador?”, provocou o artista.
"O Dom Quixote era completamente doido, tinha muitas ilusões.
Mas ele mostrou que é importante ir atrás dos sonhos”
Mas ele mostrou que é importante ir atrás dos sonhos”
João Victor Ribeiro, 11 anos