Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crime premeditado e bárbaro

Perícia inicial do 33º crime de feminicídio do ano mostra que vítima foi golpeada cerca de 30 vezes antes de morrer. Suspeito está sob escolta


Luciana de Melo Ferreira, 49 anos, foi golpeada cerca de 30 vezes até morrer. É isso que apontam as avaliações iniciais da perícia do 33; feminicídio do ano no Distrito Federal. A delegada que investiga o caso, Cláudia Alcântara, suspeita que a vítima tenha sido esfaqueada. A funcionária terceirizada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi encontrada morta na última segunda-feira, dentro do apartamento, no Sudoeste, pela filha.

O crime ocorreu na noite de sábado, às 22h30, e foi planejado, segundo a apuração da 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro). O suspeito, Alan Fabiano Pinto de Jesus ; vigia de 44 anos com quem Luciana havia terminado um namoro em outubro ; chegou ao local duas horas antes da mulher e fez uma tocaia no prédio. Encapuzado e cuidadoso para não deixar digitais, ele inseriu uma senha de abertura da porta do condomínio e entrou.

O homem abordou a vítima em um andar sem câmeras de segurança e a levou para dentro do apartamento, onde eles ficaram cerca de 20 minutos. Depois do crime, Alan fugiu com uma bolsa, para simular um latrocínio ; roubo seguido de morte.

O suspeito não é considerado foragido, devido ao dia do crime. ;O fato ocorreu no sábado. Só tomamos conhecimento na segunda-feira, então não está mais em flagrante. Agora, precisamos representar ao juiz, que precisa decretar a prisão preventiva ou temporária;, explicou a delegada. Segundo apuração do Correio, o vigia está internado no Hospital de Base. Ele deu entrada no Pronto Socorro com ferimentos, mas o motivo das lesões ainda não foi confirmado. A Polícia Civil acompanha o paciente com escolta.

;Ele é uma pessoa extremamente agressiva. Em julho, chegou a quebrar a porta de vidro do prédio. Quatro meses depois, ficou irritado quando a Luciana terminou o relacionamento com ele e tentou jogar o carro em direção a uma árvore, dizendo que preferia matar os dois;, informou a delegada. Luciana só escapou da morte naquele dia de outubro porque pulou do veículo quando percebeu que o ex-companheiro estava acelerando. O homem chegou a ser preso naquele dia. Foi determinado que ele não poderia se aproximar da vítima e usaria uma tornozeleira eletrônica, retirada em dezembro, com aval dela.

;Ela era muito discreta;, descreveu Geraldo Gonçalves, 72, zelador do prédio em que Luciana morava. Apesar de reservada, Luciana comentou sobre Alan para o vigilante. ;Ela me disse que estava com medo dele, mas achei melhor não perguntar o motivo;, explicou Geraldo. O ex foi visto poucas vezes à época em que namoravam. O relacionamento durou cerca de quatro meses. Depois do término, o vigilante reparou que as flores deixadas pelo assassino causavam desconforto na moradora. ;Quando ela as encontrava em cima do carro, jogava fora com raiva;, explicou.

Jaqueline Inocente, 36 anos, moradora do andar de baixo ao apartamento da vítima, relembra da única vez que viu Luciana. ;Ela estava catando os cacos da porta que o vigia quebrou;. Moradores contaram que Alan quebrou o vidro com chutes depois de Luciana não deixá-lo entrar. ;Estava sozinha no apartamento e escutei um barulho forte. Não tive coragem de descer para ver o que era;, relembra Jaqueline. Dias depois, a comissária de bordo recebeu um bilhete escrito a punho de Luciana. ;Sem citar o ex, ela se desculpava na mensagem e explicava que o problema com a porta estava sendo resolvido;, conta.

A última publicação de Luciana no Facebook, horas antes do crime, dizia: ;Que venha 2020!”. Era uma foto antiga da vítima com a amiga e companheira de trabalho Daniella Zaranza. ;Os funcionários do TSE estão muito tristes e perplexos com tanta covardia. A Lu era uma pessoa muito sociável, feliz. Mas, ultimamente, eu sentia algo triste nela;, lamentou Daniella.