Perigo que não devemos ignorar
Ao longo de toda a quinta e a sexta-feira, a matéria mais acessada no site deste Correio foi a que informa sobre a morte de Vamberto Luiz de Castro. O mineiro de 63 anos ficou famoso em outubro passado, após ser curado de um câncer avançado graças a uma técnica que, até então, nunca havia sido testada na América Latina.
Acredito que grande parte do interesse pela reportagem, feita por minha colega Larissa Ricci, se deve ao fato de uma queda em casa ser a provável causa da morte de Vamberto (enquanto escrevo, um laudo que comprovará o motivo do óbito está sendo feito). Certamente, não fui o único a pensar: "Que coisa! Uma pessoa que escapou de uma doença tão grave, quando parecia que nada mais poderia salvá-la, morrer logo depois por conta de uma bobagem, porque caiu dentro de casa".
O problema é que é aí que nos enganamos. Cair em casa não é uma coisa boba. Pelo contrário! Corredores mal iluminados, chinelos e sandálias desgastados, piso escorregadio, tapetes prontos para nos fazer tropeçar são perigosíssimos. Ao vê-los, deveríamos sentir calafrios e nos livrarmos logo dessas ameaças, tão grandes quanto o temido assaltante na rua.
A cara leitora, o caro leitor acham que estou exagerando? Pois vejam estes dados do Boletim Epidemiológico Paulista, divulgados neste ano. Em 2016, em todo o estado de São Paulo, foram registrados 4.227 homicídios. Já o total de quedas fatais foi de 3.361. Assim, essa "bobagem" que é cair já é a terceira causa externa de morte naquele estado. A primeira continua sendo o famigerado trânsito.
E dados nacionais confirmam o perigo que as quedas representam, especialmente para os idosos. Uma pesquisa do Ministério da Saúde que entrevistou 4.174 pessoas com mais de 65 anos no país descobriu que 25% deles já caíram. E, quando não mata, a queda pode gerar uma série de problemas físicos que podem deixar dores e limitar um bocado a vida da pessoa.
No ano passado, a dona Cecília, minha querida mãe, sofreu uma queda no jardim que acabou por fraturar uma vértebra. Foram meses de dor intensa, necessidade de ajuda para se mexer e um imenso exercício de paciência até conseguir voltar a fazer as coisas de que ela mais gosta. Até hoje, embora esteja bem melhor, sofre com as consequências daquela queda, fruto de uma pisada em falso no jardim de casa.
Um dia, quando conversávamos sobre esse dia, ela fez a seguinte reflexão: "O problema da velhice é que nossa cabeça acha que o corpo ainda dá conta de fazermos as coisas que fazíamos antes. Mas temos de lembrar que não somos mais jovens". Ontem, quando comentávamos a morte de Vamberto, ela voltou a me dizer essa frase, uma sábia lição sobre a necessidade de sermos humildes diante das transformações físicas que o tempo nos traz.