Jornal Correio Braziliense

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Adeus com música e emoção

Centenas de pessoas acompanharam ontem, no Campo da Esperança, na Asa Sul, as homenagens ao garoto de 1 ano e 11 meses assassinado pelo pai. Canções de Tim Maia e de Roberto Carlos foram cantadas por familiares e amigos durante a cerimônia

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;E eu gostava tanto de você.; A letra da música de Tim Maia marcou a despedida de Bernardo da Silva Marques Osório. O menino completaria 2 anos em 31 de dezembro, mas foi assassinado pelo pai, o servidor público Paulo Roberto de Caldas Osório, 45. Ontem, cerca de 100 pessoas compareceram ao Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, e prestaram as últimas homenagens ao garoto, morto em 29 de novembro. Durante a cerimônia, apenas a forte chuva e as orações rompiam o silêncio dentro da Capela 10, onde os presentes, sem palavras, olhavam para o pequeno caixão.

O velório de Bernardo começou às 13h. A todo momento, amigos da família chegavam para prestar apoio à mãe do menino, a advogada Tatiana da Silva Marques, 30. Próximo ao caixão, havia fotos da criança e centenas de flores. Emocionados, ela e os parentes decidiram não comentar o caso. ;Precisamos de um espaço nesse momento;, informou o padrinho de Bernardo, que preferiu não se identificar.

Rita Luziete França, 60, trabalhou como babá de Bernardo por 7 meses. Ela se emocionou ao lembrar que viu o menino dar os primeiros passos e começar a falar. ;Cuidei dele a partir dos 3 meses. Fazia tudo o que podia por ele;, contou. A mulher conta que, diariamente, o então bebê ficava com ela em casa, na Vila Telebrasília, ao lado de outras crianças. ;Ele chegava pela manhã e ia embora à tarde. Ele era o meu bebezinho. Corria, brincava. Ainda lembro de ele me chamando de ;Ita;;, recordou.
A última lembrança que Rita tem de Bernardo é de um menino carinhoso e risonho, que encantava a todos. ;Isso é muito triste. Até agora, a ficha não caiu, porém precisamos deixá-lo descansar;, afirmou. A babá ainda comentou que jamais imaginou que Paulo Roberto pudesse colocar o filho em risco. ;Ele era um pai carinhoso. Cuidava dele direitinho. Buscava lá em casa, trocava a fralda, dava comida. Não imaginava que fosse capaz de fazer isso;, ressaltou.

Emoção
Poucos conseguiram conter as lágrimas durante o cortejo de Bernardo até o túmulo. A família recusou transportar o caixão em um veículo do cemitério e fez questão de carregá-lo. Tatiana seguiu à frente e manteve a cabeça baixa por quase todo o trajeto. Apenas no fim do percurso a advogada deixou a emoção tomar conta e recebeu consolo da mãe, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57.
Além de Gostava tanto de você, de Tim Maia, parentes e amigos da família cantaram Como é grande o meu amor por você, de Roberto Carlos. Também rezaram e trocaram palavras de apoio. Pessoas que participavam de outros velórios também pararam para acompanhar o de Bernardo.

Metrô analisa futuro de servidor

Em 2005, Paulo Roberto, pai de Bernardo, foi aprovado no concurso da Companhia do Metropolitano do DF (Metrô/DF). Atualmente, ele estava afastados das funções por força de uma licença psiquiátrica. Em nota oficial, a empresa informou que o acusado recebe o salário por meio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Questionada sobre a possibilidade de o servidor ser exonerado, a companhia ressaltou que ;ainda vai avaliar o caso dele e aguardar o desenrolar do processo criminal;.

Os investigadores da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) devem concluir hoje o inquérito do assassinato de Bernardo. Paulo será acusado de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Desde 2 de dezembro, ele está preso na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), no Complexo da Polícia Civil.

Até sexta-feira, a Vara de Execuções Penais (VEP) decidirá se o acusado será transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda ou para uma ala psiquiátrica da Penitenciária Feminina do DF. O Judiciário aguarda resultado do laudo psiquiátrico feito pelo Instituto de Medicina Legal (IML) para decidir o futuro de Paulo Roberto. O exame deve ficar pronto amanhã.

Em 1992, Paulo foi preso pelo assassinato da própria mãe, Neuza Maria Alves Osório, 45 anos, e cumpriu 10 anos de pena na ala psiquiátrica. Em 5 de dezembro, o VEP desarquivou o processo desse caso para analisar os autos e ter mais embasamento no momento de decidir sobre o cárcere do acusado.Policias militares e bombeiros também acompanharam o sepultamento. Uma ambulância seguiu o cortejo para o caso de alguém precisar de assistência médica. Profissionais de ambas as corporações se emocionaram no enterro. A cerimônia terminou por volta das 17h.