O fundador e coordenador do projeto, Ademir Pereira da Silva, 54 anos, conta que a ideia surgiu em 2011, quando viu a reportagem sobre uma mulher italiana recolhendo frascos de soro usados em hospitais para vender. Com o dinheiro arrecadado, fraldas geriátricas eram compradas e doadas para os necessitados. Na sequência, ele participou de uma ação social em uma cooperativa de reciclagem e viu a separação das garrafinhas pets acontecendo. “Quando vi, me veio a lembrança de querer fazer algo relacionado a reciclados. Eu comecei a pesquisar quem comprava a tampinha, o preço e a quantidade para adquirir uma cadeira de rodas”, explica.
O projeto funciona de forma simples. “Nós recolhemos as tampinhas ou as pessoas entregam nos pontos de coleta e vendemos para a reciclagem. Com o dinheiro, compramos os instrumentos de mobilidade. No site (www.tampamania.com.br) há uma ficha de cadastro social, e, a partir dela, fazemos a triagem e vemos a quem será entregue a cadeira”, resume Ademir. A seleção independe da cidade onde a pessoa mora, e, caso seja constatado que não há condições de comprar, mas que é necessário o uso, a entrega será feita pelo projeto. Já foram distribuídas 350 cadeiras de rodas, seis andadores e cinco pares de muletas. A cada 150 mil tampas doadas, uma cadeira de rodas pode ser comprada. “Eu costumo dizer que uma tampinha pesa menos de dois gramas, mas faz uma diferença grande”, brinca.
Histórias que marcam
“Cada entrega de cadeiras é uma história”, revela Ademir. “Você vê a alegria das pessoas. Em cada lugar que vai, é uma história mais comovente que a outra”, acrescenta. Uma das lembranças que mais marcaram a caminhada de Ademir no Tampamania foi a de uma senhora que ficou paraplégica após uma cirurgia da coluna e precisou da cadeira de rodas, mas não tinha condições financeiras de comprar uma. “Eu me lembro da felicidade dela quando recebeu. Ela virou para mim e falou, ‘Agora eu finalmente posso ir para a igreja”, cita.
De acordo com Ademir, a vida mudou após a iniciativa. “Eu me sinto realizado. Sempre tive essa vontade de amparar as pessoas e sou grato demais a quem tem esse espírito solidário também. Querendo ajudar, você consegue, faz as pessoas mais felizes”, afirma. Para ele, o Tampamania liberta as pessoas: “Eu falo que tira as pessoas de uma prisão domiciliar. Não é a prisão de usar tornozeleira, mas pela falta de oportunidade de locomoção. Você tem família, no entanto, às vezes, não tem uma cadeira, e pode ser uma dificuldade ter que carregar a pessoa. Com uma cadeira, ela consegue ir sozinha para onde quiser”, constata.
Rede de apoio
Foi com a vontade de ajudar o próximo que o casal Edilene Barros Soares de Britto, 59 anos, e Luiz Fernandes de Britto, 76, decidiu começar a juntar tampinhas. A advogada e o professor aposentado explicam que o interesse em coletar os materiais surgiu em caminhadas diárias. Ao passar, todo dia, pela portaria, Edilene começou a perceber que o porteiro recebia constantemente tampinhas dos moradores. “Ele me disse que recolhia para levar até sua cidade, pois lá fazem artesanato com elas. Decidi ajudar, afinal, poderia conseguir mais tampinhas durante a minha caminhada”, destaca.
Enquanto recolhiam tampinhas à beira-mar em uma viagem a João Pessoa (PB), a família encontrou um casal que questionou o motivo da coleta: “Eu expliquei e o casal disse que, no Rio de Janeiro, também pegavam, mas era com o objetivo de ajudar pessoas carentes doando cadeiras de rodas. Minha filha me ajudou a pesquisar mais sobre o assunto e descobri que havia um projeto em Brasília”, relata Edilene. Após isso, Edilene e Luiz começaram a entregar as tampinhas na unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) na 903 Sul, um dos pontos de coleta na capital do Brasil, e desde então, nunca mais pararam.
Luiz ressalta que a coleta das tampinhas acontece a todo momento. “Minha família pega por onde passa. Minhas filhas na faculdade, nós aqui na quadra. Minha esposa mobilizou pessoas que trabalham no salão de beleza, relojoeiro, padaria, mercado e igreja”, conta. Ele brinca: “É tampinha demais. Já virou mania, a gente não pode ver uma”. De acordo com o casal, são coletadas, em média, 30 unidades por dia. “É bom ajudar os outros, principalmente quando você faz sabendo que a pessoa será beneficiada e a gente não conhece. O reconhecimento não é importante”, destaca o professor aposentado.
Além do casal, outras pessoas participam do projeto, como o porteiro Erasmo Carlos Mesquita Rodrigues, 42. “Eu conheci um projeto no Paranoá que recebe essas tampinhas para fazer artesanatos. Comecei a juntar. Aqui no trabalho contribuíram e foi aí que Edilene me apresentou a causa”, recoda. Erasmo revela que resolveu participar da iniciativa após perceber que ajudaria mais pessoas. O que ele não esperava era chamar a atenção com o trabalho voluntário. “O que mudou para mim foram os comentários. ‘O que esse cara tá fazendo no contêiner?’, ‘Você é um louco!’, ‘Para que você quer isso?’. Virou uma brincadeira”, conclui.
*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho
Abrace a causa
Para se tornar colaborador, basta juntar suas tampinhas plásticas e levar até um dos postos de coleta.
Em Brasília:
Faculdade Senac — Brasília
903 Sul Endereço: SEUPS 703/903, lote A. Asa Sul — DF
(61)3217-8821 / (61)3217-8833
Rotary Club — Taguatinga
QS 07, Rua 820, Lote 01, QS 5 — Taguatinga
(61) 3224-5210
Rotary Club Brasília
SCES Tr 3 s/n lt 6
(61) 3226-3770