[FOTO1];Acharam um corpo.; Assim, Tatiana da Silva Marques, 30 anos, mãe de Bernardo da Silva Marques, informou aos familiares que o cadáver encontrado na Bahia poderia ser do filho, de 1 ano de 11 meses. Pouco antes, ela havia recebido uma ligação da Polícia Civil baiana, questionando-a sobre possíveis objetos pessoais e roupas do filho. O cordão de âmbar no pescoço, a calça azul listrada e a blusa de manga longa foram determinantes para a advogada identificar o filho. ;Acredito em Deus. Se Ele levou meu filho é porque o Bernardo tinha um propósito na Terra. Agora ele pode ser um anjo. O meu bebê pode ter vindo para parar o pai, impedir que o Paulo fizesse algo ainda pior no futuro;, disse.
Paulo Roberto de Caldas Osório, 45 anos, pai do menino, está preso no Distrito Federal. Ele confessou o assassinato de Bernardo e disse à polícia que o matou para se vingar da ex-mulher e da ex-sogra. A criança estava desaparecida desde 29 de novembro. Capturado, o servidor público da Companhia do Metropolitano do DF (Metrô/DF) deu detalhes do crime, mas indicou a localização errada do corpo aos investigadores da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) ; ele havia dito que abandonou o cadáver de Bernardo na BR-020, na divisa de Goiás com a Bahia. E o corpo recolhido às 15h de quinta-feira encontrava-se em Palmeiras (BA), às margens da BR-242. O menino estava ao lado de uma cadeirinha.
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Por causa do estado de decomposição, não foi possível confirmar visualmente a identidade. O corpo passou por necropsia no Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Itaberaba (BA) e será submetido a exame de DNA. O laudo deve ficar pronto em até 30 dias. Uma tia-avó de Bernardo viajou nesta sexta-feira (6/12) para identificar o corpo. No entanto, a Polícia Civil do Distrito Federal informou que ela não conseguiu reconhecer o garoto. ;A identificação deverá ser realizada por meio de outros exames, como o DNA. No momento, não é possível afirmar que se trata do cadáver da criança ocultado pelo pai;, explicou a corporação, em nota oficial. O delegado Leandro Ritt, titular da DRS, havia dito na quinta-feira que Bernardo estava morto.
A mãe entrou em estado de choque com a informação do corpo encontrado na Bahia. Tatiana viveu sete dias de terror entre a data do sequestro do filho e a possível confirmação da morte. Nesse tempo, ela manteve a esperança de encontrar o garoto com vida. ;Eu tinha medo de ele ficar jogado por aí, vivendo como se fosse um animal. Pelo menos com essa confirmação ele vai ter um descanso;, disse.
Violência doméstica
Integrante do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), Priscila Brito explica que, além de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver ; crimes pelos quais Paulo deve responder ; o caso configura violência doméstica. Embora não tenha havido agressão física contra a mulher, houve psicológica. ;Além disso, a violência doméstica ocorre quando é contra toda a família, como aconteceu nessa história com a criança. Tanto que quando uma mulher luta por medidas protetivas para afastar o agressor, o filho também é encaminhado para um abrigo;, explicou.
A especialista ressalta que o debate constante sobre feminicídio mostra que a violência não se encerra com o ato e atinge todo o núcleo familiar. Segundo Priscila, além da agressão física, outras são consideradas violência doméstica, como a psicológica, a patrimonial e a verbal. ;Todas elas atingem a família de uma certa forma, não só quem foi alvo daquilo;, analisa.
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Memória
Remédio em suco de uva
Em 29 de novembro, Paulo de Caldas Osório buscou Bernardo, de carro, em uma creche na 906 Sul. A caminho de casa, deu um suco de uva para a criança com três pílulas de remédio de uso controlado, diluído à bebida. À noite, eles chegaram à residência dele, na 712 Sul. Devido à medicação, o menino começou a vomitar. O pai deu um banho na criança e, assim que adormeceu, a colocou dentro do veículo novamente.
Por volta das 20h30, Paulo mandou uma mensagem para a mãe do mesmo dizendo que seguiam rumo à casa dela, no Lago Sul. No entanto, eles estavam a caminho da Bahia. Durante a viagem, o metroviário parou na BR-020 para abastecer o veículo e percebeu que o filho estava morto. À polícia, Paulo Roberto disse que encheu o tanque, seguiu pela mesma rodovia até encontrar uma área rural e jogou o corpo do filho, com a cadeirinha.
Investigadores da Polícia Civil da Bahia, no entanto, localizaram o corpo de uma criança, provavelmente de Bernardo, na BR-242, em Palmeiras (BA) ; a cidade fica depois de Luís Eduardo Magalhães (BA), onde o funcionário público informou ter chegado na madrugada de 29 de novembro.
Na manhã de 30 de novembro, Paulo Roberto seguiu para Salvador (BA), onde chegou à noite. Em 1; de dezembro, voltou pra Brasília. No trajeto, foi abordado pela Polícia Rodoviária Federal, mas conseguiu fugir e escondeu-se em um hotel de Alagoinhas (BA). A abordagem policial ocorreu após uma denúncia feita por Tatiana sobre o desaparecimento do filho e com detalhes do veículo do ex-namorado.
Na manhã de 2 de dezembro, agentes da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) chegaram ao hotel de Alagoinhas e prenderam Paulo no quarto. À polícia, ele disse que o filho ficou em uma área rural na estrada. Horas depois, o servidor chegou à Brasília e confessou o crime aos investigadores. Durante as investigações, a Polícia Civil divulgou que Paulo Osório cometeu outro crime, em 1992. Ele foi condenado por matar a própria mãe a facadas. Cumpriu 10 anos de reclusão em uma ala psiquiátrica no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), no Complexo Penitenciário da Papuda.