Jornal Correio Braziliense

Cidades

Dor e clamor por justiça

Corpo de Sandra Maria Sousa Moraes, 32ª mulher assassinada pela condição de gênero no DF em 2019, foi enterrado ontem, no cemitério de Taguatinga. Acusado pelo crime, irmão da vítima está foragido

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A dor da perda marcou a tarde de ontem para amigos e familiares de Sandra Maria Sousa Moraes, 39 anos, assassinada no último sábado pelo próprio irmão, Danilo Moraes. Cerca de 150 pessoas se reuniram para prestar as últimas homenagens à vítima, no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. Na ocasião, conhecidos gritavam por justiça e cantavam músicas religiosas. Parentes optaram por não fazer o velório, apenas o enterro em caixão fechado.

Trigésima segunda vítima de feminicídio no DF em 2019, Sandra Maria morava com a filha, Samara Moraes, 22, na Rua 1 de Vicente Pires havia mais de seis anos. As duas mantinham um salão na residência. A mãe era cabeleireira e Samara, manicure. Durante o sepultamento, ela precisou ser consolada por parentes. ;Me digam que isso é mentira e que ela não está aí. Por favor, não levem minha mãe;, gritava a jovem enquanto coveiros desciam o caixão.

Batalhadora e alegre: era assim que o namorado da vítima, o músico Osnir de Sousa Tavares, 42, considerava a companheira. O casal estava junto havia um ano e oito meses. ;Ela era minha princesinha, minha vida. Eu moro na Estrutural, mas fazia questão de ir à casa dela todos os dias para vê-la. Para a Sandra, não tinha momento ruim. Estava sempre brincando e sorrindo;, afirmou.

Segundo Osnir, no dia da morte da namorada, ele estranhou o sumiço de Sandra. ;Lembro que ela ficou sem me ligar durante todo o dia, mas imaginei que fosse por conta da correria do salão. Fiquei na expectativa de receber a ligação, mas chegou domingo e nada de notícias;, lembrou. Na mesma noite, o músico foi até a casa da mulher. Porém ninguém atendeu o portão. ;Na segunda-feira, à tarde, eu soube da informação da morte dela por um amigo. Aquilo foi um baque. Não consigo entender o que aconteceu.;

Querida por todos
Lúcia Xavier, 39, é boleira e conta que Sandra costumava encomendar bolos para festas. ;Eram tantos pedidos que acabamos nos tornando muito amigas. Ela sempre queria o bolo com o mesmo recheio, de leite ninho com morango, e ainda me chamava para ir às comemorações;, destacou.

A amiga diz não acreditar na brutalidade do que ocorreu com a cabeleireira. ;Ninguém merece uma morte como essa, em plena flor da idade. Lembro que ela tinha acabado de reformar o salão, colocou um espelho novo, nos chamou para comemorar o espaço e até pediu pizza. São pequenos momentos que vão marcar minha vida para sempre;, lamentou.

Os custos do enterro foram pagos por amigos e parentes da vítima, que se mobilizaram com o caso. A técnica em enfermagem Isabel Pereira, 33, montou uma ;vaquinha; para a arrecadação. ;Fizemos apenas uma ação que a Sandra merecia. Com o dinheiro, conseguimos pagar o terreno, o caixão e as flores. O restante do valor vamos doar para a filha, pois sabemos que ela precisará bastante. Agora, temos de dar força para a Samara;, ressaltou.

Apuração
O mandado de prisão preventiva do acusado de assassinar Sandra, Danilo Moraes, não foi expedido pela Justiça. Na noite de quarta-feira, o delegado à frente do caso, Eder Charneski, da 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires), foi ao Fórum de Águas Claras para pedir o mandado ao juiz. ;O documento foi protocolado e, até a tarde de hoje (ontem), estava no Ministério Público. Após isso, irá para a mesa do juiz;, disse.

Investigadores continuam a analisar câmeras de segurança do local para tentar identificar a dinâmica do crime. Policiais encontraram o corpo de Sandra no Assentamento 26 de Setembro, em Vicente Pires. Segundo a investigação, o irmão dela a teria estrangulado com um cabo de telefone. O suspeito é foragido da Justiça do Maranhão, onde cumpria pena de 30 anos e seis meses no Presídio de Pedrinhas, em São Luís, por estupro, latrocínio e ocultação de cadáver.

No crime contra a irmã, o assassino teria contado com a ajuda do filho da vítima, Brendo Sousa Moraes, 21, para enterrar o corpo. Na quarta-feira, o jovem passou por audiência de custódia e a Justiça concedeu a ele liberdade provisória, pois a juíza entendeu que Brendo não responde pelo feminicídio da mulher e, conforme os depoimentos prestados à 38; DP, só soube do crime após a ação do tio. Em depoimento, o rapaz disse ter sido ameaçado pelo tio.




Saiba onde procurar ajuda



Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
O serviço gratuito da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República serve como disque-denúncia em casos de violência contra a mulher
Telefone: 180

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
Espaços de acolhimento e atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico
Funcionamento: de segunda a
sexta-feira, das 8h às 18h
Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Endereço: Entrequadra
204/205 ; Asa Sul
Telefone: 3207-6172 e Disque 100

Ministério da Mulher
O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos recebe ligações gratuitas por telefone 24h para quem precisar fazer denúncias de violência que acabou de acontecer ou
que está em curso
Telefone: 100

Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
Acompanhamento psicossocial às vítimas, familiares e autores
Locais: Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria,
Sobradinho e Plano Piloto

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
O serviço de acompanhamento de famílias está disponível em todos os batalhões e conta com 22 equipes
Telefones: 3910-1349 / 3910-1350