Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Aventura em Lima

Na quarta-feira, Fernando Jordão, subeditor de Cidades, entrou na redação do Correio embrulhado na bandeira do Flamengo, com gorro peruano preto e vermelho e uma flauta, tocando Bolero, de Ravel, e o Hino do Flamengo, de Lamartine Babo. Visitava, principalmente, as mesas de vascaínos. Era tímido, mas voltou marrento de Lima.

Na verdade, ele não consegue tirar nenhuma nota na flauta. Mas gravou as duas músicas na internet, finge que sopra a flautinha peruana e, com a maior desfaçatez, liga uma máquina que toca o hino do time de coração e o bolero de Ravel.

Fez 26 anos na última sexta-feira, voando rumo a Lima, Peru, onde seria travada a batalha entre River Plate e Flamengo para saber quem seria o campeão da Taça Libertadores. Voou e chegou avoado. Se a vitória do Flamengo foi épica, a sua viagem para Lima e o retorno para o Brasil não ficaram atrás.

Como o jogo estava marcado para Santiago, no Chile, e foi desmarcado e remarcado para Lima, no Peru, em cima da hora, ele teve dificuldades para conseguir passagens. Havia uma opção de Brasília-Madrid-Lima. A espera em Madrid era de apenas 18 horas no aeroporto.

Aos 45 do segundo tempo, ele conseguiu uma passagem São Paulo-Santiago do Chile-Cuzco-Lima. Desde sexta-feira, viveu uma contagem regressiva dramática à espera do jogo. Finalmente, chegou a grande hora.

O River fez um gol aos 13 minutos e não deixava o Flamengo jogar. Aos 40 minutos do segundo tempo, Fernando começou, pela primeira vez, a fazer as contas de quanto teria de pagar pela loucura para ver o Flamengo ser humilhado e ofendido. Doeu muito.

Quando estava perdido nestas especulações, Bruno Henrique passa para Arrascaeta, que cruza para Gabriel. Explosão, gol de empate do Flamengo. Dois minutos depois, novo gol de Gabriel, que decreta a vitória do Fla.

Fernando enlouquece, não bebe nada, mas está embriagado. Sai do estádio, sem rumo, andando em qualquer direção. De repente, topa com uma van, o motorista diz que só faz a corrida se encher o baú.

Fernando bota a cabeça para fora e berra nos pontos o nome do destino: ;Miraflores! Miraflores!”. Logo, a van fica lotada e ele chega a Miraflores. Um caminhão de guincho é transformado em trio elétrico pelos torcedores do Flamengo. O pai chorou ao lembrar que o filho estava no estádio. Foi a maior emoção da minha vida, garante Fernando.

A redação é povoada de flamenguistas e de antiflamenguistas. Quando o Flamengo toma um gol, os anti aplaudem solenemente. O mais terrível dos antiflamenguistas é Roberto, vascaíno doente. Ele tira um sarro mesmo quando o seu time está para cair para a segunda divisão. Quando o Flamengo jogou com o Grêmio, machucaram Arrascaeta, Filipe Luís e Rafinha.

Roberto infernizou os flamenguistas. Com a vitória do Flamengo contra o River, Fernando resolveu dar o troco. Depois da final épica em Lima, gravou um vídeo com a voz de vários peruanos que mandavam a seguinte mensagem, em sotaque espanhol carregado: ;Ch... Roberrrto! Ch.., Roberrrrto!” Roberto tem senso de humor e morreu de rir.