[FOTO1]A paixão pela música do professor e maestro Joel Barbosa, 61 anos, nasceu na infância. Natural de Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro, e criado no subúrbio da cidade, ele passou os primeiros anos da vida observando os pais músicos em uma igreja evangélica. O interesse pela prática surgiu cedo, aos 5 anos, quando falou para a família que queria se especializar. Aos 12, começou com o saxofone, migrou para o saxhorn barítono, regeu orquestras dentro e fora do Brasil e, hoje, leciona na Escola de Música de Brasília (EMB).
Joel conta que começou a analisar a música dentro de casa, com a mãe. ;Ela foi minha primeira professora de percepção musical, que, inclusive, é uma disciplina. Ela me ajudou a desenvolver isso de maneira informal, que é muito importante para a profissão;, ressalta. Quando completou 12 anos, o músico decidiu levar a prática para o resto da vida. ;Meu pai me deu um saxhorn barítono, e eu nunca mais parei de tocar. Entrei na banda do colégio e comecei a fazer apresentações na igreja;, lembra.
Aos 16, Joel recebeu a proposta de um professor da escola para entrar na Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, mas decidiu recusar. ;Além da música, eu sempre sonhei em ser piloto de avião. Fiz concurso para a Escola de Especialista de Aeronáutica (EEAR), passei e vim para Brasília aos 19 anos ser controlador de voo;, afirma. Dois meses após chegar à capital, em março de 1978, a paixão de Joel pela música falou mais alto, e ele se matriculou na Escola de Música de Brasília. Pouco tempo depois, prestou concurso para a unidade, deixou o militarismo e passou a lecionar.
O músico decidiu se especializar na profissão e fez bacharelado em composição, regência e trompete na Universidade de Brasília (UnB), licenciatura em música e mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Agora está prestes a concluir o doutorado, dentro da linha de pesquisa em processo criativo. Além disso, fez um curso na Espanha e conduziu apresentações em Cuba.
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Educação
Pai de três filhos, Joel conta que todos ;passaram; pela música, mas nenhum se especializou. Hoje, a dedicação aos alunos virou fonte de energia. ;Trabalho na escola das 14h às 23h. É algo muito prazeroso, porque tenho muito respeito pelos meus alunos. A gente consegue enxergar potencial neles e puxar aquela linha para que eles mesmos possam enxergar o próprio leque;, comenta. O músico não esconde o orgulho ao contar as realizações dos estudantes. ;Tenho alunos que estão fora do Brasil, que fazem apresentações em vários outros lugares;, afirma.
Além da paixão por lecionar, o carioca afirma que a relação com a música fica cada dia mais forte. ;Você não para. Acordo cantando. Todos os dias tem uma trilha sonora na minha cabeça, uma música que vai definir meu dia. Sempre tem algo quando amanhece;, anima-se. Além do trabalho na escola, o maestro dirige a Orquestra Cristã de Brasília, grupo que faz apresentações pelo país.
Racismo
Joel não acredita em rótulos. Segundo ele, o termo separa as pessoas, e o necessário é que elas estejam unidas. Questionado sobre vivências com o racismo, o homem garante que a história de todos os casos não caberia no jornal e decide contar dois deles. Quando tentava uma bolsa de estudos em Boston, nos Estados Unidos, ele foi ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) se informar sobre o assunto.
;Estava entrando no prédio quando uma pessoa, que não vou citar o nome, me perguntou o que eu queria. Minha vontade era de responder com um bom-dia. Porém, disse que queria informações sobre uma bolsa de estudos para música. Em seguida, ela me disse que eles não davam esse tipo de coisa lá, e eu saí;, lembra. Joel define a situação como constrangedora e acredita que a situação não tinha nada a ver com a bolsa e, sim, com a cor da pele.
O outro caso ocorreu em um estado que ele prefere não nomear. O professor relata que 45 músicos estavam com ele e que os organizadores do evento perguntaram quem era o maestro. ;Estava conversando com duas pessoas, um loiro e outro não muito diferente. Essa pessoa abordou outro grupo, depois seguiu para o nosso e, quando indicaram que eu era o Joel, me olhou de cima abaixo e só se convenceu do meu trabalho quando a orquestra começou;, detalha.
Joel afirma que, geralmente, o nome dele chega antes aos locais, e as pessoas criam uma imagem. ;Quando me apresento, as pessoas se surpreendem. Não estão acostumadas com isso;, diz. Entretanto, o maestro atribui a situação ao país. ;Isso não é questão de ser preto ou negro, é o fato de estar no Brasil. Você tem que correr atrás, porque vão querer te discriminar de alguma maneira;, frisa. O músico ainda ressalta que as situações vividas não o derrubam. ;Isso não tira o meu sono;, finaliza.
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia