Dos cerca de 12,5 milhões de desocupados no Brasil, 3,2 milhões buscam emprego há mais de dois anos e pelo menos 4,7 milhões desistiram, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, com números do terceiro trimestre de 2019. O governo pretende reduzir o contingente com a Carteira Verde e Amarela, que promete criar empregos para a população entre 18 e 29 anos por meio da redução de algumas obrigações das empresas. De acordo com a subprocuradora-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), Edelamare Barbosa Melo, a medida é, na verdade, uma forma de precarização da relação de trabalho.
Para Edelamare, que participou ontem do programa CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília, com a precarização, haverá sacrifícios de direitos trabalhistas, já que o discurso oficial é que é ;melhor ter trabalho do que ter direito e escolha;. ;Realmente, quando a questão é subsistência, você vai escolher trabalhar. Mas quem é que vão ser essas pessoas de 18 a 29 anos que vão aceitar essa forma perversa de contratação?; Segundo ela, negros e pardos são maioria (65,2%) entre os desempregados devido ao processo de exclusão histórica racial.
A subprocuradora-geral ressaltou que as principais formas de reverter a desigualdade no mercado de trabalho são investir em educação, inovação e tecnologia. ;Não vamos mudar isso se aquele que deveria estar dentro da escola não vai à aula por conta do local, da idade, da violência, da etnia, da orientação religiosa;, afirmou.
De acordo com Edelamare, o Brasil não enxerga o racismo estrutural a que está submetido, e o governo não se mostra preocupado com a reparação em relação aos danos históricos cometidos com os indígenas e com a população negra. ;É confortável fechar meu olho e não ver que, a cada 23 minutos, um jovem negro é morto nesse país;, disse. ;Querem dizer que estamos vivendo em um mundo de Alice das Maravilhas, de um admirável mundo novo de uma democracia racial e religiosa que não existe;, avaliou.
Edelamare comentou a intolerância religiosa que afeta diversas vertentes devido ao ;fundamentalismo religioso e à criação de bancadas terrivelmente evangélicas;. ;Tem pessoas que usam a Bíblia e falam de um Cristo que tem uma Bíblia na mão e uma arma na outra, e mata religiosos de matrizes africanas e indígenas. Estão usando a religiosidade para negar direitos, matar e sucumbir;, criticou. ;É tarefa nossa lutar por uma educação que promova a cultura da paz e do respeito à diversidade para que nossos filhos possam viver um mundo melhor.;
*Estagiária sob a supervisão de Marina Mercante