Nesse processo, não importam as produções que elabora no cabelo, porque, nos bastidores, está a essência de uma mulher negra que amadureceu, aprendeu a identificar a maldade no olhar, se tornou resistente e resiliente, mas sem perder o sorriso alegre da menina que costurava roupas para as bonecas. ;Não estou fazendo por mim só, não é a minha imagem. É por ;N; pessoas para quem a gente está abrindo portas e por respeito a todos aqueles que vieram antes de mim;, afirma.
Carioca sem perder o sotaque, Monique veio para Brasília em 2008. Depois de cursar moda, a influenciadora acumulou diversas experiências profissionais. ;Brasília sempre foi uma cidade de poucas oportunidades, principalmente quando se é negra. Trabalhei em shopping, como atendente, como cabeleireira, em igreja, em brechó. Nada dentro da minha área de fato. Foi quando eu tive um start e pensei: ;Eu vou ser a responsável por criar as minhas próprias oportunidades;, lembra.
Há pouco mais de um ano e meio, ela criava a Chance Creative Agency. Como o nome indica, o negócio é uma agência criativa que trabalha com produção de moda e comunicação digital. Mas é, acima de tudo, uma possibilidade. ;Tive a oportunidade de aparecer e ver que as coisas, quando você tem uma chance, fazem a sua vida diferente, seu pensamento diferente. Sua força de vontade é outra. A gente tem que dar chance para as pessoas, pelo menos, aparecerem e mostrarem seu trabalho, porque, até chegar lá, já falaram da nossa pele, do nosso cabelo, de onde moramos, da nossa formação, da nossa família. Várias barreiras para conseguir mostrar que somos capazes e o que de fato somos;, explica. Pela moda, um meio ainda dominado por padrões, estereótipos e preconceitos, Monique quer falar de negros e de pessoas marginalizadas pela sociedade. ;Não adianta eu entrar pela porta da frente se os meus não podem entrar;, acrescenta.
A diretora criativa reconhece que empreender, sobretudo quando se levanta uma bandeira, não é fácil. São passos de formiga. Contudo, a carioca tem colhido resultados. Ao unir a imagem de influenciadora digital ; atrelada a marcas como Havaianas ; com o trabalho da agência, Monique tem dado palestras sobre igualdade racial e empreendedorismo negro, e divulgado o talento de outras pessoas. ;Ainda é muito novo. A gente não teve um manual, ninguém teve. Imagina o negro, que sempre foi colocado em um lugar que teve que aceitar, era o que tinha, à margem. Agora, começamos a entender que podemos ter outros lugares. Entender a nossa identidade, se colocar no mundo como uma pessoa negra, que tem uma outra cultura, outra religião, outra vivência e se posicionando no mercado, porque somos Brasil.;
Conexão
Apesar de um certo receio, da timidez que ela esconde atrás das lentes, e da exposição das redes sociais, Monique encontrou na internet um lugar de fala sem censuras. Da mesma forma que teve uma referência na adolescência, que a ajudou a se reconhecer e a se entender, ela se tornou influência para mais de 26 mil pessoas. Identificação que ultrapassou a cor da pele. ;Sempre ensinei o que é racismo e passei a ter um retorno das pessoas brancas dizendo que aprendem muito comigo. É uma responsabilidade enorme. Mas, tudo o que eu falo no Instagram é o que eu vivo;, conta.
Além do conteúdo voltado para o universo da moda, ao compartilhar a rotina, Monique mostra que o negro pode estar em qualquer lugar. ;Na maioria das vezes, eu era a única negra em lugares de Brasília. E a gente não pode mais estar sozinho. Questiono as pessoas: ;olha ao seu redor, você vê algum negro? Você não acha estranho?;. Então, entendo o lugar do negro de estar em um lugar onde só tem branco e entendo o lugar do branco quando ele para e pensa: ;não tem negros aqui;;, afirma. A empreendedora sabe que as problemáticas existem e precisam ser resolvidas. ;Não dá mais para jogar para debaixo do tapete.;
A postura de Monique nas redes, unindo moda, política e empreendedorismo, chamou a atenção de uma grande marca de produtos para cabelos. Só de lembrar como tudo aconteceu, a influenciadora logo se emociona. ;Costumo dizer que existe a Monique antes da Pantene e a depois da Pantene;, define. Ela foi convidada para a campanha de uma nova linha de produtos para cabelo crespo. Foram quatro dias de gravação ao lado de outras mulheres negras, entre elas, a atriz Sheron Menezes. ;Estava travada, com o pé atrás de como iriam me aceitar, como iriam aceitar meu cabelo, que na época estava curto. Vi o quanto a gente se autossabota, não no nosso potencial e não porque a gente não confia na gente, mas porque a sociedade impõe tanto isso;, diz.
A experiência desnudou o olhar da influenciadora e revelou a mulher negra que Monique não enxergava. Pela primeira vez, ela se viu ao lado de outras como ela, sendo tratada com cuidado e atenção. ;Foi surpreendente como eu me senti importante. Ali minha cabeça mudou. Abriu meus olhos para um mundo que eu jamais tinha visto. As pessoas não te olhavam diferente por ser negra, porque tinha outras negras. Pude me reconhecer como eu sou. Essa chance todo mundo tem que ter.;
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia