Jornal Correio Braziliense

Cidades

Múltiplas faces de Brasília

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Debater Brasília é um desafio. Com seus 59 anos, a cidade ainda é nova, recebe pessoas e culturas de diferentes lugares do país e apresenta problemas e potencialidades de uma grande metrópole que se expandiu para além do planejamento inicial. A desigualdade, para especialistas, fragmenta ainda mais a discussão. Quem vive fora do Plano Piloto reclama que a capital não é aquela antes idealizada como um sonho e pede mudanças, como Ágata Carvalho, 18 anos, moradora de Vicente Pires.

;Sinto que as regiões administrativas são deixadas de lado nas políticas públicas. Várias cidades ficam sem investimentos e precisam ter mais recursos, principalmente nas localidades com mais comércios, como Taguatinga Centro, onde trabalho. Lá, não têm calçadas boas para pedestres, o transporte público precisa melhorar muito, e a saúde é precária;, considera a jovem.

Esses e outros diversos temas da Brasília ideal e real são discutidos em uma publicação que será lançada hoje. O livro Território e Sociedade: as múltiplas faces da Brasília metropolitana, da Editora UnB, reúne trabalhos multidisciplinares de professores da Universidade de Brasília (UnB), em diferentes áreas, para debater e apresentar novas visões sobre o Distrito Federal. Organizada sob a liderança de Aldo Paviani, geógrafo e professor emérito da UnB, a obra integra a Coleção Brasília, que conta com outras nove coleções.

Para Aldo, os escritos são importantes para a construção de políticas públicas que diminuam os gargalos. ;Temos mais de 300 mil pessoas desempregadas no DF, e não é culpa de um governo específico, é um número que sempre cresceu. Também levamos em consideração que o Plano Piloto retém 43% das oportunidades de emprego, com apenas 7% da população total da capital;, analisa.

Além dessa centralização de oportunidades no Plano Piloto, é difícil administrar o fluxo de pessoas que vêm de fora do DF. ;Temos 12 municípios que as pessoas chamam de Entorno. Os moradores de lá trabalham aqui, compram aqui, vão aos hospitais daqui. São 130 mil pessoas, todos os dias, fazendo essa rota, então é importante analisar a metrópole de Brasília como um todo.;

É fácil encontrar exemplos que se encaixam nas falas do pesquisador. Tatiane Dantas, 23 anos, vive em Luziânia (GO) e acredita que a capital do país precisa ser analisada e repensada em diversos aspectos. ;Percorro uma distância de 140 km diariamente para ir ao trabalho e voltar para casa. Para piorar, o transporte público é precário, o que dificulta muito. Mas não temos opções, por causa dessa centralização de empregos;, diz a consultora de RH.

Um dos organizadores do livro, Sérgio Jatobá, docente de arquitetura, diz que a obra leva em conta esses gritos da sociedade para buscar novas discussões e ações. ;O livro lembra o discurso utópico e bonito do começo de Brasília, de cidade unitária, mas observa que a realidade se mostra multifacetada e fragmentada. Ou seja, é algo que se dispersa. Então, temos que construir políticas que não se dispersam, mantendo as identidades de cada local, com um governo comprometido a atender cada um na sua necessidade e uma sociedade comprometida a reivindicar suas necessidades.;

O livro tem ainda a proposta de levar o conhecimento acadêmico para fora dos muros da universidade, como explica Leides Moura, doutora em ciência da saúde e professora da UnB. ;Isso foi algo original e inédito, de não trabalhar uma obra a partir só dos nossos conhecimentos baseados em evidências acadêmicas, mas dialogando com pessoas. É uma pesquisa de muitas mãos, com geógrafos, demógrafos, historiadores, enfermeiros, urbanistas, economistas e mais;, conclui Leides, uma dos organizadores do livro.




Lançamento

Território e Sociedade: as múltiplas faces da Brasília metropolitana

; 14 de novembro (quinta-feira)
; 15h30
; Auditório da Reitoria da UnB