Após derrota do PT na corrida para o Palácio do Buriti em 2014 e em 2018, a deputada distrital Arlete Sampaio acredita que a nova direção do PT terá condições de retomar o espaço político em Brasília ; a Executiva regional será trocada em dezembro. Em entrevista concedida ao programa CB. Poder, parceria do Correio com a TV Brasília, na tarde de ontem, a parlamentar teceu críticas e elogios à gestão do governador Ibaneis Rocha (MDB) e garantiu não ser uma ;oposição cega; ao Executivo local.
A distrital descreveu a saída do ex-presidente Lula da prisão na última sexta-feira como uma ;mudança de humor; para os petistas. Além disso, reforçou que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi um golpe que alavancou a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com a parlamentar, a campanha de 2018 foi ;deformada por fake news;. Arlete reconheceu que o PT errou em vários momentos e deixou de trabalhar politicamente, mas que, a partir de agora, tentará emplacar a ideia de uma esquerda unificada. Arlete também faz parte da CPI do Feminicídio, instalada na Câmara Legislativa na semana passada.
A saída do Lula da prisão dá mais força para a oposição?
A primeira coisa é que muda o nosso humor. Estamos muito mais felizes do que alguns dias antes. Porém, agora é hora de parar e de fazer uma reflexão de qual deve ser nossa estratégia daqui para a frente. O Lula sempre vai reforçar a possibilidade da oposição e de movimentos sociais se mobilizarem. Porém, ainda não discutimos. Vamos fazer isso no Congresso Nacional dos Trabalhadores, em 21, 22 e 23 deste mês, que será o espaço ideal para essas estratégias.
A esquerda falhou na eleição do presidente Bolsonaro?
Claro que, se a esquerda estivesse toda unida, teria sido diferente. Porém, não foi só isso. A vitória do Bolsonaro baseou-se em uma campanha acirrada da desconstrução da política. E de apoio do seguimento neopentecostal, que repercutiu as fake news. Inventaram uma série de histórias, como mamadeira de piroca e kit gay. Basearam todo o discurso deles em duas coisas: o PT destruiu a economia brasileira e quer acabar com a família. Ambos não são verdade, porém, foi a partir dessas narrativas que conseguiram alavancar a campanha do Bolsonaro, que não foi às televisões e não expôs seus programas de governo.
Qual é a estratégia do PT para reconquistar espaço em Brasília?
Sem dúvida, a última eleição teve o pior resultado da história do PT. Isso reflete toda a campanha anti-PT que foi feita, como também erro nosso. Se tivéssemos tido um governo Agnelo exitoso do ponto de vista não só das ações, como também da própria imagem do governador, poderíamos ter um resultado diferente. Tenho certeza, sem dúvida alguma, de que o governo do Agnelo Queiroz (PT) fez muitas coisas importantes, muito mais do que o governo que o sucedeu, entretanto, tivemos um resultado muito ruim. Além disso, tivemos um segundo semestre desastroso e, com isso, despencou a popularidade do governador, e ele não conseguiu sequer ir ao segundo turno. Ainda por cima, houve a queixa de corrupção, que não sei se houve, mas a Justiça está aí para avaliar essa situação.
O PT está mais aberto para alianças?
Com a nova direção que o partido acabou de construir, vamos ter condição de tomar o espaço político do PT em Brasília. Queremos ter uma relação muito próxima e cuidadosa com todos os partidos de esquerda. Queremos criar uma unidade, não necessariamente encabeçada pelo PT. Acho que a sigla está mais madura, e temos de fazer essa discussão com muita tranquilidade. Ainda é o maior partido da esquerda no DF, mas queremos analisar todas as hipóteses e ver quem tem mais condições de entrar nessa disputa e ganhar.
Como está a relação do PT com o governo Ibaneis?
Aprovamos em congresso que o PT é de oposição ao governo Ibaneis, mas não somos cegos, e, sim, propositivos. O que é bom para a cidade, apoiamos o governo. Às vezes, chegam projetos muito ruins (na Câmara Legislativa), discutimos e conseguimos melhorar. Porém, temos coisas que não concordamos, como a privatização de empresas públicas. Além disso, somos contra a criação do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges), porque não concordamos com a divisão da Saúde em dois órgãos, sendo que a lei que criou o Sistema Único da Saúde (SUS) prevê comando único. O que não aceitarmos, vamos bater firme contra o governo.
O que o governador tem feito de positivo?
A criação da Secretaria de Governo. Do ponto de vista das pequenas obras da cidade, tem melhorado muito. Penso que a cidade está mais arrumada e com menos buracos. É algo inovador e positivo. Porém, tem muito a ver com o secretário José Humberto Pires, que é um grande gestor e que está ajudando o governador. Mas tem muitas áreas críticas, como a Saúde, que nada avançou. A ampliação das equipes da família não aconteceram, e não sabemos se o Iges está realmente fazendo algo positivo para a cidade. Estamos acompanhando e esperando virar o ano para saber se tem algo de concreto para trazer à Câmara Legislativa e dizer se foi positivo.
Como vai funcionar a CPI do Feminicídio na Câmara Legislativa?
Após 55 dias da solicitação, conseguimos instalar a CPI do Feminicídio na terça-feira da semana passada. Ela vai avaliar todos os casos e indicar se os serviços públicos estão preparados para acolher todas as mulheres. Queremos escutar os secretários da área de segurança e começamos a fazer reuniões com a Polícia Civil. A CPI deve durar 180 dias e, com auxílio da equipe técnica, vamos entender o porquê de o homem matar a mulher. Além disso, vamos analisar os programas existentes, como o Provid, da Polícia Militar, que acompanha vítimas com medidas protetivas, e sugerir melhoras. Nesse aspecto, o governo precisa ser parceiro.