Jornal Correio Braziliense

Cidades

Primeiro dia passa, mas tensão fica

Após as provas de domingo, estudantes falam da rotina de estudos e da expectativa pela aprovação em universidades federais

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Caneta preta no bolso e o preparo de meses com a cara nos livros. Assim chegavam os estudantes aos locais designados para o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No Distrito Federal, 95.862 pessoas se inscreveram, a maioria (57,2%), jovens de até 20 anos. Ontem, eles responderam questões de Línguas, Ciências Humanas e fizeram a Redação. No próximo domingo acontece o segundo dia de avaliação com conteúdos de matemática e ciências da natureza (veja Saiba Mais).

Os portões abriram às 12h, mas teve gente que preferiu se adiantar. A estudante Luiza Meireles, 19 anos, foi uma delas. Ela chegou na Upis, faculdade na Asa Sul, por volta das 11h30. "Vim antes para não correr o risco de chegar atrasada. Vindo mais cedo, eu cheguei mais tranquila. Ainda estou ansiosa, mas espero que eu passe", diz a jovem, que quer cursar medicina.

O curso também é a escolha do vendedor Lucas Nunes, 19 anos, que faz a prova pela quarta vez consecutiva. Ele sabe que o caminho para chegar na Universidade de Brasília (UnB) não é fácil. "Ser médico é um sonho de muito tempo. Vi minha bisavó morrer no hospital por negligência. Esse episódio ficou em minha mente e me gerou uma revolta", afirma.

Na busca pela aprovação, Lucas adotou uma rotina intensa de estudo durante um ano. "Geralmente vou para o trabalho às 9h, mas, para conseguir estudar, passei a acordar às 6h", explica. "Estudei alguns temas que caíram, como racismo e homofobia. Sabia que assuntos como esses entrariam. Mas não gostei do tema da redação. Esperava algo de política ou movimento feminista", destaca.


O Enem pode ser usado para entrar em universidades federais, mas também para conseguir descontos na mensalidade de faculdades privadas. Pensando nisso, Onofra Casemiro da Silva, 57 anos, veio de São Paulo fazer a prova em Brasília. Quando fez a inscrição, ela morava no DF, mas precisou se mudar nos últimos dias. "Eu tenho muita vontade de cursar pedagogia, mas não tenho condições de pagar uma faculdade, então vim tentar uma bolsa", conta. A preparação também não foi fácil. "Eu terminei o EJA (Educação de Jovens e Adultos) agora, e peguei livros emprestados para estudar o conteúdo", revela Onofra.

Isabella Helen Martins, 22 anos, está no segundo semestre do curso de nutrição no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), e fez a prova para conseguir um desconto na mensalidade. Durante seis meses, ela intensificou a rotina de estudos, com apostilas e videoaulas. "Tenho boas expectativas. As questões exigem interpretação, mas é só se concentrar e ler com calma", analisa.

Apoio familiar

Enquanto nas salas, os jovens se concentravam para responder às questões, do lado de fora, pais dos estudantes aguardavam ansiosos. Marcelle Sousa Petti, 16 anos, fez o Enem pela primeira vez, como treineira. "Eu quero cursar medicina ou biologia. Ano que vem, vou fazer a prova para valer;, adianta. A garota quer usar a nota para tentar vagas em universidades de outros estados, ou até mesmo fora do Brasil. O pai da jovem, o cirurgião dentista Marcelo Pereira Petti, 57 anos, confessa que está otimista com o resultado. "A gente sempre fica meio nervoso por eles, mas estamos confiantes", garante.


A motorista de aplicativo Marta Soares Andrade, 50 anos, esperou o filho até o final da prova. "Vou ficar torcendo por ele, mas estou bem tranquila", diz. A doméstica Maria de Lourdes Barboza, 55 anos, também aguardou do lado de fora a filha concluir a avaliação. A garota já faz faculdade, porém tenta uma bolsa. "Estou na torcida, mas ela está bem calma. Estamos confiantes", destaca.

Conteúdo

Sonhando com o ingresso na Faculdade de Direito da UnB, a estudante do Centro Educacional do Lago Norte (Cedlan) Tainara Xavier, 18 anos, prestou Enem ontem, depois de três anos fazendo a prova como treineira. Nos meses de preparação, pegou firme nos livros, estudando quatro horas por dia e fazendo cursinho preparatório. ;Tive a ajuda de vários professores da minha escola. Eles trouxeram conteúdos pertinentes e elaboraram simulados;. Otimista, ela acredita que conseguirá a aprovação.

Contudo, Tainara considera que alguns conteúdos deveriam ter sido mais explorados. ;Em sala de aula, os professores ensinaram questões de geopolítica, história do Brasil e escolas literárias. Senti falta disso. Havia muitos textos e isso ficou cansativo;, admite. Na redação, ela conta que esperava por temas como saúde, empreendedorismo e educação.



Daniele Farias, 17 anos, esperou até o último momento para levar a prova e corrigir o gabarito em casa. A adolescente está esperançosa em entrar em Engenharia Química na UnB com a nota do Enem. ;Meus amigos me passaram videoaulas, simulados e orientações de como fazer a redação. Isso me ajudou e deu discernimento na hora de redigir o texto;, assegura.

*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho



Saiba mais
Veja a matéria completa com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na página 5. O segundo dia de Enem acontece em 10 de novembro. Os cadernos trazem as provas de Matemática e Ciências da Natureza. Os locais do exame serão os mesmos. Os portões abrem às 12h e fecham às 13h. A aplicação começa às 13h30 vai até 19h.