Embora o Dia Nacional da Consciência Negra seja celebrado apenas no fim do mês, neste ano, entidades civis e sociais, Câmara Legislativa e Governo do Distrito Federal unem-se para o Novembro Negro. Ao longo das próximas semanas, uma série de eventos destaca as questões raciais. Estão previstos debates, palestras, shows e rodas de conversa (Veja Agenda).
Ontem, a Câmara Legislativa (CLDF) organizou uma roda de candomblé na Praça do Servidor. O momento, aberto ao público, teve louvação, música de atabaque e danças. O sacerdote Adriano Fiuza explica que o ato religioso apresentado, conhecido como ;siré; (lê-se xirê), teve como objetivo quebrar a intolerância religiosa. ;Nossos cantos e danças pedem proteção, paz e respeito ao próximo, bandeiras que o candomblé defende.;
Presidente do Instituto Cultural e Educacional Luca Branca (Inclua), ele ressalta a importância do mês na luta contra o preconceito. ;Estamos num cenário extremamente preocupante de políticas públicas em prol do povo negro, lutando contra o racismo religioso. Não queremos mais ser tolerados, queremos ser respeitados.; O terreiro do Inclua funciona no Paranoá e há quatro anos oferece cursos e palestras. A partir de janeiro, o calendário prevê oficinas de maracatu.
Um dos objetivos do Novembro Negro é construir uma agenda permanente de enfrentamento ao racismo, através da criação de um fórum permanente para reuniões mensais em 2020. O deputado distrital Fábio Félix (PSol) encabeça o movimento e protocolou um projeto de lei para criar o Conselho Distrital de Promoção da Igualdade Racial, prevendo um fundo orçamentário específico para a causa. ;Não tem como termos promoção da igualdade racial sem orçamento;, defende.
Em agosto, a CLDF instituiu o Fórum da Negritude, reunindo movimentos sociais para debate de pautas. ;O nosso país foi dos últimos a abolir a escravidão, e fez isso de forma frágil, desigual e inacabada. O povo negro nunca foi incluído nas políticas públicas;, afirma o parlamentar. ;O Novembro Negro é uma marca importante e fundamental de mobilização para que a população do DF entenda o tamanho da desigualdade;, conclui.
Membro do fórum e uma das organizadoras do movimento, a assistente social Danielle Sanches, 33 anos, explica que o calendário do mês busca levar a pauta a todo o DF de forma ampla. ;Havia uma grande dificuldade para mobilizar as entidades. Só tinha atividade no dia 20, e de forma pontual, nas escolas, por exemplo. Queremos fazer algo maior;, declara.
Danielle faz parte do candomblé e, no terreiro que frequenta, é mais conhecida como Nakota Mutaledi. ;Queremos que o dia 20 seja feriado, como é em 20 estados. Queremos garantir como data de luta;, afirma. Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou a década internacional afrodescendente. A meta é que, até 2024, sejam promovidos respeito e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais da população negra. ;Estamos na década do afrodescendente e nunca tivemos ações assim (como o Novembro Negro) no DF. A gente quer fortalecer e fazer que seja permanente. Queremos que entre no calendário oficial local;, declara Danielle.
Resistência
Dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios de 2018 (Pdad), realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mostram que 10% da população é autodeclarada negra. Isso corresponde a 289,7 mil pessoas. Segundo o estudo, 48% se considera parda (1,37 milhão); 41%, branca (1,17 milhão); e 1%, amarela (35 mil). Desse modo, somando-se negros e pardos, têm-se a maioria dos moradores da capital.
Em Ceilândia, o quilombo urbano Casa Akotirene é um espaço de encontro e reconhecimento, funcionando como ponto de cultura e diálogos políticos de corpos negros, como explica a coordenadora do local, Joice Marques. ;A casa promove sarau cultural, priorizando artistas locais. Realizamos rodas de conversa com frequência e temos agenda da semana com atividades gratuitas;, ressalta.
A instituição participa da programação do mês, abrindo as portas para cinedebates a partir do trabalho de cineastas afrodescendentes. Joice destaca a importância dos eventos, não para comemorar, mas para luta e resistência. ;Além de reafirmar nossa luta histórica pelo direito de existir em um sistema racista e hegemônico, onde um só povo é pertencente de direitos.;
Nas escolas
A Secretaria de Justiça e Cidadania também participa dos eventos do mês. O subsecretário de Direitos Humanos e da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, detalha que a pasta tem ido a escolas da rede pública com palestras sobre racismo religioso e direitos humanos. Durante o mês, haverá também feiras de artesanato de empreendedores negros e oficinas de turbante. ;Também faremos painéis para discutir a formação da autoestima negra. Falaremos da religiosidade e de diferentes formas de manipulação do cabelo crespo;, explica o subsecretário.
Ele lembra que o racismo é crime e precisa ser combatido. ;É importante mostrar que essa é uma população invisibilizada, mas não invisível.; Juvenal reforça a importância de se falar da história negra nas escolas, não apenas do período da escravidão, mas da África também. ;Toda menina quer ser princesa, mas a criança preta tem dificuldade de se reconhecer assim, porque nos nossos livros, a princesa normalmente é loira de olhos claros. Nós somos a maioria da população, mas nesses espaços de poder, não estamos representados;, critica.
20 de Novembro
A data foi escolhida, em 2003, como Dia Nacional da Consciência Negra. No mesmo dia, em 1695, morria o pernambucano Zumbi. Um negro que nasceu livre, foi escravizado, fugiu e tornou-se líder do Quilombo dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência no período da escravidão. O local, em Alagoas, abrigou uma população de mais de 20 mil pessoas.
Agenda
Ao longo de todo o mês, debates, palestras e eventos culturais celebram a identidade e a cultura do povo negro.
Novembro
Dia 1;
Às 17h
- 1; Roda de Candomblé da Câmara Legislativa do Distrito Federal
- Praça do Servidor da CLDF
Das 9h às 12 e das 14 às 17h
- Oficina de ações educativas em relações raciais
- Centro Educacional Asa Norte (CEAN)
Dias 1;, 2 e 3
Das 9h à 0h
- Festival de Cantoras Negras Yalodê
- Museu Nacional
Dia 2
14h
- Cinedebate com a jornalista e cineasta angolana Marisol Kadiegi ; Documentário xinguilamento ; A força dos ancestrais
- Tumba Nzo Jimona dia Nzambi, Águas Lindas
Dia 7
19h
- Roda de conversa sobre negros na política, com a participação de lideranças negras
- Casa da Cultura da América Latina (CAL), Setor Comercial Sul
Dias 7 e 8
Das 7h às 17h
- Feira de artesanato de afroempreendedores
- Anexo do Palácio do Buriti
Dia 9
Das 9 às 16h
- Pretas no Topo ; 1; Evento de afroempreendedorismo e Empoderamento Feminino Negro de Planaltina
- Complexo Cultural de Planaltina
Dia 11
10h
- Cerimônia de posse do Conselho Distrital de Diversidade Religiosa
- Salão Nobre do Palácio do Buriti
Dias 12 e 13
10h
- 1; Encontro Distrital de Boas Práticas em Políticas de Promoção da Igualdade Racial
- Instituto Federal de Brasília, câmpus Asa Norte
Dias 16 e 17
Das 8h às 18h
- 4; Entardecer dos Ojás
- Complexo Cultural de Planaltina
16h
- Festival Favela Sounds
- Local a definir
Dia 18
19h
- Palestra Direito Antidiscriminatório, Crimes Raciais e Violência Doméstica
- Mezanino da OAB/DF, SEPN 516, Bloco B, Lote 7, Asa Norte
Dia 19
Das 14h às 19h
- Seminário Narrativas da Presença Negra na História do DF
- Sala de Comissões Câmara Legislativa do DF
15h
- Roda de Conversa e Autocuidado e Solidão da Mulher Negra, com a Coletiva Pretinhas
- Casa da Cultura da América Latina (CAL), Setor Comercial Sul
Dia 20
19h
- Sessão solene do Dia da Consciência Negra
- Plenário da Câmara Legislativa do DF
De 25 a 29
- Exposição Reintegração de Posse ; Narrativas da Presença Negra na História do DF
- Foyer do Plenário da Câmara Legislativa do DF
Dia 27
Das 9h às 12h e das 14 às 17h
- Oficina de ações educativas em relações raciais, promovida pela Secretaria de Justiça e Cidadania
- Unidade de Internação Brazlândia
Dia 28
18h
- Solenidade de entrega do Prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos
- Plenário da Câmara Legislativa do DF
De 27 a 29
16h
- Novembro Akotirene, Ocupação Ceilândia
- Praça do Cidadão da Ceilândia e Quilombo Urbano Casa Akotirene
Dia 30
Das 9h às 22h
- Novembro Akotirene, Ceilândia Mais Negra
- Estacionamento do Metrô ; Estação Terminal Ceilândia
Dezembro
De 2 a 6
- 3; Mostra Competitiva de Cinema Negro Adélia Sampaio
- Instituto de Sociologia da UnB