Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Agora, a Nasa vem

É preciso recorrer à expertise dos profissionais que se dedicam a minuciosas missões espaciais para entender a engenhosidade dos brasileiros. Convidamos: ;Venha, Nasa;. E o chamado rende inesgotáveis vídeos e montagens nas redes sociais. Não à toa. De gambiarras, jeitinhos e urgências entendemos bem.

Temporada de calor, então, é fonte de memes. Para se refrescar, há quem transforme soluções caseiras em genialidade. Sim, a criatividade que surpreende é privilégio dessa gente sagaz.

Mas tenho pensando que não são só as pessoas as capazes de despertar a curiosidade dos especialistas. Será que a Nasa toparia estudar as esquisitices, funcionais ou não, de Brasília? Fiz uma lista, definitivamente não fechada, do que poderia funcionar como atrativo.

No topo, está a mais clássica delas: as intrigantes tesourinhas. Para ir à direita, deve-se, primeiro, virar à esquerda, prega a lógica dos eixos. O sobe e desce fica ainda mais confuso quando o visitante descobre que tem que percorrê-lo combinando siglas e números, além de ficar atento ao fluxo das agulhinhas.

Mas se o turista chegar aqui no carnaval, verá que a rigidez cartesiana cai por terra. As pistas viram palco momesco, quando foliões do Bloco Tesourinha tomam os arcos da 9 e 10 Norte ao som de frevo e marchinhas tradicionais.

Também parece ter fugido à regra outra característica marcante da capital. Dizem que Lucio Costa se inspirou em uma borboleta para traçar o formato de Brasília. Há ainda quem garanta que o urbanista definiu o risco da cidade como um sinal da cruz. Para a maioria das pessoas, porém, se trata de um avião. Dá para explicar, Nasa?

Se não, desembarque em outro marco das construções brasilienses: a Catedral. Nesse caso, é certo que o projeto fugiu da ideia original ; Oscar Niemeyer pensou, inicialmente, em construir o templo com 21 colunas, mas o número de pilares caiu para 16. O que intriga, na verdade, é a acústica dentro do imenso prédio.

Ao encostar na lateral curva das paredes da Catedral, é possível dizer algo bem baixinho e ser escutado por quem está na outra ponta da construção, a metros de distância. É tecnologia de concreto para comunicação a distância. E construída quando sequer existiam os aparelhos celulares. E agora, Nasa, você vem?