Jornal Correio Braziliense

Cidades

NÃO LIBERAR. FOI CADASTRADA ERRADA

Desde 1999 já passaram aproximadamente 1000 crianças pelo projeto




" É um projeto de longa data, é difícil um projeto durar tantos anos. Os pais tem se engajado, confiam na gente quando levamos alunos da escola para outras cidades, essa confiança é muito importante. A comunidade está dentro do projeto", conta, orgulhoso o diretor do Centro de Ensino Fundamental 11 do Gama, Luiz Antônio Fermiano, 59 anos.

Segundo o diretor e idealizador da iniciativa, a ideia inicial era apenas fazer uma atividade lúdica com os alunos, dar um conhecimento musical, fazer homens e mulheres de bem. " O objetivo principal nunca foi fazer músicos", explica.

Luiz acrescenta que seria interessante pensar em um novo projeto desvinculando à banda da escola e fazendo um pólo de música no Gama, podendo assim, atender outras escolas e ter uma melhoria na qualidade técnica dos alunos. " O meu sonho é fazer uma orquestra sinfônica na rede pública do Gama, mas isso demanda recursos financeiros, humanos, e vontade política. O ideal é que os alunos começassem a aprender música na escola e que terminassem em outro estabelecimento, em um pólo de música ou na Escola de Música de Brasília para haver até uma especialização", esclarece.

" Nós somos os campeões de Brasilia e do Entorno. Estamos pensando em disputar o nacional de bandas agora nos dias 7 e 8 de dezembro e queremos ganhar, vamos lutar pra isso". Ele relata que já ganharam muitos prêmios, são campeões do Estado de Goiás nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019 e em Brasília em 2017,2018 e 2019. " Desde 1999 já passaram aproximadamente 1000 crianças por aqui, uns já são profissionais, outros, bem avaliados na Escola de Música de Brasília", conta." Não contei, mas a última vez tínhamos mais de 200 prêmios da escola, não apenas na área de música.A gente tem feito esse trabalho com prazer", conclui, satisfeito.

" Eu gosto muito, sempre trabalhei com musicalização, é muito legal encontrar uma escola pública que dá esse valor foi aqui onde eu consegui mais espaço para trabalhar a quase nível profissional". Essas são as palavras da professora de música da escola, Débora Duarte, 53 anos. Ela afirma que os alunos têm aula no turno regular e no contraturno têm aula de música com vários instrumentos. Todos alunos que estudam em período integral fazem aula de música." Fazemos várias apresentações e temos a banda da escola que é forte do projeto , já concorreu em vários concursos, os alunos sempre participam e são vencedores em todas as categorias". Débora complementa dizendo que a banda já se apresentou em Tribunais, Palácio da Justiça, desfile de 7 de setembro e aniversários de Brasília.

A Banda Musical Cláudia Martins de Carvalho foi dado em homenagem à uma professora que durante a preparação para a festa de aniversário do Gama em 12 de outubro sofreu um acidente e faleceu, é composta por 100 alunos. Aproximadamente 75 estudantes fazem parte do corpo musical e os outros participam como balizas, corpo coreográfico e pelotão de bandeiras. Débora diz que qualquer pessoa da escola pode fazer as aulas e que também atendem à comunidade. Há aulas para os pais dos alunos, adultos que fazem parte da comunidade e há a possibilidade dos alunos continuarem fazendo parte do projeto mesmo no Ensino Médio. "Geralmente no 1; semestre o aluno já consegue aprender e já está tocando", assegura.

Débora finaliza dizendo que a alegria maior é ver o crescimento dos alunos, quando evoluem, e conseguem passar em lugares referências da música como a Escola de Música de Brasília. " A gente vê os alunos crescendo e o mais legal é ver que estão envolvidos, compromissados, trabalham em equipe. Isso tudo ajuda na formação da pessoa,são muitos valores agregados".

Depoimentos

A aluna Dálete Siqueira, 15 anos, é um desses exemplos, a jovem conseguiu uma vaga na Escola de Música de Brasília. Estudante do 9; ano, ela conta que entrou na banda com 11 anos de idade . " Eu pretendo ser neurocientista,tenho a música como hobbie. Pode ser que daqui a algum tempo eu decida levar isso como profissão", diz. Dálete afirma que toca violino, tem o instrumento em casa e usa o da escola na banda. " Eu sempre achei violino bonito, eu sempre quis tocar algum instrumento, e, quando eu cheguei aqui e eu descobri que tinha, fui correndo atrás de uma vaga",comenta.

Erick Vieira Lima, 12 anos, está no 6; ano do Ensino Fundamental. Ele conta que conheceu o projeto por meio da prima que tinha entrado na escola e já tocava saxofone desde os 4 anos. " Eu me interessei pelo projeto e entrei. A gente que decide participar, não é obrigatório, se pessoa se interessar pelo projeto, pode tentar entrar", afirma Erick, que começou a tocar clarinete com a idade atual e já fez apresentações no próprio Gama e em Goianira- GO."
Depois que eu entrei para a banda eu comecei a querer ser musicista", conclui, satisfeito.

Alisson Silva, 14 anos, está no 9; ano e toca trombone. Ele está na banda há três anos e meio. " Eu comecei a tocar no sexto ano, o colégio me deu o trombone para eu tocar. Eu vou ser músico, quero fazer faculdade na Universidade de Brasília e também quero estudar na Escola de Música de Brasília", afirma. Alisson conta que quando chegou à escola não pensava na possibilidade de entrar na banda,mas depois com o contato com o instrumento e ensinamentos do professor Lincoln Costa sentiu vontade de evoluir na arte. " Meu professor me ensinou o básico até o intermediário, ele sabe um pouco de cada instrumento,então me ensinou até onde sabia e eu aprimorei mais ainda. Mudou a minha vida", destaca.

Pedro Henrique da Costa, 14 anos, assim como Dálete, está no 9; ano. Ele conta que entrou na banda aos 11 anos de idade. Diferentemente de Alisson, ele já entrou pensando em entrar participar do grupo musical e hoje toca bombardino. Pedro afirma que deseja seguir a carreira de médico e enxerga a música como um hobbie. " A música me traz alegria, às vezes quando eu estou triste, eu vou tocar e passa", destaca.

Lei

O ensino de música nas escolas de educação básica é previsto pela Lei 11.769/2008. A Secretaria de Educação informa que atua no sentido de assegurar que o conteúdo faça parte dos currículos escolares e que no Distrito Federal, há 658 escolas de educação básica ( ensino regular).Segundo o órgão, além de atividades desenvolvidas conforme as propostas pedagógicas de cada escola, as coordenações regionais de ensino também realizam atividades que estimulam o ensino de música. Em 2019, seis das 14 regionais realizaram festivais: Taguatinga, Paranoá, Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e Santa Maria. Todas as demais, mesmo não tendo feito festivais, também têm histórico de um intenso trabalho nesta área.

" A legislação que torna o ensino de música obrigatório nas escolas da rede pública e privada do Brasil completou dez anos em 2018, mas o que se vê na prática é que ela ainda não saiu do papel", diz o professor de música Thiago Francis, 38 anos. Segundo ele, a maioria das escolas que oferecem alguma atividade na área contam com a iniciativa isolada de professores ou coordenadores e não há políticas públicas nacionais que garantam a implementação da lei.

Thiago conta que a escola passou por várias dificuldades para manter o projeto . "O primeiro é ter a aprovação da Secretaria de Educação para direcionar e autorizar professores com formação em música - é processo longo e burocrático ; o segundo problema é a falta de verba para a manutenção e compra de instrumentos ; o terceiro problema é a falta de espaço para aulas coletivas e individuais - muitas vezes temos que ensaiar de baixo de uma árvore , numa sala do depósito, mesmo assim , devolvemos à sociedade uma escola musical , alunos engajados , alunos com visão de mundo, alunos que sonham morar fora do Brasil e seguir a carreira como músicos , alunos que estão mais atentos às aulas , alunos que participa ativamente de todas as atividades da escola , temos pais envolvidos , a comunidade", relembra.

O professor diz que é agradecido pela oportunidade de proporcionar conhecimento aos alunos do Gama por meio do projeto."É mais que provado que a música faz a diferença na vida de uma pessoa , é provado que um aluno fica menos ocioso quando está envolvido com as artes. Sou ex aluno de escola pública , músico de orquestra violinista , maestro de uma orquestra em Brasília. Ensino no Gama pela paixão de ser ensinar , de dar a esses alunos a oportunidade que eu tive", finaliza.

O colégio desfilou ontem, 27/10, domingo, pela manhã,no 59; aniversário do Gama, próximo à administração da região administrativa. Por fim, a escola pede o apoio da população na realização de trabalhos voluntários como lavar e consertar uniformes e transportar alunos para apresentações.

Estagiária sob supervisão de