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Giz, quadro, caneta e caderno. Até pouco tempo atrás, era impensável uma aula sem esses quatro elementos dentro de sala. Mas a educação se moderniza no Distrito Federal e reúne cada vez mais novos objetos, plataformas e conceitos. Um dos exemplos disso é a adoção de práticas que valorizam os estudos da comunicação na pedagogia. Luis Felipe Sales, 17 anos, aprende e ensina essa mudança na prática. Aluno do Centro Educacional (CED) 1 do Riacho Fundo 2, ele tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e foi motivado pela curiosidade e pelos professores a criar um canal no YouTube para desenvolver habilidades comunicacionais e reforçar o conteúdo.
;Quando estou fazendo as tarefas e vejo um assunto que me chama a atenção, pesquiso mais e faço vídeo sobre ele. Por ter autismo, tenho boa memória; então, tem tema que lembro que o professor passou na sala e, depois, eu aprofundo em casa. Gosto de biologia, dos animais, de espaço e astronauta;, conta Luis. O canal começou em 2015 e os vídeos foram se aprimorando, passando de receitas culinárias ao uso correto dos porquês, além de curiosidades sobre o metrô de Brasília. Hoje, o garoto tem mais de 3 mil inscritos.
Melhor do que os números, só o resultado que não pode ser contabilizado, como explicou o professor. ;Agora, o Luis não precisa mais de monitora em sala acompanhando. Tem se comunicado melhor e passou a ter mais autonomia em diversos aspectos;, comemora Vagner Henrique de Melo, 43. Para o educador, utilizar os elementos da comunicação em sala de aula promove reflexões importantes. ;As novas tecnologias são boas ferramentas para deixar o aprendizado mais dinâmico, principalmente quando o aluno é ensinado a ter a maturidade de buscar fontes confiáveis para as pesquisas e acaba fazendo bom uso dos meios. A gente ensina o estudante a voar;, explica.
Luis está no 3; ano do ensino médio e, agora, pensa na faculdade. Na hora da escolha do curso de graduação, a facilidade na comunicação falou mais alto até do que o interesse pela física. ;Quero ser jornalista. Antes, eu era isolado, não falava com quem era desconhecido. Mas, hoje, sou igual àqueles repórteres que saem na rua e conversam com quem não conhecem. Perdi a vergonha e aprendi muito;, celebra Luis. A mãe atesta o desenvolvimento, ressaltando a atenção dos educadores. ;Os professores como o Vagner sempre tentam compreender o aluno de forma muito carinhosa. Tudo isso, essa atenção e as atividades com a comunicação, ajudam muito o meu filho;, orgulha-se Luciene de Lima, 44.
Convite à diversidade
Dar liberdade aos estudantes para que eles sejam ativos nos mais diversos aprendizados é uma metodologia cada vez mais utilizada. O projeto Onda, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), é um exemplo disso. Uma das propostas da iniciativa é explorar as diversas visões de mundo e deixá-lo mais democrático, com a condução dos próprios alunos, atuando em escolas públicas e unidades de internação do DF. ;Nós utilizamos a experiência do rádio, de vídeos, dos jornais e da fotografia, por exemplo, para trabalhar os saberes;, conta Webert da Cruz, educomunicador do Inesc.
O Onda explora cultura, arte e muita sensibilidade. ;Nos estudos que chamamos de educomunicação, lidamos com a diversidade. Ela é um convite para o respeito, para a ampliação de visões. Assim, a gente consegue ir além daquela educação formatada nos modos antigos, baseada na transmissão de conteúdo;, detalha Webert. Neste ano, são produzidos um programa de rádio, um livro de poesia, uma exposição fotográfica, entre outras ações.
Um dos produtos que chama a atenção é a revista Descolad@s, como destaca Márcia Acioli, assessora política do Inesc. ;Ela é toda produzida por adolescentes do projeto que pauta os direitos humanos. Isso é muito interessante, porque a gente vê muitos jovens com um carimbo na testa, sendo muito rotulados. Mas, quando eles e elas entram em contato com uma realidade em que podem dizer, se expressar, apresentar o conteúdo que sabem, fazendo o exercício de se comunicar, percebemos diversas habilidades;, ressalta Márcia.
A revista tem seis edições publicadas com diversidade de temas discutidos por crianças e adolescentes, que vão desde o direito de brincar até reportagens sobre os desafios do contexto universitário para jovens da periferia, por exemplo. ;Dar voz a eles é um exercício de empatia, é perceber o outro e desenvolver sensibilidade para a educação. Não há dúvidas de que, assim, o aluno se estimula e aprende mais. É um processo que não é fácil para os educadores nem para os adolescentes, mas é transformador;, revela a assessora política.