Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Poesia de nome ;Brasília;

Vivo em Brasília desde 2005. Nesses 14 anos, descobri que a capital é, por si, um poema que conjuga as linhas de Oscar Niemeyer com a amplidão do plano urbanístico. O que dizer do céu inigualável de Brasília? Quase como um mar no cerrado a perder de vista no horizonte. O Lago Paranoá abraça a capital, refresca e seduz os olhos com a mudança de tonalidade do espelho d;água, a depender do horário. Visto de cima, o Plano Piloto é poesia e pintura. A simetria dos blocos; a sintonia entre as tesourinhas e os ipês, que florescem beleza; o Eixão ligando a cidade de ponta a ponta, como artéria ajudando a bombear vida e movimento.

E o que dizer do Eixo Monumental e da Praça dos Três Poderes? Não à toa turistas de todo o mundo ficam estupefatos com o arrojo e a modernidade das construções. Como não se impactar com a Catedral, de estética única, erguida a poucos metros de uma imensa esfera a brotar do chão? Como não se deixar hipnotizar pela arquitetura inigualável do Palácio do Planalto, como se fosse uma espaçonave a flutuar no vazio? Mais adiante, o Palácio da Alvorada, com as colunas elegantes e o contraste com o verde do imenso gramado e o azul do céu.

Brasília é puro verso. Quem nunca se embeveceu com o pôr do sol na Ermida Dom Bosco, ao tingir de dourado as águas do Paranoá, enquanto o caos urbano adiante parece se transformar em composição de um quadro bucólico? E as amplas quadras das Asas Sul e Norte, com os blocos dotados de pilotis, perfeitamente sintonizados com os espaços arborizados à volta? Ou as passarelas que convidam o morador a uma caminhada sob árvores frondosas e em meio a tanta beleza?

Eu me lembro de um documentário no qual o próprio Niemeyer comparava sua arquitetura às curvas de uma mulher. Talvez Brasília tenha sido assentada nesta metáfora: delinear sensualidade e encantamento em uma cidade eternizada na forma de poema. Não é preciso ser poeta para perceber ; e sentir ; tanta inspiração em um único ambiente. Brasília é poesia dos candangos, dos brasileiros e da humanidade. Estrofes que transgridem o tempo e se fazem modernas a perderem de vista. Brasília vive em mim desde 2005. Intensa, numinosa, impávida, impoluta, apaixonante.