Jornal Correio Braziliense

Cidades

Família pede justiça em velório de Noélia

Cerca de 200 pessoas participaram do enterro da comerciária, encontrada morta com um tiro no rosto horas depois de deixar o trabalho em um shopping da Asa Norte, na última sexta-feira (18). Os pais, que são idosos e moram no Ceará, não participaram da despedida da filha

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Com emoção e incredulidade, familiares, amigos e colegas de trabalho de Noélia de Oliveira Rodrigues, 38 anos, se reuniram para a despedida da comerciária. O velório de Noélia ocorreu ontem (20) no Cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga. A Capela 1 do local ficou lotada, cerca de 200 pessoas compareceram para o adeus à Noélia.
Mãe exemplar e trabalhadora dedicada, ela deixa três filhos: uma menina de 9 anos, um menino de 5 e um adolescente de 16 anos. Fica também a saudade de uma amiga e familiar querida.

;Era uma pessoa maravilhosa, do bem e muito cativante. Foi muita crueldade. Virou algo banal matar mulheres;, disse uma amiga, que preferiu não se identificar. ;Ela era alegre, tinha um sorriso lindo e muita vontade de viver;, completou.

A quantidade de pessoas que se reuniram para se despedir de Noélia não foi por acaso. ;Ela tinha muitos amigos, era querida. Trabalhava na área de comércio e conhecia muita gente, era simpática;, afirmou José Egídio de Oliveira, 55, irmão de Noélia.

Parte da família de Noélia, que é cearense, não pode comparecer por morar em outros estados. Os pais, que são idosos, vivem no Ceará e não conseguiram participar da despedida da filha. A comerciária era a mais nova de uma família de 14 irmãos. ;A família é muito grande tem gente que mora no Acre. Mas veio um pessoal do Tocantins, de Goiânia e os daqui de Brasília;, comentou o irmão.






O sentimento de inconformidade e o desejo de justiça também se fizeram presentes. O assassino de Noélia ainda não foi detido. A polícia segue com as investigações. ;Tem sido muito difícil não saber quem fez essa maldade;, disse Egídio.

O irmão do meio, José Guedes, 48, lamentou não poder ver a irmã pela última vez. ;O caixão está até coberto porque o rosto ficou muito deformado;, disse, com emoção. Para o velório, uma foto da vendedora foi colocada em cima do caixão. ;Ela não merecia passar por tudo isso. Era uma moça muito alegre. Foi muito cruel;, disse Guedes.

Em discurso, os irmãos comentaram que a dor da perda de Noélia continuará para sempre. Fica a esperança por justiça. ;Pegaram ela para executar, para matar mesmo. Fico muito revoltado com isso. Espero que descubram quem fez isso com ela. Espero que a justiça seja feita;, acrescentou José Guedes.

O crime

Noélia foi encontrada morta, na última sexta-feira (18/10), na Colônia Agrícola 26 de Setembro, entre a Cidade Estrutural e Vicente Pires. O corpo dela apresentava uma marca de tiro no rosto e sinais de luta corporal, apesar de estar vestido. A moradora do Sol Nascente havia desaparecido na quinta-feira (17/10) por volta das 22h, após sair do shopping onde trabalhava, na Asa Norte.

Na noite do desaparecimento, o marido de Noélia, Marcos Paulo Mendes Santana, conversou por vídeo com a esposa pouco antes de ela não ser mais vista. Ele relata que, a partir das 22h23 de quinta-feira (17/10), a esposa não retornou às ligações ou mensagens. Colegas de trabalho contaram à reportagem que Noélia comentou que pegaria uma carona naquele dia.

A comerciária costumava voltar para casa de ônibus, que pegava no Eixo Monumental, próximo à Torre de TV, e depois o marido a encontrava na parada de ônibus mais próxima de casa. Imagens do circuito de vigilância mostram a a funcionária da loja deixando o shopping às 22h03. Depois disso, ela não foi mais vista.

Investigação

O marido de Noélia, com quem ela era casada há mais de 10 anos, chegou a registrar ocorrência do desaparecimento dela na 5; Delegacia de Polícia (Área Central). Já na madrugada do desaparecimento, ele entrou em contato com os cunhados para saber notícias de Noélia. ;Fomos até a delegacia, mas informaram que o desparecimento estava muito recente e não poderia ser feito o boletim naquele momento. Esperamos o dia amanhecer e fomos registrar a ocorrência;, explicou o irmão de Noélia.

Ele relatou o sentimento de desespero de toda a família para encontrar Noélia. ;Estávamos na expectativa de encontrá-la viva;, disse Guedes. Entretanto, horas após registrarem o desaparecimento, Marcos Paulo foi chamado para o reconhecimento do corpo de Noélia.

Ainda na sexta-feira, os investigadores ouviram Marcos Paulo por mais de três horas e recolheram as roupas que ele usou no dia desaparecimento. O carro e a moto dele também foram apreendidos para análise. ;Estamos investigando isso, mas também estamos investigando outras hipóteses;, afirmou a delegada-chefe Adriana Romana, da 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires), que apura o caso. Segundo a delegada, por medida protocolar da Polícia Civil, o caso é tratado como feminicídio por envolver a morte de uma mulher de forma violenta.

No sábado, Geraldo Madureira,
advogado de Marcos Paulo, disse que o cliente colabora com a polícia, pois foi ;tratado como suspeito;. O advogado ressaltou que foi o próprio Marcos que sugeriu a ida da polícia até a casa em que morava com Noélia e os dois filhos, localizada no Sol Nascente.

O marido mostrou aos investigadores o trajeto que costumava fazer com Noélia quando a buscava na parada de ônibus, após ela sair do trabalho. ;Ele autorizou tudo e colabora para tirar essa nuvem de dúvida;, disse Madureira. No velório, o marido não se pronunciou. Familiares próximos relataram apenas que deseja que a justiça seja feita e que ele deve retornar à delegacia para depor ainda nesta semana.


Onde procurar ajuda
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência ;
Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Entrequadra 204/205 Sul ; Asa Sul 3207-6172
Disque 100 ; Ministério dos Direitos Humanos
Telefone: 100

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
Telefones: (61) 3910-1349 / (61) 3910-1350