Jornal Correio Braziliense

Cidades

Hospital da Criança inocentado

Desembargadores do TJDFT consideram, por unanimidade, que acusação de improbidade administrativa apresentada pelo Ministério Público contra instituto responsável pela gestão da unidade hospitalar é improcedente

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Por unanimidade, desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) consideraram o Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe) inocente em uma acusação de improbidade administrativa apresentada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). O caso, que envolve supostas irregularidades no contrato de gestão do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) ; administrado pelo Icipe ;, foi julgado em segunda instância ontem. Foram três votos a favor do instituto.

Apresentada em 2015, a acusação do MPDFT tratava do contrato de gestão firmado em 2011. De acordo com o Ministério Público, o instituto, formado por integrantes da organização não governamental Abrace, teria sido beneficiado no processo, e não teria as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF). A Corte, porém, rebateu as alegações dos promotores e disse ter julgado como regulares as contas de 2012 e 2013.

O Icipe havia sido condenado em primeira instância (leia Memória), mas recorreu da decisão. Um outro processo, relativo ao contrato firmado em 2014, ainda tramita na Justiça.

Para o diretor-presidente do Icipe, Newton Carlos de Alarcão, as acusações foram ideológicas. ;Existe um segmento do Ministério Público que tem um entendimento ideológico de que a saúde não pode ser terceirizada, que a saúde é uma ação privativa do Estado, e, não obstante, a saúde pública está completamente falida. Mas agora estamos aliviados e queremos tranquilizar os pais de pacientes, os funcionários e todos que acompanham o nosso trabalho de que não há nenhuma irregularidade de contratação, de contas, ou de funcionamento;, disse.

A preocupação, segundo explicou o diretor, era de que o julgamento ferisse de alguma forma a confiança que as pessoas depositam no trabalho do hospital: ;Nós contamos com doadores, voluntários, pais de pacientes, nossos funcionários... São pessoas que confiam no nosso trabalho. Se fôssemos condenados erroneamente, as crianças que tratam câncer com a gente seriam prejudicadas;.

Procurada pela reportagem, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde informou, em nota, que vai analisar o teor do acórdão para verificar se recorrerá da decisão da 6; Turma Cível. O MPDFT ainda disse que ;fundamenta suas ações de acordo com as leis em vigor, na defesa da ordem jurídica e do regime democrático, do qual é guardião;.

Certificação

Referência em atendimento de crianças, o HCB alcançou, em junho de 2018, o certificado de acreditação hospitalar da Organização Nacional de Acreditação (ONA). Depois de passar por avaliação conduzida pelo Instituto Brasileiro de Excelência em Saúde (Ibes) ; instituição credenciada pela ONA para realizar este processo ;, o hospital recebeu o primeiro nível de acreditação, referente à segurança do paciente, tornando-se o primeiro hospital público do DF e o primeiro pediátrico do Centro-Oeste a alcançar esse feito.

Apenas no mês de agosto de 2019, a unidade realizou 3,2 mil internações, 327 cirurgias, 42,9 mil atendimentos ambulatoriais e 7,2 mil consultas médicas. O custo de manutenção do hospital no período foi de R$ 19 milhões, pagos pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

A unidade foi construída em 2009, por iniciativa do grupo Abrace, que, por meio de doações, arrecadou cerca de R$ 30 milhões para a execução do projeto. O lote foi cedido pelo GDF em 2004, após aprovação da Procuradoria-Geral do DF (PGDF) e assinatura do Convênio 014/20047 de Cessão de Uso Temporário ao grupo Abrace.

Um chamamento público para a escolha de qual iniciativa privada iria gerir o hospital chegou a ser feito, mas, não havendo interesse de nenhuma outra organização social, a administração foi passada ao mesmo grupo que construiu o hospital. Desde que a unidade ficou pronta, o GDF renovou o contrato de gestão três vezes. O contrato mais recente, assinado neste ano, após chamamento público, vale até 2024.


Memória

Processo começou em 2015

O MPDFT apresentou a denúncia em 2015. Em dezembro de 2017, o juiz titular da 7; Vara da Fazenda Pública, Paulo Afonso Cavichioli Carmona condenou o instituto em primeira instância e definiu judicialmente que a gestão do hospital fosse transferida à Secretaria de Saúde. O Icipe recorreu da decisão, mas entregou a gestão ao GDF em abril de 2018. Após pressão popular, e de funcionários do hospital, uma audiência de conciliação foi marcada para devolver a gestão ao instituto. Em junho do mesmo ano, o MPDFT se mostrou favorável à devolução da gestão ao instituto. Em abril deste ano, o contrato com o Icipe foi prorrogado por um ano, até que fosse concluído um processo licitatório para seleção da organização que cuidaria do HCB pelos próximos quatro anos. Em julho, o Icipe foi declarado vencedor do certame. Em 20 de setembro, o novo contrato, com vigência até setembro de 2024, foi assinado.