A noite se fez dia com a luz de milhares de velas acesas para a passagem de Nossa Senhora Aparecida. Cercada por flores e elevada por fiéis, a iluminada imagem da padroeira do Brasil e do Distrito Federal percorreu as ruas da Esplanada dos Ministérios na noite de ontem. A um só coro, mais de 50 mil pessoas ; segundo estimativa da Arquidiocese de Brasília ; entoavam cânticos em devoção à santa.
;Ave Maria, Santa Padroeira! Companheira de libertação;, exultava a diarista Aparecida Tavares da Silva, 41 anos, que carrega orgulhosa o nome da santa da qual é devota. ;Sofremos um acidente terrível no ano passado e caímos em uma ribanceira. Meu marido gritou pelo nome de Nossa Senhora e por isso estamos vivos;, relatou.
Essa é apenas uma das graças que a fiel atribui à santa. Após 11 meses de tratamento contra um câncer na perna, a filha dela, Raiane Pereira da Silva, 21, conseguiu a cura. ;Os médicos disseram que eu teria que amputar a perna, mas aqui está ela, a prova de um milagre. É uma vida nova, tudo mudou, e sei que foi Deus, com a intercessão de Nossa Senhora;, emocionou-se Raiane.
Durante a missa, que começou às 17h, o arcebispo de Brasília e cardeal, dom Sérgio da Rocha, relembrou a história de Nossa Senhora Aparecida e a vinda da imagem da santa antes mesmo da fundação da nova capital. ;Na noite de hoje, a mãe dos pescadores que encontraram a sua imagem em um momento de aflição continua presente a nos acompanhar;, disse. A aparição ocorreu pelas águas do Rio Paraíba do Sul, em São Paulo, em 1717.
As celebrações em homenagem a Nossa Senhora Aparecida em Brasília arrastaram fiéis ao longo de todo o dia. Pela manhã, a programação foi voltada às crianças, também para comemorar a data dedicada a elas. A missa das crianças foi celebrada pelo bispo auxiliar de Brasília, dom Marcony Vinícius Pereira. Os pequenos foram convidados a subir ao altar, de onde participaram cantando, fazendo as leituras e rezando.
Pelo gramado, diversas famílias estendiam toalhas e aproveitavam a manhã de oração. ;Sou muito devota. Moramos no Areal, e essa foi uma oportunidade de passar o dia com as crianças, assistindo à missa e brincando;, contou a confeiteira Andreia Souza do Nascimento, 40 anos. Ela foi ao local com os três filhos, Jonas, 7 anos, Heitor, 4 anos, e Saulo, 1 ano.
Após a celebração, os meninos e as meninas aproveitaram os brinquedos infláveis e as comidas. Com apenas 1 ano e 9 meses, Alice Gabrielle Gomes foi pela terceira vez à celebração. ;Primeiro, ela veio ainda na barriga. Depois, neném. Agora, com 1 ano;, orgulhou-se a mãe, a recepcionista Mônica Gomes, 36, que participa há 13 anos da festa.
Além de animação, as crianças mostraram devoção. Vestidas de anjos, coroaram Nossa Senhora, o que, para os fiéis, é um sinal de agradecimento pela proteção da padroeira.
- Três perguntas para Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília
Qual é a importância desta festa, principalmente para o DF?
É de especial importância porque ela (a imagem de Nossa Senhora Aparecida) nos acompanha desde o início da capital. A chegada da imagem ocorreu em 1957 na primeira missa em Brasília. Eu digo que ela veio com os candangos, os pioneiros para construir a nova casa. É uma mãe que já vem antes, acompanhando seus filhos. E um momento como esse, de manifestação pública na Esplanada, é expressão da fé do povo, da devoção, mas também é sinal da presença amorosa de Maria acompanhando seu povo.
Vivemos tempos difíceis, com casos de violência que, inclusive, tiraram a vida do padre Casemiro. De que forma manifestações religiosas como essa ajudam a fortalecer a sociedade?
Enfrentamos um problema muito grande de segurança. Diante das dificuldades, é fundamental a fé. Não só a fé pessoalmente vivida, mas a fé em família e em comunidade. Precisamos reafirmar o compromisso de construir a paz e não ceder à vingança, à violência, ao ódio. Claro que a justiça é necessária, a segurança pública é necessária. Nós vemos por esse fato triste que aconteceu recentemente, a morte do padre Casemiro de maneira tão cruel. Isso nos faz pensar, sem dúvida, na necessidade de construir a paz através do amor, mas também da justiça, que é expressão do amor, através da segurança pública, que é tão necessária. Nós temos a procissão, que é um caminhar juntos. Acreditamos muito que, nessa procissão, estamos mostrando que é possível viver de um outro jeito, porque quem caminha junto não está sendo violento. Quem caminha lado a lado reconhece a outra pessoa como um irmão, como um amigo a ser amado e não como um inimigo a ser combatido.
Neste domingo (13), Irmã Dulce será canonizada no Vaticano. Qual é o impacto disso para os católicos do Brasil?
Ela é um grande exemplo. Uma recordação de que precisamos ser mais solidários, servir aos que mais sofrem, dar atenção aos enfermos, aos mais pobres. Hoje (ontem) é o dia de Nossa Senhora Aparecida. Amanhã (hoje) fica sendo da santa Dulce. São duas mulheres muito simbólicas quanto ao tratamento dos pobres. Nós temos a Igreja representada por Nossa Senhora, que vem ao encontro dos aflitos, e a imagem da Irmã Dulce, que vem ao encontro dos pobres, dos sofredores. A Igreja toda é chamada a viver assim.