No primeiro semestre, 1.369 pessoas usaram o PEP. Desse total, 129 sofreram violência sexual, 365 tiveram acidente biológico e 875 fizeram sexo sem proteção. Em comparação a igual período de 2018, a busca pelo remédio subiu 9%, quando 1.249 doses foram distribuídas nas unidades de saúde do Distrito Federal. É importante ressaltar que o uso do medicamento não inibe a contaminação de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e gonorreia. Por isso, o uso de camisinha em relações sexuais é indispensável.
O secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia da Secretaria de Saúde, José David Urbaez, afirma que, grosso modo, a maioria dos indivíduos que procuram tratamento são da classe média e alta, com grau de educação avançado, além de homens que tiveram relação sexual com indivíduos do mesmo gênero. ;O PEP nasceu como proteção para acidente ocupacional. No início, era voltado à prevenção de transmissão de pessoas que se furaram trabalhando, como um enfermeiro que se fere com uma agulha. Depois de 2007, passou a ser usado em casos de exposição e violência sexual;, explica.
O PEP deve ser tomado em até 72 horas. São dois comprimidos que devem ser ingeridos todos os dias por cerca de um mês. Urbaez esclarece que, após esse período, o vírus HIV começa a migrar para o organismo, e o remédio impede que isso aconteça. ;É importante destacar que a medicação deve ser tomada o mais rápido possível, porque dá menos oportunidade para que o vírus se propague;, alerta. O remédio é fornecido pelo Ministério da Saúde. É encontrado apenas na rede pública. ;Pela complexidade do manejo, são qualificados como medicamentos estratégicos. Além disso, precisamos monitorar a distribuição para avaliar resultados. Por isso, são exclusivos do Estado;, comenta.
Arrependimento
Apesar de não existir levantamento oficial de quais dias da semana o PEP é mais procurado, o secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia ressalta que há maior demanda na segunda-feira, principalmente no Hospital Dia, na Asa Sul, referência no combate a ISTs no DF. Segundo Urbaez, ;Isso acontece porque, nesses dias, o indivíduo tem mais tempo de convívio, de consumo de álcool e drogas. Esse pacote deixa as pessoas vulneráveis e sem noção dos riscos;, avalia.
Morador de Ceilândia, um jovem de 26 anos, que não terá o nome divulgado, conheceu outro rapaz durante uma festa no Plano Piloto, em um sábado. Começaram a conversar e decidiram ir para a casa de um deles, na Asa Sul. Na residência, embriagados, fizeram sexo sem preservativo. No outro dia, arrependido, o primeiro procurou o Hospital Regional da Ceilândia para tomar o PEP. ;Eu não conhecia o cara. Ele me disse que não tinha nada, mas não quis confiar. Esperei até segunda-feira, fui ao hospital e consegui o remédio;, relata.
O estudante contou que precisou fazer três exames de sangue após começar a usar a medicação, um a cada mês, para saber se não tinha contraído doenças. ;É uma tensão sem fim. A gente fica com medo do remédio não fazer efeito, de a outra pessoa ter alguma coisa. Porém, tudo deu certo no fim, todos os resultados deram negativo;, conta. Com o susto, ele garante que ficou mais criterioso com o uso da camisinha.
Barreira
Desde 2018, o a rede pública do DF passou a fornecer a Profilaxia Pré-exposição (Prep). O remédio funciona como obstáculo farmacológico na mucosa dos órgãos sexuais e impede que o HIV não penetre. A Secretaria de Saúde tem 536 pacientes registrados para usar o Prep. O perfil dos usuários é o mesmo do PEP: pessoas brancas, de classe média ou alta e homens que fizeram sexo com pessoas do mesmo gênero. A medicação é fornecida no Hospital Dia e no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Entretanto, a medicação previne apenas a contaminação pelo HIV, e o uso de camisinha é indispensável.