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Entidade vê negligência na morte da tigresa Maya; Zoológico rebate

Gêmeos, os tigres-brancos-de-bengala Maya e Dandy chegaram ao DF em 2011. Eles tinham 10 anos e perderam a vida após serem submetidos a procedimentos veterinários

O Zoológico de Brasília perdeu dois tigres-brancos-de-bengala no intervalo de uma semana. Os irmãos gêmeos Dandy e Maya morreram após serem submetidos a procedimentos veterinários. O último óbito registrado é da fêmea, que não resistiu a uma cirurgia de reparo do trajeto intestinal no domingo. Entidades ligadas à proteção de animais apontam negligência no tratamento dos bichos, enquanto o Zoo aguarda resultado dos laudos para divulgar as causas das mortes. Os felinos vieram juntos da França em 2011 e tinham 10 anos.


Maya lutou por 17 dias e, durante o período, passou por quatro cirurgias. Em 12 de setembro, os veterinários detectaram uma infeção no útero da felina e decidiram fazer uma cirurgia de castração no dia 14. Segundo os profissionais, a condição de saúde da tigresa já era considerada delicada. Entretanto, cinco dias após a retirada do útero e dos ovários, as suturas abdominais (pontos) se romperam, causando a saída das vísceras pela abertura da incisão cirúrgica.

Os veterinários, então, fizeram uma nova cirurgia na tigresa para remover o tecido necrosado do intestino e interligar os pontos abertos. Porém, novamente após cinco dias do procedimento, as suturas se romperam pela segunda vez, e Maya passou por uma nova intervenção cirúrgica. ;Não tinha como evitar ou prever. Tenho consciência de que toda equipe se dedicou ao máximo. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, talvez até descuidando da nossa segurança para tentar fazer alguma coisa por eles. Não tem nada que eu mudaria nesse caminho;, afirmou Betânia Borges, diretora do Hospital Veterinário do Zoológico de Brasília.

De acordo com ela, a tigresa foi acompanhada 24 horas por dia por oito veterinários especialistas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). ;Da nossa parte, lamentamos o que aconteceu. Mas nós, com certeza, tivemos o melhor recurso possível para que ela pudesse se restabelecer;, reforçou Ana Raquel Faria, superintendente de conservação e pesquisa do Zoo. Segundo a veterinária, o resultado da necropsia, que apontará as causas da morte, deve ficar pronto em até 30 dias.

Procedimento

A vice-presidente da Federação de Proteção ao Animal do Distrito Federal, Carolina Mourão, avalia que a morte de Maya é uma negligência
óbvia do ponto de vista técnico. ;O que há é uma ausência de conhecimento desses animais selvagens. Erros veterinários de início de carreira;, frisou. Carolina afirma que o tratamento da tigresa não obedeceu aos protocolos de atendimento e que o animal deveria ter permanecido sedado durante o pós-operatório, para evitar o rompimento dos pontos.

Betânia, por outro lado, alega que a tigresa passou por vários procedimentos cirúrgicos e que em cada um a equipe se adaptou e mudou as formas de tratamento no pós-operatório. ;A gente avalia se o animal consegue passar por uma sedação diária e decidimos não fazer isso com a Maya, no primeiro procedimento. Apenas fizemos uso da contenção física;, explicou. Segundo a diretora, na segunda intervenção os veterinários passaram a adotar o método de sedação diária: ;A gente sedava para verificar as próteses e os drenos. Então, retomava para a contenção. Ela conseguia levantar, estava responsiva e, inclusive, agressiva;.

A diretora acrescenta que o felino foi mantido da forma mais segura possível e teve alternâncias no protocolo. Porém, a federação contesta as afirmações. ;Essa tigresa não se levantou desde a primeira cirurgia. O intestino dela saiu e quando colocaram de volta ainda ficou faltando uma parte. Ela passou por quatro cirurgias;, criticou a entidade.

Carolina ainda reclamou da falta de capacitação aos veterinários que atuam no zoológico. A instituição, contudo, nega. ;Todos os funcionários são profissionais que têm ao menos seis anos de formado. Todos fizeram faculdade e especialização voltada para animais silvestres. Como todo órgão público, a gente passa por dificuldades. Porém, nosso corpo técnico é suficiente, porque trabalhamos com prevenção;, rebateu Betânia.


Transfusão

O tigre-de-bengala Dandy morreu em 29 de setembro, três dias depois de ser submetido a uma coleta de sangue para exames laboratoriais e a uma inspeção clínica, para que pudesse fazer uma transfusão para Maya, que havia passado por cirurgia. Após o procedimento, ele passou a ficar apático e sem reagir a estímulos. As causas da morte do animal também serão divulgadas após exames histopatológicos feitos pelos veterinários.


53 casos

Segundo o Zoológico de Brasília, mais de 900 animais vivem no lugar. Apenas este ano, 53 morreram. Entre eles, cinco são de grande porte: o cervo nobre fêmea Jénifer, em 11 de fevereiro; o antílope ou waterbuck Vingador Júnior, em 9 de março; o adax fêmea Marisa, em 7 de maio; o orix Copán, em 3 de setembro; e o tigre-de-bengala Dandy, irmão gêmeo de Maya, em 29 de setembro.