A quarta edição do Mapa é baseada na análise e compilação de dados entre 2008 e 2018, a partir de informações do Disque 100; da própria Central Judicial do Idoso; e do Núcleo de Estudos e Programas na Atenção e Vigilância em Violência, da Secretaria de Saúde do DF. Nesse período de 10 anos, 9,7 mil casos de agressão contra o idoso foram denunciados na capital federal.
Ceilândia ocupa a maior incidência dos casos de violência (1.619), seguida por Taguatinga (1.046) e Plano Piloto (878). As três regiões administrativas concentram, juntas, quase 37% das ocorrências.
Os altos índices de violência ao idoso nas respectivas regiões retrata também o maior contingente dessa faixa etária na população total das cidades. Em Ceilândia, há 440.548 habitantes, sendo 45.022 pessoas com mais de 60 anos. O Plano Piloto vem em segundo lugar, com 227.645 moradores e 41.378 idosos. Taguatinga aparece na terceira posição: são 206.902 habitantes, sendo 33.060 idosos.
Segundo a coordenadora da Central Judicial do Idoso, juíza Monize Marques, as três cidades líderes em denúncia estão situadas em um grupo diferente de renda média por domicílio, o que, para ela, reforça que a violência não está ligada a questões econômicas. ;O Plano Piloto, por exemplo, apresenta alto índice do tipo de violência financeira [exploração ilegal de recursos dos idosos]. Isso serve como reflexão para que possamos pulverizar as informações em todos os setores. É preciso que o Estado colabore e implemente políticas públicas;, ressalta.
Familiares violentos
O levantamento revela que 98,5% dos casos são de violência intrafamiliar ou interpessoal ; cometida por membros da família ou parceiros íntimos em interações do cotidiano. O restante (1,5%) remete à violência institucional, que envolve ações de constrangimento, humilhação e hostilização em instituições que prestam serviços públicos, como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias.
Entre os principais agressores, os filhos aparecem em primeiro lugar (57,49%), seguido por outros parentes (12,23%) e netos (8,12%).
Os dados também mostram que mais de 60% dos casos referem-se a negligência e a violência psicológica (veja quadro). ;Uma das causas que contribui para o aumento da violência é a educação deficitária. O Brasil é um dos países mais atrasados no acesso à escolaridade. Costumo falar que a principal vacina contra a agressão ao idoso é a escolarização avançada. Precisamos de uma cultura de diálogo de respeito;, argumenta Paulo Faleiros, professor do Departamento Social da Universidade de Brasília (UnB).
População mais idosa
A cada dia, as pessoas estão envelhecendo mais. No Distrito Federal, segundo dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios 2018 (Pnad), da Companhia de Planejamento (Codeplan), os mais velhos representam 10,5% da população total, o equivalente a 303.017 pessoas. Até 2030, esse público deverá aumentar para 15%. ;Quando nos deparamos com uma sociedade envelhecida, as políticas públicas devem aprimorar os sistemas de mobilidade e de saúde;, explica a juíza Monize Marques.
As mulheres compõem 58% do total da população idosa do DF. Quando completam 80 anos ou mais, esse índice aumenta para 62%. Consequentemente, elas estão sujeitas a sofrer mais violência. O Mapa mostra que a idade das vítimas se concentra na faixa de 60 a 70 anos (35,7%), e as mulheres representam 62,21% desse quantitativo.
*Estagiária sob supervisão de Marina Mercante
Vulneráveis
Casos no DF entre 2008 e 2018, por tipo de violência
Psicológica 4.955 (30,84%)
Negligência 4.928 (30,68%)
Financeira 2.867 (17,85%)
Física 2.526 (15,72%)
Abandono 464 (2,89%)
Autonegligência 156 (0,97%)
Sexual 81 (0,50%)
Não identificado 88 (0,55%)
Total 16.065