Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Beleza em doses homeopáticas

Entre os amarelos, os rosas, os roxos e os brancos, a vida toda me derreti pelos primeiros. Nas esquinas, nas praças ou no meio do cerrado, os ipês-amarelos me arrebatam. Quanto aos brancos, os últimos na minha escala de preferência, achava-os meio sem graça, frágeis demais, fugazes ao extremo. Nem bem a florada dá as caras e... puft...! acabou.

Mas eis que, neste 2019, Brasília me deu a oportunidade de me redimir com os ipês-brancos. Preciso reconhecer que fui injusta com a espécie. E só descobri isso depois que alguém ; não sei se morador ou se jardineiro da Novacap ; plantou algumas árvores perto da minha casa e ao longo do caminho que percorro diariamente até a escola dos meus filhos. Começou assim a minha descoberta:

; Crianças, vamos tentar adivinhar qual é a cor da florada destes ipês aqui à esquerda da pista? Todos nós apostamos numa cor (eu já sabia qual era) e esperamos, dia após dia, as flores embranquecerem os galhos daquelas árvores. Quando elas surgiram, as crianças nem lembravam mais em quais cores chutaram. E nos alegramos com a chegada delas.

Poucos dias depois, como era de se esperar, uma ou outra continuava ali, até que desapareceram por completo, restando apenas os galhos secos. E a rotina seguiu seu curso. Até que, semanas depois, como uma miragem, comecei a ver pontinhos brancos naqueles ipês. E, em pouco tempo, a árvore estava completamente tomada por flores. E logo depois; puft...! elas se foram. E hoje (ontem para vocês que me leem neste momento), quando seguia a caminho do trabalho, notei que os ipês-brancos voltaram a florir. É a terceira vez nesta temporada.

Cheguei à conclusão de que as plantas dessa espécie são mais generosas com quem se dedica a olhá-las também com mais generosidade. E que sua beleza vem e vai em doses homeopáticas. A mesma beleza de quando nos deparamos com a empatia inesperada de alguém. Ou quando fazemos algo no impulso por outra pessoa, e o nosso coração se aquece com a felicidade do próximo. Ou quando, depois de correr o olho em tanto discurso de ódio nestes tempos sombrios, nos deparamos com alguém fazendo a defesa do respeito ao outro, à educação, ao meio ambiente, à mulher, às minorias e por mais justiça social para este país tão perdido.