O frei Rafael Pinheiro Normando, responsável pelo santuário, explica que a tradição é esperada por muitas pessoas e que é uma forma de agradecer e louvar a Deus pela sua criação. ;O próprio rito da bênção diz que nós agradecemos pelo dom dos animais. Eles nos ajudam. Muitas pessoas são curadas da depressão devido à companhia de um bichinho. Claro que não substitui a companhia de uma pessoa, mas o ser humano precisa ser cuidado e, principalmente, cuidar de algo;, conta.
O sacerdote, dono do golden retriever Bonaventura, diz que seu cachorro participa do cotidiano da igreja. ;Falo por experiência própria que a relação com o animal é algo bastante puro. Traz uma harmonia para dentro das nossas casas;, reconhece.
Integrante da paróquia há 20 anos e voluntário na organização da missa, o servidor Marcelo Ponte, 40 anos, destaca que desde a criação da igreja em 1981, o espaço é lugar de devoção dedicado aos fiéis e que a estimativa é receber mais de 5 mil pessoas na igreja no dia de São Francisco. De acordo com Marcelo, a paróquia recebe pessoas de outros estados e, até mesmo, não praticantes da religião católica para receber as bênçãos dos animais no dia do padroeiro nesta sexta-feira (4/10).
Marcelo explica que, para muitos donos, os animais fazem parte das famílias e acolhê-los em ambiente religioso segue os preceitos de São Francisco, que defendia a fraternidade, o amor e o carinho entre os seres vivos. ;É como levar um filho para ser abençoado, extrapola a religião, os donos dos bichinhos fazem isso como uma forma de proteção para o animal;, conta.
Devoção
Gerlania Ribeiro de Moraes, 33, é fotógrafa e dona do labrador Vitão. Ela explica a participação de seu companheiro de quatro patas nas festividades em homenagem a São Francisco de Assis. ;Eu tenho um carinho muito especial pelo santuário. Eu me sinto acolhida naquele lugar, costumo chamar de meu lugar de paz. Quando descobri que tinha a bênção dos animais, não pude levar o Vitão no primeiro ano de vida dele, mas, em 2017, prometi que o levaria e que ele iria vestidinho de frei;, revela.
A fotógrafa, que é católica, afirma que a presença do Vitão na igreja lhe faz muito bem. ;Ter o Vitão comigo em um dos lugares onde eu me sinto bem acolhida, e ver ele vivendo tudo isso comigo, é maravilhoso. É o dia em que posso fazer minhas orações e viver a comunhão com o meu amigão do lado;, desabafa. Gerlania lembra que o animal foi um presente de casamento. ;Hoje não consigo imaginar minha casa e a nossa vida sem ele, ele traz alegria pra casa. É incrível como depois de um dia estressante de trabalho, ver a alegria dele, porque, quando chegamos, ele alivia todo o nosso cansaço, todo o estresse do dia.;
A auxiliar administrativa Rejane Lopes Neto, 31, afirma que a devoção por São Francisco também veio de família. ;Para nós, católicos, é uma tradição. Desde pequena sempre fui muito protetora, sempre resgatei animais, e minha mãe falava para eu rezar para São Francisco de Assis abençoar os animaizinhos da rua. Mesmo sem entender direito, eu fazia. Hoje entro em algumas clínicas veterinárias e a primeira coisa que me chama a atenção é a imagem de São Francisco de Assis. É de se emocionar! Trazê-los nesse ambiente, nada mais é do que sentir o amor de Deus de perto;, explica.
Frequentadora da missa há três anos, Rejane ressalta que a presença do bichinho no ambiente em que todos estão dispostos a acolher é um diferencial. ;O amor, o carinho e a humildade de São Francisco de Assis são levados a sério por todos os frades da igreja. A gente sente que eles gostam, e recebem os pets com muito amor;.
A economista aposentada Thus Frick, 65, sempre foi preocupada com os animais abandonados nas ruas. ;Tenho diversos animais. Resgato, cuido, levo ao veterinário para vacinas e tratamentos e, logo em seguida, encaminho para adoção;, alega. Ela comenta que frequenta a missa dedicada aos pets há 13 anos. ;Desde que vim morar em Brasília, frequento essa missa e levo meus animais. Sou devota de São Francisco de Assis, protetor dos bichinhos;, diz.
A ligação com os animais é algo que traz paz ao coração. ;Eles são a minha família. Fazem bem e me enchem de energia e de amor. Eu me sinto feliz por tê-los ao meu lado. Cuidar de um animal é contribuir para um mundo mais humano e saudável, física e psicologicamente;, acrescenta.
Thus comenta que os animais que resgata vêm de situações de muito sofrimento, e há casos de abandono ou, inclusive, maus-tratos. ;Receber a bênção de São Francisco é importante para que eles tenham uma chance de encontrar uma boa família que os adotem.; Para ela, abrir as portas da igreja para receber os animais é um ato de compaixão e uma atitude extremamente humana. ;É o reconhecimento e respeito a esses seres que merecem todo nosso amor;.
A estudante Camila Miranda, 21, dona duas cadelas, Bella e Kitty, destaca que quando foi à missa de bênção aos animais no santuário era mais nova e se divertiu bastante com a presença dos animais na igreja. ;Foi divertido, porque tinham várias pessoas com animais também e eu era mais nova e muito apaixonada pelos bichinhos;. Inclusive, Camila comenta que a participação no evento foi um pedido especial de suas irmãs. ;É uma forma de entregar no colo de Deus aqueles que estão com a gente, os animais são criaturas Dele e merecem cuidado também;, conclui.
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira
Protetor dos animais
Nascido em Assis, na Itália, São Francisco dizia que para ele todas as criaturas eram obras de Deus, e as chamava de irmãos. Em carta apostólica escrita em 1999, o papa João Paulo II proclamou, o santo ;celeste padroeiro dos cultores da ecologia;. Francisco via em toda a criação a presença de Deus. De modo especial, se tornou defensor dos animais, pela proximidade maior com os seres humanos. Para ele, toda a criação está conectada.