A violência contra a mulher está com frequência nas manchetes dos jornais. Relatar os tristes casos já faz parte da rotina dos jornalistas do país. Em busca de que essas mulheres não sejam apenas um número na estatística, veículos de comunicação tentam usar a informação, também, como ferramenta de luta contra os casos de violência. O tema foi discutido ontem na Câmara dos Deputados em uma audiência pública requerida pela deputada federal Flávia Arruda (PR-DF). A coordenadora de produção da editoria de Cidades do Correio, Adriana Bernardes, compôs a mesa.
Durante a audiência, as jornalistas presentes comentaram as coberturas jornalísticas nos veículos de comunicação, ante os casos de violência contra a mulher. No Correio, a abordagem do tema vai além da notícia, fazendo também uma reflexão sobre a situação, além de informar a população sobre os serviços e as redes de apoio às mulheres vítimas de violência.
;A gente tenta fazer uma abordagem humanista e uma cobertura propositiva. Não é só dar a notícia. A gente faz uma análise, traz especialistas, pesquisadores para discutir a questão. Se a gente não encontrar um novo caminho, esses casos de violência vão virar algo banal, um mero número;, ressaltou Adriana.
A jornalista destacou que o mesmo questionamento que paira sobre a redação ; sobre o porquê de tantas mulheres estarem morrendo e o que pode ser feito para acabar com isso ; é feito também nas coberturas, seja por meio de artigos, análises de especialista ou reportagens especiais. ;A cobertura é, sim, um desafio imenso. Nós vivemos em uma sociedade em que o machismo está consolidado. O desafio é não reproduzir esses preceitos machistas que acabam construindo uma cultura em que alguns homens acham que podem tudo, inclusive matar;, disse.
A deputada federal Flávia Arruda destacou o papel da imprensa no combate à violência e frisou que é pela mídia que a população se informa e fica por dentro dos problemas do país. ;É essa colaboração que cada veículo tem feito que muitas vezes nos norteiam. A gente mal acorda e já recebe uma notícia sobre mais um caso de feminicídio. E fica a pergunta: em que mundo estamos vivendo? É uma cultura arraigada, um machismo que ainda impera;, enfatizou.
Outra participante da mesa, a jornalista Luciana Araújo, da Agência Patrícia Galvão ; parte de uma organização feminista de mesmo nome ; enfatizou a importância do uso do termo feminicídio pela imprensa. ;Cada vez mais pessoas na sociedade conseguem perceber a importância de dar nome a um crime por ser mulher, para que a gente possa ter, de fato, políticas públicas capazes de reverter esse cenário;, afirmou. Já Renata Varandas, da RecordTV, destacou o desafio das emissoras de televisão em noticiar casos de violência contra a mulher enquanto disputam audiência. ;Eu acho que a gente tem avanços, mas a gente ainda tem muito caminho pela frente, ainda precisa tomar muita consciência;, pontuou.
A audiência também contou com a presença de representantes de movimentos que buscam combater a violência contra mu-lher. ;A gente precisa que a imprensa esteja sempre atuante conosco, como uma forma de dar força para as mulheres saírem dessa situação e estarem dispostas a denunciar;, comentou a fundadora do Mulheres Feminicídio Não, Lúcia Erineta.
No fim da audiência, a deputada convidou as jornalistas a montarem um grupo de trabalho para a confecção de um documento, uma espécie de manual, que ajude os profissionais da imprensa a fazerem uma cobertura humanista e mais qualificada, para que a cultura do machismo não seja propagada.