Cidades

Crime da 113 Sul: perito de defesa usou técnica do FBI para analisar caso

O especialista Sami El Jundi afirma ter encontrado indícios de que o crime se tratou de latrocínio e contestou tese da acusação

Walder Galvão
postado em 29/09/2019 16:41
Julgamento de Adriana Vilela

No sétimo dia de julgamento de Adriana Villela, a defesa da ré levou um perito criminal contratado para analisar informações do processo, como laudos periciais de corpo e local. Sami El Jundi trabalha no Instituto Geral de Perícias do Rio Grande Sul (IGP/RS) e fez um "exercício de retrospectiva sobre o caso". A técnica, segundo ele, é usada pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.
Sami definiu a família Villela como "vítimas de baixo risco para violência". "Eles moravam em um ambiente relativamente seguro. A exceção a isso é a condição patrimonial," analisou. Para ele, uma condição econômica elevada, como a que os pais de Adriana tinham, aumenta o risco para crimes contra o patrimônio. "Temos três vítimas e ao menos dois padrões de arma branca, que nos apontam a existência de dois agressores no local," continuou.

O perito destacou que elementos colhidos durante as análises periciais indicam que o crime não se tratou de um homicídio. Os autores, segundo a análise de Sami, teriam entrado no apartamento para roubar, mas, por algum motivo, acabaram matando as vítimas. "[Os assassinos] Não tinham motivo para interromper o ato criminoso, pois as vítimas não apresentavam mais perigo", defendeu.

Dinâmica do crime


Questionado se a análise não poderia ser usada para indicar um homicídio, Sami refutou a possibilidade: ;A própria incompletude do ato mostra isso. Se tivessem entrado para cometer um homicídio, teriam todo tempo do mundo para completar o ato. Eles não vão para matar a vítima e aproveitam a oportunidade para cometer o roubo," acredita.

Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde os Villela moravam e um dos três condenados pelo triplo homicídio, prestou diversos depoimentos à polícia, com diferentes versões sobre o crime. Inicialmente, ele afirmou ter participado dos assassinatos, porém, em outra confissão, afirmou que Adriana era a mandante e que não entrou no imóvel. Hoje, ele diz que é inocente.

Ao júri, Sami mostrou que os detalhes que Leonardo dá sobre a dinâmica do crime são compatíveis com o primeiro depoimento dele. A forma como ele descreveu a morte das vítimas é praticamente a mesma mostrada pelo laudo. Além disso, o depoimento do condenado é semelhante ao de Paulo Cardoso Santana, outro condenado pelos assassinatos.

Médico por formação, Sami atuou em outros casos de grande repercussão no país. Em 2016, ele trabalhou para Elize Matsunaga, assassina confessa do ex-marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, condenada por homicídio, além de destruição e ocultação de cadáver. O perito ainda participou do processo de exumação do corpo ex-presidente João Goulart, feita para realização de exame toxicológico.

Entenda o caso


Adriana Villela é suspeita de encomendar o assassinato dos próprios pais, o ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Carvalho Mendes Villela, além de Francisca Nascimento Silva, que trabalhava com a família havia 30 anos. Em 28 de agosto de 2009, os três foram esfaqueados até a morte no que ficou conhecido como crime da 113 Sul.

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