Jornal Correio Braziliense

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Crônica da Cidade

Bruxo emérito
Hugo Rodas é o nosso bruxo emérito do teatro. Darcy Ribeiro dizia que só se fazem mestres com mestres. Com 80 anos, ele é um adolescente nato, não importa com que idade esteja, permanentemente disposto a transgredir os limites estéticos e a experimentar novas formas de experimentação.

Por isso mesmo, ele sempre vive rodeado de jovens, embora todos sejam caretas diante dele. É difícil encontrar um ator brasiliense que não tenha sentido o impacto das experiências cênicas de Hugo. Com o grupo Amacaca, ele faz uma associação perfeita: a experiência de mestre e a força jovem.

Em um texto para a inspirada remontagem de Os saltimbancos, o maior sucesso da história do teatro candango, a trupe Amacaca diz: ;Ele é o nosso guru das artes do movimento, que é o músculo onde funda o seu discurso poético e é o que o espectador deve apreciar;. E, de fato, Hugo só acredita nos deuses que saibam dançar.

Amacaca é uma trupe que não joga para zero a zero. Atua sempre no ataque. Ataque de humor, de lirismo, de humanismo, de ritmo e de graça. Eles são os próprios saltimbancos candangos. Hugo celebra o encontro: pela primeira vez, conseguiu juntar uma orquestra de atores. Orquestra de dançarinos que contam histórias, de atores que fazem acrobacias e de contadores de histórias que cantam.

Hugo foi reverenciado por Fernanda Montenegro, Antônio Abujamra, Dulcina de Moraes e Zé Celso Martinez. Zé Celso, diretor do Teatro Oficina, escreveu sobre Hugo em livro dedicado ao brasiliense, sob a coordenação de Karla Osório: ;Numa entrevista recente do diretor Antunes (Filho), seu lamento pelo luto ainda por Pina Bausch, Kazu Ohno me pirou; esse diretor dos diretores brasileiros não sabe que existe no seu nariz, aqui, no Hemisfério Sul, Hugo Rodas. Esse gênio que vai muito além do que esses que foram grandes artistas mas contidos, civilizados, caretas, do Hemisfério Norte;.

O espetáculo Saltimbancos foi montado com apoio parcial do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Que disse eu? Cadê o FAC que estava aqui? A interrupção do FAC pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa provoca sérios prejuízos à produção cultural brasiliense.

Em parecer elaborado pelo procurador Marcos Felipe Pinheiro, ele argumenta que existem indícios de ;transgressão de princípios administrativos relacionados à legalidade, transparência, motivação, eficiência, finalidade, razoabilidade, proporcionalidade e proteção à confiança;.

Espero que o Tribunal de Contas do DF julgue com a máxima presteza o processo do FAC. Não são os políticos que criam uma imagem positiva de Brasília. É a cultura que nos confere dignidade.