O primeiro dia do julgamento de Adriana Villela teve atrasos e mudanças de cronograma. Das quatro testemunhas de acusação intimadas para prestarem depoimento nesta segunda-feira (23/9), apenas uma foi ouvida. O relato, da delegada aposentada Mabel Alves de Faria Corrêa, durou aproximadamente nove horas e, por isso, o juiz titular da Vara do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Rogério Santos Giordano, optou por postergar os demais para esta terça-feira (24).
A arquiteta e artista plástica Adriana Villela, 55 anos, é acusada de ser mandante do assassinato dos próprios pais, José Guilherme Villela, 73 anos, ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a advogada Maria Villela, 69, além da empregada da família, Francisca Nascimento Silva, 58. Há outros três condenados pelo crime. Eles cumprem pena no Complexo Penitenciário da Papuda (Veja Perfil).
Única a depor no primeiro dia, Mabel criticou o trabalho da Polícia Civil. "Jamais enfrentei uma situação como a daquela época, que a minha própria instituição trabalhava para que a investigação caminhasse para o que não é a verdade". À época das investigações, ela fazia parte da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), divisão da Polícia Civil que trabalhava em casos de homicídios sem soluções, semelhante ao trabalho que a Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP) faz atualmente.
A delegada também ressaltou a relação conflituosa entre Adriana e a mãe, a advogada Maria Villela. A filha recebia uma mesada de R$ 8,5 mil, mas, segundo testemunhas, considerava o valor baixo e, por vezes, era violenta com os pais.
A promotoria inquiriu a testemunha a respeito da interceptação do celular de Adriana. O álibi da arquiteta é que ela fazia um curso no momento em que tudo aconteceu. No entanto, torres de celular indicaram a localização dela próximo ao apartamento minutos antes.
De acordo com o procurador Maurício Miranda, não há dúvidas da participação de Adriana no crime. "As vítimas foram amarradas e ficaram à disposição de alguém. Ela foi a mandante do crime, motivado por atritos financeiros", afirmou.
Para sustentar a defesa, o advogado da acusada, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido por Kakay, questionou a demora de cerca de 9 meses até que a Corvida interrogasse Leonardo, ao que ela alegou haver uma série de diligências sendo feitas diariamente. O advogado destacou também que, apesar de Adriana ser acusada de ter depredado um apartamento dos pais na Asa Sul, nenhuma perícia foi feita no local. "Nós ouvimos testemunhas, mas era uma situação antiga, impossível de perícia", defendeu-se Mabel.
Um laudo pericial revela que papiloscopistas identificaram a impressão da palma de Adriana em um armário em frente ao ponto onde foi encontrado o corpo de Maria Villela, prova que a defesa da ré refuta. "Não há um único indício da participação dela e o que ajuda na defesa da Adriana é a inocência dela", disse Kakay.
A expectativa é de que, nos pelo menos cinco dias de julgamento, 39 pessoas sejam ouvidas: 17 de acusação e 22 de defesa. Entretanto, o juiz ainda pode dispensar alguns nomes e pode haver faltas.
O perfil dos três dos acusados de cometer o crime
Leonardo Campos Alves
- Ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul, local do crime
- Disse ter sido agredido para confessar o triplo homicídio
- Foi preso em 2010 em Montalvânia (MG)
- Condenado em 2013 a 60 anos por três homicídios e furto qualificado, sem direito de recorrer em liberdade
Paulo Cardoso Santana
- Sobrinho de Leonardo Campos Alves
- Terceiro acusado do assassinato da 113 Sul
- Condenado em 2016 a 62 anos e um mês de reclusão, em regime inicial fechado, mais multa na ordem de 1/30 do salário mínimo cada dia, por 20 dias
- Também foi detido em Montalvânia (MG) em 2010
- Apontado como comparsa de Leonardo
Francisco Mairlon
- Condenado em 2013 a 55 anos de prisão por três homicídios e furto qualificado, sem direito de recorrer em liberdade
- Apontado como comparsa do crime por Leonardo e Paulo
Colaborou Maria Eduarda Cardin