Caroline Cintra
postado em 21/09/2019 07:00
;As pessoas têm muito preconceito com o Alzheimer. Acham que a pessoa começa a falar um monte de bobagem e fica desligado do mundo. Com meu marido não foi assim. Ele continuou sendo o mesmo homem educado com todos. Continua sempre cheiroso e limpo como sempre gostou de estar. É o rei da nossa casa;, disse a aposentada Ana Maria Maciel, 78 anos. Casada com o ex-vice-presidente da República Marco Maciel, 79, diagnosticado com a doença em 2001, ela assumiu todos os papéis dentro de casa. Para ela, a paciência e o amor ; construído ao longo dos 52 anos de casados ; são a receita para enfrentar a enfermidade.
Os primeiros sinais da doença mais se assemelhavam aos da depressão. Maciel começou um tratamento e meses depois veio o diagnóstico do Alzheimer. ;Até 2014, a doença evoluiu negativamente, porque, como era político, as pessoas perguntavam sobre fatos históricos e ele não conseguia lembrar. Ele percebia o esquecimento e ficava constrangido. No fim de 2014, ele não quis mais sair, só para consultas e coisas corriqueiras. Agora, está em fase avançada;, afirma. Sem andar e falar, o ex-vice-presidente conta com o auxílio da mulher e de uma equipe de profissionais para as atividades do dia a dia.
Em 21 de setembro é lembrado o Dia Mundial do Alzheimer. A doença é neurodegenerativa progressiva e se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais. Ela acomete em grande parte idosos e representa cerca de 50% a 75% dos casos de demência no mundo, sendo o tipo mais frequente da enfermidade cerebral. Suas causas ainda não são totalmente conhecidas.
Dados do Instituto Alzheimer Brasil (IAB) estimam que existem mais de 45 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo e que esse número deve dobrar a cada 20 anos. Apenas no Brasil, onde hoje há mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acredita-se que quase 2 milhões de pessoas têm demências, sendo que de 40 a 60% delas são do tipo Alzheimer.
No DF
O DF tem cerca de 450 mil idosos. Desses, 8% têm algum tipo de demência, incluindo Alzheimer, segundo os dados mais recentes do Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2015. ;No DF, a gente vive uma realidade diferente do restante do Brasil, em termos de Plano Piloto, um dos maiores pólos de desenvolvimentos de saúde ; o que não é uma realidade integral das cidades satélites. O DF oferece acesso a consultas com médicos que podem avaliar a memória da população;, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do DF (SBGG-DF), Thiago Póvoa.
Ele destaca que a doença pode ser prevenida a partir de alguns cuidados com a saúde. ;Não fumar, não consumir bebida alcoólica, fazer exercícios físicos, controlar pressão alta, colesterol. Estamos divulgando bastante isso, porque nossa missão é ser multiplicador. É uma questão de conscientização social;, afirma. ;O que é bom para o coração é bom para o cérebro;, acrescenta.
Assim tem feito a aposentada Domingas Gentil, 72. Desde que o marido, Osmar Gomes, 83, foi diagnosticado com Alzheimer, ela começou um trabalho social de apoio a familiares de pessoas com a doença. O projeto Cuidar com Harmonia reúne cuidadores nos terceiros sábados de todo mês, na Escola Classe 410 Sul, das 15h às 17h. Ela atuou como enfermeira no Hospital Sarah Kubitschek por 36 anos e leva os ensinamentos nas reuniões. ;Nos encontros, a gente pratica paciência, tolerância, ser amável e proporcionar cuidados para melhorar a qualidade de vida da nossa pessoa (com Alzheimer). Pode participar quem quiser. É gratuito;, convida.