Humberto Rezende, Ana Maria Campos
postado em 19/09/2019 06:00
A marca é conhecida há décadas pelos brasilienses, especialmente por aqueles interessados em se alimentar de forma saudável. Há cerca de oito meses, porém, a palavra Malunga saltou dos rótulos que embalam verduras e legumes orgânicos vendidos em diversos supermercados do Distrito Federal para a fachada de uma loja na CLN 315. E, depois dessa primeira, brotaram mais quatro: uma na Asa Sul, duas em Águas Claras e outra no Sudoeste.
O Mercado Malunga é quase uma extensão da fazenda de mesmo nome, localizada a 70km de Brasília. Criada ainda nos anos 1980 pelo engenheiro florestal Joe Valle, a propriedade se tornou a maior produtora de hortaliças orgânicas do país. Nada mais natural, portanto, que um empreendimento tão bem-sucedido se desdobrasse em outras iniciativas, especialmente com o rápido crescimento do mercado de produtos sustentáveis nos últimos anos.
Valle, no entanto, relutou em dar esse novo passo. Até o ano passado, exercia o mandato de deputado distrital. Presidente da Câmara Legislativa, ele era considerado um nome forte para a corrida ao GDF. Via-se, assim, em uma encruzilhada, na qual deveria escolher entre continuar no caminho da política ou voltar a se dedicar apenas ao mundo dos alimentos saudáveis.
Dois fatores pesaram na escolha pela segunda trilha. O primeiro, o desejo da família, que acabou expresso em uma carta escrita pela filha e que Valle até hoje leva armazenada no celular. O segundo foi o convite feito por empresários do ramo atacadista, hoje seus sócios no mercado. ;Já tínhamos recebido outras propostas, mas nenhuma interessante. Um dia, veio essa, acompanhada de um sonho: mudar o jeito de as pessoas se alimentarem em Brasília. Era o clique que faltava, porque sou movido a desafios;, conta.
Grande variedade
Decisão tomada, Valle mergulhou de cabeça e não esconde o entusiasmo ao falar do negócio. As cinco primeiras lojas, que hoje empregam cerca de 60 funcionários, já são a maior rede de produtos exclusivamente orgânicos do país, com faturamento projetado para o primeiro ano na casa dos R$ 25 milhões.
No mercado, os clientes encontram uma grande variedade de itens, não só produzidos na Fazenda Malunga, mas também por diversos parceiros, como produtores familiares do DF e do Entorno; a fazenda do ator Marcos Palmeira, no Rio de Janeiro; e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), hoje a maior organização produtora de orgânicos do país.
Com os fornecedores, a oferta nas lojas vai de frutas, verduras e legumes até arroz, feijão, carne e peixe, passando ainda por leite, queijo, café, açúcar, refrigerante e até produtos de higiene, como sabonetes, sabão em pó e pasta e escova de dentes. Todos devidamente certificados e com os comprovantes à disposição dos clientes, diz Valle.
Para quem se espanta com o fato de existir até pasta de dente orgânica, Valle dá a definição de um produto merecedor de tal selo: ;Existe uma lei nacional que estabelece o que é um produto orgânico. Mas, dizendo de forma simples, é aquele feito sem o uso de ingredientes químicos de síntese, sem agrotóxicos ou adubos químicos, com respeito às pessoas e ao meio ambiente;.
Bem-estar
O respeito às pessoas, por sinal, é uma das preocupações de Valle e seus sócios ao projetar o modelo de negócios do Mercado Malunga. Pensando no bem-estar da equipe de funcionários, decidiram não abrir aos domingos nem aos feriados, prática comum no setor.
Valle explica que o lema que os guia é ;alimento saudável, felicidade para todos;, o que inclui os agricultores. Uma das ações a ser implementada, tão logo as lojas se estabilizem, é criar um fundo que servirá para investir em pequenos produtores locais, que serão capacitados a produzir orgânicos e fornecê-los ao Malunga. Forçar o preço para baixo e deixar o fornecedor em dificuldade, portanto, está fora de cogitação, garante. ;É felicidade para todos mesmo;, ressalta.
Assim, o preço dos produtos pode, sim, ficar acima dos convencionais, algo ainda comum no setor de orgânicos. Os sócios, no entanto, não desistem da missão de popularizar ao máximo os alimentos saudáveis e sustentáveis. Em alguns itens, dizem, já conseguem equiparar o preço ao de produtos convencionais. E a meta é tornar uma compra em uma das lojas no máximo 30% mais cara do que em um supermercado tradicional. O ganho com saúde, lembram, compensará o investimento.
;A gente quer que seja com um preço razoável, não aquela coisa de butique. Somos um mercado em que a classe média pode se alimentar com orgânicos saudáveis;, explica Valle. Com tanta disposição e resultados iniciais tão positivos, os planos de expansão não param. No segundo semestre de 2020, a primeira loja fora do DF será aberta em São Paulo, e o objetivo é estar presente em pelo menos cinco capitais a médio prazo. ;Vamos ser o Whole Foods brasileiro;, afirma com convicção Valle, citando o gigante dos orgânicos norte-americano.
Exemplo
É uma grande rede de supermercados dos Estados Unidos que comercializa produtos naturais, orgânicos.
A rede brasiliense
5
Total de lojas abertas nos primeiros oito meses
60
Número aproximado de funcionários
25 milhões
Faturamento estimado para o primeiro ano de funcionamento