Setembro chegou e, com ele, a explosão dos ipês-amarelos. A chama dourada da árvore símbolo de Brasília rasga o azul límpido do tempo seco na cidade. Um cenário de tirar o fôlego de nativos e visitantes. Não há pressa que resista a uma selfie sob os cachos que parecem guardar pequenos raios de sol.
Nas ruas, nos canteiros, nos parques, em pedacinhos inusitados da nossa terra vermelha. Eles atraem olhares e, acreditem, companhias. Muitas. Não basta olhar, tem que chegar junto. É uma alegria em forma de flor. A Flor Nacional, conforme decreto do presidente Jânio Quadros, em 1961.
O encantamento é seguido, quase sempre, de um profundo suspiro que precede um sorriso de orgulho. O brasiliense adora, ama de paixão o ipê-amarelo. Nada mais natural. A exuberância da florada é proporcional ao clima. Quanto mais frio e seco, muito mais flores. E cores. Antes dos amarelos, vieram os cor-de-rosa, os roxos e agora chegam os brancos. O amarelo, no entanto, é campeão! "Puro êxtase", para lembrar o rock do Barão Vermelho. A árvore cascuda, na língua tupi, é uma demonstração do quão surpreendente a natureza sabe ser. Quem poderia imaginar que da madeira resistente e áspera, da família das Bignoniáceas, desabrochariam pétalas delicadas, brilhantes e apaixonantes como as das flores dos ipês-amarelos?
O encantamento é geral. Dos beija-flores aos pedestres e motoristas. Quem passa próximo à Rodoviária de Brasília, no coração da capital, pode ver três exemplares. E pode sentir a admiração de quem está perto. O ônibus pode esperar, o compromisso pode atrasar. É irresistível. É impossível passar incólume. Olhar dá prazer. Fotografar é uma tentativa de prolongar a sensação, de esticar o tempo, de preservar a beleza. Elas duram pouco. Logo caem ao chão, formando um vivo tapete, que dá vida à terra e à vegetação esturricadas pela seca.
O amarelo profundo, praticamente impossível de ser copiado por habilidosas mãos e olhares de artistas, não é só bonito aos olhos. Na correria do dia a dia, o tom intenso nos arrebata, nos alegra e nos faz ver que a esperança, em Brasília, não é verde. É amarela. Tem a cor do nosso ipê. É aquela cor que aguardamos para colorir a nossa cidade. É a cor que guardamos no peito e a que nos faz seguir com a sensação de que poderia ter ficado mais um pouquinho, mas com a certeza de que nos encontraremos no próximo ano.
"...Sol de primavera Abre as janelas do meu peito..."
(Sol de Primavera/Beto Guedes e Ronaldo Bastos)