Umidades baixas e altas temperaturas marcam esse período da seca no Distrito Federal. A última quinta-feira foi o dia mais quente do ano, com máxima de 34,7;C (33,4% no Plano Piloto) e umidade relativa do ar de 11%, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Não chove há 103 dias, e a previsão é que não haja precipitações até semana que vem. ;A tendência é que em outubro caia chuva, baseado na média histórica. Mas, mesmo assim, não podemos prever;, explicou Olívio Bahia, meteorologista do Inmet.
O período de estiagem contribui para um outro problema: os incêndios florestais. Dados do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) mostram que, de 1; de janeiro a 10 de setembro, mais de 8 mil hectares foram queimados no DF, totalizando 6,4 mil ocorrências.
Só neste mês, 2 mil hectares sofreram queima, e a corporação combateu mais de 1 mil chamados. No ano passado, o total de ocorrências do mesmo tipo foi de 6,4 mil, atingindo mais de 7 mil hectares.
Na manhã de ontem, parte do Parque Ecológico de Águas Claras ardeu em fogo e assustou os moradores da região. As chamas começaram por volta das 11h, e o Corpo de Bombeiros das unidades de Águas Claras e do Núcleo Bandeirante chegou ao local cerca de 10 minutos depois. A operação para controlar o incêndio durou quatro horas. Doze militares e duas viaturas atuaram no combate, além de oito brigadistas do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
O Parque Ecológico de Águas Claras tem mais de 95 mil hectares e dispõe de uma estrutura de trilhas, lagoas e árvores frutíferas. Além disso, é possível encontrar animais como capivaras, gansos, tucanos e bem-te-vis. Felizmente, não foi encontrado nenhum animal morto na área atingida.
Segundo o tenente Marcelo de Abreu, a corporação utilizou 12 mil litros de água, bombas costais e abafadores para apagar o fogo, considerado de média a grande proporção. ;Levamos três horas só para apagar as altas chamas. Não sabemos ainda o que pode ter motivado o incêndio;, explicou. No total, mais de 38 hectares foram devastados pela queimada. Em nota oficial, o Ibram informou que existem suspeitas de que as chamas teriam começado após rituais religiosos realizados na noite da última quinta-feira.
A enfermeira Lívia Depieri, 39 anos, mora em um edifício em frente ao parque. Ela estava no apartamento no momento em que a queima começou. ;Ouvi muitas sirenes e viaturas dos bombeiros chegando. Fiquei assustada e com o coração partido;, disse. Lívia conta que costuma frequentar o local todos os dias para fazer caminhada. ;Quando me dei conta de que toda aquela área estava devastada, eu chorei, porque lembrei do tanto de animais que têm ali. Tem tatu, capivara, passarinho e coruja. É uma tristeza;, lamenta.
O autônomo Lázaro Gomes, 45, também é morador da região. Ele viu uma postagem em um grupo do Facebook sobre o incêndio, mas não acreditou e decidiu ir até lá confirmar. ;Foi a primeira vez que vi algo desse tipo aqui. É uma dor no coração. Considero aqui como o quintal da minha casa, por estar sempre vindo pedalar. Esse é um parque maravilhoso, que merece nossa atenção, mas, infelizmente, às vezes, vejo pessoas não valorizarem esse patrimônio, elas jogam bituca de cigarro na grama e não estão nem aí;, questiona.
Impactos
Segundo o professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Rafael Rodrigues da Franca, um incêndio como esse de Águas Claras, pode trazer sérios impactos ao clima da cidade. ;O conforto térmico da região tende a se abalar quando uma queima de grande proporção atinge determinada área. Quem frequenta aqui à noite, sabe o quão a mata proporciona um ar fresco, é uma espécie de ar-condicionado natural. Mas, infelizmente, com o incêndio, a temperatura tende a elevar, especificamente em Águas Claras;, detalha ele, que é especialista em climatologia.
O tenente do CBMDF Marcelo de Abreu orienta a população. ;Evite jogar cigarros, fósforos acesos ou qualquer material que possa criar um ponto de ignição em uma vegetação. Por conta do período da seca, o fogo propaga com mais facilidade;, alerta.
Outros incêndios
Na última quinta-feira, por volta das 16h, um incêndio florestal atingiu uma vegetação próximo ao Colorado. Quarenta militares e seis viaturas atuaram no combate. No mesmo dia, o fogo consumiu outros três lugares. Uma delas foi próximo ao Morro da Capelinha, em Planaltina. Outro, também na mesma região, atingiu um milharal nas proximidades da BR-020. O terceiro queimou uma área próxima ao Polo de Modas de Sobradinho.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira