Jornal Correio Braziliense

Cidades

Joana do ar

Conheci Joana Duah no gramado do Sigma, o colégio em que estudávamos na adolescência. Ela era só Joana e tinha 13 anos, acho, e eu era o Beto, e tinha 15. Achamos a mesma turma e viramos amigos. Amigões. Desde aquela época, ela queria ser cantora e eu, também. E, de alguma forma, nós dois viramos cantores, mas ela pra valer e eu meio que por hobby.

Com o tempo, fomos nos afastando, mas nunca nos esquecendo, tenho certeza. O olho de um ainda olha para o outro, eu sei. Joana aparece, eu paro e presto atenção. Como ontem, quando folheava este Correio e cheguei a uma página com a foto dela. Pausei a mão e fui ver o que dizia a matéria de minha colega Hannah Sombra.

Descobri que Joana se apresenta hoje no Clube do Choro com o espetáculo Bicho encantador, no qual vai apresentar suas próprias canções. ;Canções próprias, no Dia da Independência!”, pensei. E achei lindo. Porque acompanhei, às vezes de perto, às vezes a distância, sua jornada para ser uma artista livre, com voz própria, que mostra as próprias ideias.

Acredito que eu tenha presenciado a primeira apresentação de Joana. Foi na semana cultural do Sigma. Ela subiu ao palco e cantou Raindrops keep falling on my head. O nervosimo a fez esquecer a letra e substituir versos como ;But there;s one thing, I know / The blues they sent to meet me won;t defeat me; pelos dias da semana em inglês. Mas ali estava, já, sua intenção em ser uma artista autêntica. A molecada que a ouvia não fazia a menor ideia de quem era Burt Bacharach, que imortalizou aquela canção, mas foi o que Joana escolheu para cantar.

Alguns anos depois, Joana entrou em uma das mais importantes bandas de Brasília surgidas nos anos 1990. No Maskavo Roots, era a única mulher no meio de seis homens. E brigou bastante, com coragem, para ser a artista que sempre se soube, recusando o papel de mera backing vocal bonita no qual o machista rock;n;roll sempre gostou de colocar as mulheres.

Ali, amadureceu, descobriu que cantar era mesmo o que amava fazer e foi se tornar ainda melhor na sua arte. Mudou-se para Nova York, onde estudou e profissionalizou-se definitivamente, para depois retornar uma cantora e tanto, com ainda mais certeza do que quer levar ao público, escolhendo a dedo um repertório que transmita o que acredita. Nessa época, lembro que, num e-mail, perguntei por que havia adotado o nome Duah. ;Porque não pode ser da terra;, respondeu.

A brincadeira, para mim, foi a prova de Joana nunca abriu mão de voar, embora sempre tenha encontrado várias mãos que a tentaram conter, como acontece com todas as mulheres que ousam ser protagonistas. Ver que Joana, que desde os 13 anos escreve e compõe, começa agora a brindar o público com suas próprias criações me enche de alegria e orgulho de ser merecedor de sua amizade e carinho. Voa, Joana Duah, Joana do ar...