Pela segunda vez, investigadores da Polícia Civil e promotores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) prenderam integrantes de uma organização criminosa acusada de grilagem de terra em Ceilândia. Eles integram uma quadrilha, com participação de milicianos, que há pelo menos uma década atua no Sol Nascente. O grupo demarca terreno público, faz loteamento e tenta lucrar em cima de invasões de terras do governo. Ontem, na segunda fase da Operação Horus, oito pessoas foram presas. Três estão foragidas.
Agentes cumpriram, ainda, 12 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Entorno do DF, como Ceilândia, Samambaia, Taguatinga, Vicente Pires e Santo Antônio do Descoberto, a aproximadamente 50kms de Brasília. Diferentemente da primeira fase, ocorrida em maio (leia Entenda o caso), dessa vez os alvos não eram policiais. Trata-se de civis que atuavam como grileiros de terra.
De acordo com a investigação, esse grupo era responsável por coordenar e executar as invasões e promover a venda dos terrenos. Os sete policiais presos em maio, por sua vez, atuavam em outra frente da organização criminosa. Segundo a Polícia Civil, os militares davam suporte a um braço armado do grupo envolvido na grilagem, suspeito de cometer ameaças e até homicídios. Os policiais levados para a cadeia na primeira fase da operação atuavam para proteger e dar suporte a esses criminosos. Eles atualmente respondem ao processo na Auditoria Militar.
Os grileiros e milicianos entraram na mira da Polícia Civil há pelo menos oito anos, quando as investigações começaram em 2011, em âmbito da 19; DP (Setor P Norte ; Ceilândia). Mas o inquérito acabou transferido para a Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Cecor).
Além de agentes e delegados, participam da operação promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Na segunda fase dos trabalhos, participaram 80 agentes da unidade especializada da Polícia Civil e representantes do MPDFT. O Ministério Público ofereceu denúncia contra os grileiros em agosto deste ano. O caso tramita na 2; Vara Criminal de Ceilândia.
Os presos dessa segunda fase responderão, por enquanto, por organização criminosa armada, mas investigadores não descartam envolvimento de outros crimes, como grilagem de terra.
Invasões
A quadrilha agia em etapas. Primeiro, os milicianos agiam para expulsar quem tinha a posse dos terrenos. Um dos episódios relatados à polícia ocorreu no Condomínio das Acácias, em 2015, quando um sargento da ativa obrigou um morador a deixar a própria casa.
Segundo as investigações, o núcleo formado por policiais tinha uma subdivisão de tarefas: alguns faziam o contato direto com grileiros e membros de outra organização criminosa chamada Comando Sol Nascente, e havia militares designados para vender e regularizar os lotes invadidos. Em outra vertente, integrantes da quadrilha negociavam os lotes. Em muitas ocasiões, os PMs usavam o poder de suas armas e fardas para constranger e ameaçar compradores.
Depois da saída dos moradores, os grileiros atuavam na área, abrindo caminho com tratores, instalando serviço de água, luz e fazendo benfeitorias nos setores para priorizar os compradores.
Entenda o caso
Esquema armado
A primeira fase da Operação Horus prendeu sete policiais militares acusados de integrar uma quadrilha de grileiros com atuação na região do Sol Nascente, em Ceilândia. Segundo as investigações, os milicianos invadiam terrenos, ameaçavam moradores e cobravam pela segurança de imóveis. José Cláudio Bonina, suplente de deputado distrital e PM, foi alvo de mandado de busca e apreensão. Um dos presos, João Batista Firmo Ferreira, é irmão da mãe da primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro.
Os sete sargentos presos são lotados ou atuaram no 8; e no 10; Batalhão da PM, responsáveis pelo policiamento ostensivo na região do Sol Nascente. Três dos alvos são da reserva da PM e quatro da ativa. Segundo a denúncia, a organização criminosa teria cometido crimes de loteamento ou desmembramento de solo, extorsão e até homicídio, sempre relacionados à grilagem de terras. No total, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão.