Jornal Correio Braziliense

Cidades

Outras três mortes são investigadas

A Polícia Civil suspeita que o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, esteja envolvido no desaparecimento de mais três mulheres. Dois casos aconteceram em 2013 e um em 2015



O cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, pode estar envolvido em mais três casos de mulheres desaparecidas no Distrito Federal, de acordo com a Polícia Civil. Além de ser assassino confesso da advogada Letícia Curado, 26, e da auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47, mais 12 suspeitas, entre homicídios, estupros e assédios, pesam contra ele. Agora, os agentes apuram se o investigado está envolvido em duas ocorrências de 2013 e uma de 2015, que seguem sem solução.

Policiais da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) identificaram um perfil específico de vítima: mulheres sozinhas em paradas de ônibus. Nos três casos, as desaparecidas tinham costume de usar transporte pirata. Os policiais conseguiram traçar esse modo de agir a partir da morte de Genir, que desapareceu em 2 de junho e teve o corpo encontrado 10 dias depois.

;A análise de ocorrências de desaparecimento é diária. Nesses casos que serão reabertos, já havíamos traçado o perfil (do suposto assassino). Quando aconteceu a morte de Genir, e em seguida o assassinato da advogada (Letícia), identificamos um padrão;, explicou o titular da DRS, Leandro Ritt. Segundo o delegado, os três casos passarão a ser investigados pela Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP).

Na última quinta-feira, Marinésio compareceu à DRS para prestar depoimento. Ao Correio, o delegado informa que o cozinheiro não coopera com as investigações. ;Ele não fala nada além dos homicídios praticados contra Genir e Letícia;, destacou. Na ocasião, o cozinheiro também foi confrontado sobre o desaparecimento da empregada doméstica Gisvania Pereira dos Santos, 33, que sumiu em 6 de outubro do ano passado, em Sobradinho, onde morava com a família. Contudo, negou as acusações.



Ocorrências

Entre os novos casos, o mais antigo é o de Fabiana Santana Alves, que desapareceu em 2013. O delegado não informou a idade dela, mas disse que a vítima tinha menos de 30 anos. No dia em que sumiu, ela estava na Estrutural, lugar onde morava, e foi ao Itapoã visitar a casa de um irmão. Ao chegar na cidade, ela teria entrado em um veículo que fazia transporte pirata. Os policiais suspeitam que o motorista do carro seria Marinésio. Até hoje, ela não foi encontrada.

A outra ocorrência de 2013 é sobre Vanessa da Silva Cardoso. Ela saiu de Planaltina para uma entrevista de emprego no Plano Piloto. Os investigadores confirmam que ela ainda passou pela avaliação da empresa em que tentava contratação, porém, não retornou para a residência. De acordo com os policiais, no trajeto de volta para casa, ela teria entrado, também, em um carro que fazia transporte irregular rumo à região administrativa onde ela morava. Além disso, como no caso anterior, a vítima tinha menos de 30 anos.

Das três novas supostas vítimas de Marinésio, a única que teve o corpo encontrado foi Antônia Rosa Rodrigues Amaro, 47 anos. Moradora de Sobradinho, a vítima saiu de casa em 16 de março de 2015 e desapareceu. Investigação da Polícia Civil mostra que ela chegou a descer em uma parada de ônibus, no Lago Sul, onde trabalhava como babá. Entretanto, o condomínio residencial em que ela deveria ir, ficava a 1,5km de distância do ponto de desembarque. Para fazer o trajeto, ela entrou em um carro de motorista de transporte pirata, como costumava fazer todos os dias.

Um ano depois, o corpo de Antônia Rosa foi encontrado em córrego do Paranoá, e o caso seguiu sem solução. ;Podemos observar que todas são mulheres que faziam uso de transporte público e estavam na área de atuação de Marinésio. Por isso, levantamos a suspeita que ele tenha sido o autor das mortes;, ressalta Ritt.

Laudo de Letícia

O resultado que indicará se Letícia sofreu violência sexual por Marinésio ficaria pronto ontem, no entanto, os peritos concluíram apenas o exame de corpo cadavérico. Agora, os investigadores aguardam as informações laboratoriais para concluir a análise. Fontes da Polícia Civil confirmaram ao Correio que o parecer final deve ser entregue pelo Instituto de Criminalística (IC) da corporação até amanhã.

Além do laudo cadavérico de Letícia, os peritos produzem análise sobre o carro de Marinésio, usado para abordar as vítimas, e sobre o local onde o corpo da advogada foi encontrado. O material genético do cozinheiro será cruzado com o banco de dados de mulheres violentadas e mortas na capital para apontar possíveis crimes cometidos por ele.

Surpreendidos

Colegas de trabalho de Marinésio ainda tentam assimilar o homem que afirmou ter matado Letícia e Genir, ao cozinheiro tranquilo e simpático que conheceram há cerca de três meses. O suspeito começou a atuar em uma rede de supermercados no Lago Norte, no horário da manhã, após ficar um ano e dois meses desempregado.

Segundo depoimento à reportagem, uma cozinheira de 36 anos disse que Marinésio era um homem tranquilo e simpático. No entanto, mantinha apenas amizades femininas. ;Antes de os casos estourarem, percebemos que ele ficava perguntando onde as mulheres moravam, que podia dar carona se elas fossem de Planaltina ou do Paranoá. Mesmo quando negamos, ele continuava insistindo. Isso ficou meio estranho entre a gente aqui;, detalhou.

Ela também relatou que no dia em que Marinésio matou Letícia Curado, em 23 de agosto, ele estava de folga do supermercado. ;Quando lembro de tudo, vejo o quão frio e bom ator ele é. No sábado de manhã cedinho, ele estava aqui (no estabelecimento) tranquilo, conversando e rindo, como se nada tivesse ocorrido. Só quando comentamos sobre o desaparecimento da advogada é que ele ficou calado, no canto dele;, relembrou a mulher. ;Como alguém pode matar uma pessoa e vir trabalhar no outro dia, como se fosse a coisa mais normal do mundo? Estamos todos perplexos com tudo isso;, finalizou a cozinheira.

; Colaborou Isa Stacciarini