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Cinco idosos são vítimas de golpes por dia no DF; saiba como se proteger

Pessoas mais velhas são alvos preferenciais da ação de organizações criminosas. Especialistas dão dicas de como os idosos e suas famílias pode evitar a ação de golpistas

. Eles instalavam dispositivos para reter os cartões das vítimas. Depois, homens uniformizados se aproximavam fingindo querer ajudar os idosos, oferecendo-lhes um número de telefone da agência. No entanto, o número era de um outro núcleo da organização criminosa, responsável por conseguir as senhas dessas pessoas.

"A quadrilha tinha uma operação complexa, mas o que chama mais atenção é a escolha das vítimas. Eles relataram que a ação era focada nos idosos justamente pela vulnerabilidade", explica o delegado Tiago Carvalho, responsável pelo desmantelamento da quadrilha. As investigações descobriram que o grupo atuava no DF desde 2017, quando os primeiros casos foram registrados, e pode ter lucrado até R$ 1 milhão.

Como se proteger

Os especialistas orientam que a melhor maneira de evitar a armadilha é ficar atento e não hesitar em pedir ajuda a um familiar ou pessoa de confiança antes de tomar qualquer decisão, especialmente quando envolver o comprometimento de renda. Além disso, nunca aceitar a ajuda de estranhos que não sejam funcionários do banco devidamente identificados e evitar utilizar caixas eletrônicos à noite. É importante também sempre dar preferência aos caixas localizados em locais fechados, com segurança e maior movimento de pessoas.

"A dica é desconfiar e buscar educação. Não falo de educação clássica, a da escola, pois pessoas com nível superior também estão vulneráveis. Falo de educação específica contra golpes financeiros. Quando você tem um nível de educação financeira, é mais difícil cair em fraude", recomenda José Luiz Bianco Junior, presidente do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal.

Outra dica Bianco é não oferecer nenhum tipo de informação por telefone. "Você pode orientar a pessoa idosa a dizer que quem mexe com o dinheiro é o filho ou a esposa, ou ainda que vai passar o telefone para outra pessoa. Esse simples ato já pode desarmar o golpista, que vai saber que a vítima não está sozinha", orienta.

É preciso também ter cuidado redobrado com prestadores de serviço (técnicos de telefonia, TV paga e internet) que aparecem sem ter agendado o serviço, e não fornecer qualquer informação sobre aposentadoria ou pensão por telefone, já que o INSS só faz recadastramento dos aposentados pessoalmente.

Outro lembrete é nunca, em hipótese alguma, anotar a senha no cartão. "Conheço pessoas com nível de educação considerável que usam o cartão de crédito de forma errada. Dificultar o acesso a senhas é importante e, para os idosos que não fazem compras pela internet, uma forma de evitar a ação de golpistas é raspar o código de segurança que fica atrás do cartão", acrescenta.

Fui vítima de golpe. O que devo fazer?

Vítimas de golpe podem se sentir intimidadas e envergonhadas ao perceber que foram enganadas. No entanto, é importante procurar imediatamente uma delegacia de polícia para relatar o fato, orienta o titular da 9; DP. Só assim a polícia poderá iniciar o processo de investigação. "Eles ficam constrangidos porque o golpe sempre vem de uma relação de confiança que é quebrada, mas é importante dizer que a vítima não tem culpa, os criminosos são especializados, treinados para conquistar confiança e enganar."

Carvalho explica que, em casos assim, dificilmente os valores extorquidos são devolvidos. "Via de regra, os criminosos fazem lavagem de dinheiro, gastam os valores muito rápido, então, dificilmente consegue-se chegar a esses valores para devolver às vítimas. Mas também tentamos sufocar essas pessoas financeiramente: bloqueamos contas, apreendemos imóveis, veículos e fazemos o sequestro de bens, tudo para que se tenha alguma possibilidade de ressarcimento", comenta o delegado.

Em todo o Brasil, o Disque 100, serviço do Ministério dos Direitos Humanos, contabilizou 37.454 denúncias de violações contra a pessoa idosa em 2018. Casos de negligência contra idosos e de violência psicológica lideram as denúncias (26,5%), seguidos por abuso financeiro e econômico (19%). No caso dos golpes bancários, o delegado é incisivo em afirmar que o alvo preferencial é a pessoa idosa. "A maioria das vítimas de golpes de banco é idosa. Posso dizer que esse número chega a 99%", comenta Carvalho.

O crime de estelionato, definido no artigo 171 do Código Penal Brasileiro, tem pena de 1 a 5 anos de reclusão além de multa. No caso do crime praticado contra idosos, a pena dobra, e pode chegar a 10 anos de prisão.