Cristiane Mendes de Sá, 41 anos, é a 19; vítima de feminicídio no Distrito Federal. Ela foi morta a facadas, no meio da rua, pelo companheiro, Antônio Carlos da Silva, 46, na QR 413, em Samambaia Norte. O casal namorava havia quatro anos e, segundo a família da vítima, o relacionamento era conturbado por causa dos ciúmes do acusado. O pedreiro foi preso logo após o crime, cometido na noite da última quinta-feira.
À polícia, Antônio disse que chegou do trabalho por volta das 19h e foi até a casa da namorada. Eles teriam começado uma discussão e, em seguida, ele deixou a residência de Cristiane. ;Às 23h, ele voltou ao local, e ela não estava. Como ele tinha a chave do imóvel, entrou e pegou uma faca. Minutos depois, encontrou-a na rua, e eles começaram a discutir novamente, quando deu os golpes de faca na namorada;, detalhou o delegado-chefe da 26; Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), Cícero Jairo.
Câmeras em frente à casa onde o crime ocorreu registraram toda a ação de Antônio. As imagens mostram ele correndo atrás da mulher e esfaqueando-a várias vezes. Quando ele se afasta, Cristiane cai no asfalto. Segundos depois, ele retorna, aproxima-se da vítima e sai novamente. Quando volta pela terceira vez, vizinhos próximos começaram a agredi-lo com chutes e socos. O suspeito não tentou fugir e ficou no local do crime até a chegada da Polícia Militar. Ele foi preso e levado para a 26; DP. Antônio não tinha passagem pela polícia.
Agressões
;Tranquila.; Assim os vizinhos de Cristiane se referem a ela. Ao Correio, a madrasta da vítima, Dulcinea Lima, 46, contou que a enteada nunca arrumou confusão. ;Andava de cabeça baixa e sempre muito quieta. Até com a gente ela falava pouco;, ressaltou a atendente. As duas frequentavam igrejas evangélica.
Cristiane passava o dia cuidando e limpando a casa e saía à noite. Ela dividia um lote próprio com dois irmãos. Cada um tinha uma residência. ;Por um tempo, ela morou com Antônio, mas, como é usuário (de entorpecentes), ele delirava muito e diversas vezes perdia o controle. Ela contou isso para o meu marido, e ele a tirou de lá e deu a casa para ela morar;, afirmou Dulcinea.
A família não aprovava o relacionamento. Segundo a madrasta, as brigas eram constantes. Antônio agrediu Cristiane várias vezes, mas ela nunca o denunciou. ;A gente pagava as contas dela, de água e luz, comida, tudo, mas nunca entregamos dinheiro vivo para ela, porque sabíamos no que ia dar. E ele (Antônio), sempre levava o que ela queria; por isso, ela nunca registrou boletim de ocorrência;, revelou Dulcinea.
Mãe de seis filhos, Cristiane tinha contato com apenas três deles, que moram com os avós paternos, em Samambaia. A mais nova, de 5 anos, era muito apegada à mãe. ;Apesar do vício, ela era bastante participativa na vida deles. Mas tinha a consciência de que não tinha saúde mental para cuidar das crianças;, disse a madrasta.
Preso
Na manhã de ontem, a família de Cristiane esteve no Instituto de Medicina Legal (IML) para reconhecer o corpo da vítima. ;Quando chegamos lá, demos de cara com o Antônio. Eu fiquei muito incomodada com a presença dele, comecei a gritar. A minha vontade era de avançar nele, mas os policiais me seguraram. A gente quer justiça, que ele pague pelo que fez. Ele é um homem grande e foi muito covarde em agredir uma mulher magrinha e pequena como a Cristiane;, lamentou Dulcinea.
Antônio está preso e responderá pelo crime de homicídio, com a qualificadora de feminicídio. Passará por audiência de custódia. Caso seja condenado, pode cumprir pena de 12 a 30 anos de reclusão.
Artigo
por Mônica Chagas dos Santos e Aline Portela Bandeira
Sentimos medo!
A vítima
; Cristiane Mendes de Sá
; Tinha 41 anos
; Morava em Samambaia Norte
; Deixa seis filhos
Artigo
por Mônica Chagas dos Santos e Aline Portela Bandeira
Sentimos medo!
;Namorado mata mulher a facadas no meio da rua em Samambaia;. ;Cozinheiro preso confessou ter assassinado Letícia Sousa;. ;Polícia trata caso de mulher morta em Vicente Pires como feminicídio;.
Infelizmente, não são casos isolados! De janeiro a junho de 2019, 14 foram as vítimas de feminicídio no Distrito Federal, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Os dados são alarmantes: Brasília, Taguatinga e Gama disputam as três primeiras posições no ranking de regiões administrativas mais perigosas para ser mulher, concentrando, juntas, mais da metade dos crimes em todo DF. O mais trágico disso é que 65% dos autores são os próprios maridos/companheiros, que, em quase totalidade dos casos, dividem o mesmo teto que as vítimas.
E o maior motivo, qual seria? Ciúme! À primeira vista, atitudes que justificam o ;medo de perder;, ;excesso de amor;, ;tempero do relacionamento; podem parecer muito românticas, se não ocultassem o descontrole emocional do agressor. Já conhecido por advogados, policiais, juízes e promotores, tal descontrole faz parte do ciclo da violência doméstica, que nada mais é do que conjunto de comportamentos capaz de identificar relacionamentos abusivos, caracterizados por uma sequência de ofensas, críticas duras ao trabalho ou à aparência da mulher (fase 1, aumento da tensão), seguidas de agressão psicológica e/ou física (fase 2, ataque violento), e posterior etapa perversa, a de promessas de mudança de comportamento, (fase 3, lua de mel), na qual o parceiro se redime com a alegação de que foi um único descontrole.
Após essa fase, retorna-se à fase 1, num looping cruel, que, muitas vezes, se encerra com a morte da vítima. Se você se identificou com alguma dessas partes, procure ajuda.
Diante dessa constatação, o objetivo da Lei n; 13.104/2015 (Lei do Feminicídio) é reduzir as taxas de homicídio feminino, com penalidade de reclusão de 12 a 30 anos, tornando-as inafiançáveis e imprescritíveis, ou seja, mais rígidas no país, que é o sétimo onde mais se mata mulher no mundo.
Fiquem atentas ao mínimo sinal de agressão: afastem-se, liguem no 180, façam uso das medidas protetivas, falem com alguém de sua confiança, pois o comportamento do agressor não melhora.
E a todos nós, cidadãos, briga de marido e mulher se mete a colher, sim! Seja empático, acolha, ofereça ajuda, talvez aquela vítima não tenha uma rede de apoio para sair do ciclo de abuso. Façamos nós a nossa parte para um mundo menos violento para as nossas filhas.
Mônica Chagas dos Santos e Aline Portela Bandeira,
advogadas